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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Festinha de governador do Rio é afronta a quem há um ano celebra pelo Zoom

Celebração que marcou os 42 anos de Castro foi realizada em Itaipava, na região serrana do Rio, na tarde de ontem (28), e teria causado fila de 12 veículos na porta de uma casa, segundo vizinhos - ADRIANO ISHIBASHI/ESTADÃO CONTEÚDO
Celebração que marcou os 42 anos de Castro foi realizada em Itaipava, na região serrana do Rio, na tarde de ontem (28), e teria causado fila de 12 veículos na porta de uma casa, segundo vizinhos Imagem: ADRIANO ISHIBASHI/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista de Universa

29/03/2021 14h11

Como todo mundo já sabe, o Brasil vive o pior momento da pandemia, com cerca de 3 mil mortos por dia e hospitais colapsados pelo país afora. No Rio de Janeiro as coisas não são diferentes, aliás estão bem graves: nesse momento, 710 pessoas estão na fila de espera dos hospitais. Por essa razão, o governo do estado criou um "feriado sanitário" entre os dias 26 de março e 4 de abril, com interrupção das aulas e de algumas atividades, como ida à praia, shows e exposições. Foram proibidos também "eventos de caráter social, como casamentos e aniversários".

E o que o governador do estado, o Cláudio Castro, o mesmo responsável por essas medidas, fez no feriado? Uma festa de aniversário. Sim, o mesmo governador que pede para que as pessoas fiquem em casa resolveu fazer um convescote.

A tal festinha foi descoberta por colegas jornalistas, que receberam informação sobre a presença de 12 carros em frente a sua casa de veraneio em Itaipava (zona serrana do estado) no domingo (29). Logo depois dessa informação, o governador foi cobrado pelo Twitter. A conta oficial do governo do estado do Rio confirmou o encontrinho, mas negou que o governador tivesse desobedecido a regra que ele próprio criou:

"O governador Cláudio Castro almoçou com sua família e a de sua esposa nesse domingo, véspera de seu aniversário. Não houve aglomeração ou festa com convidados. Os carros eram de familiares e de sua escolta, garantida pelo cargo que ocupa, com quatro veículos".

Vamos supor que eles estejam falando a verdade e que sua família ocupe oito carros e os seguranças, quatro. O governador teria feito uma festa, reunido famílias, pessoas - algo que muitos de nós não fazem há um ano. Imagina, juntar nossa família com a de nossos maridos ou esposa, isso é algo que a gente nem lembra como é!

Enquanto o governador celebra em família (saudades!), a gente passou o último ano fazendo festas pelo zoom e comemorando nossos aniversários sozinhos em casa. Crianças celebraram festinhas só com os pais e avós cantaram parabéns por chamada de vídeo. Triste, né? Sim, mas fazer o quê? Estamos em uma pandemia mundial, uma tragédia. Não tem alternativa. E, agora, mais que nunca, não dá para celebrar.

O estado do Rio (da onde eu sou) está perto do colapso. Meus familiares e amigos estão trancados em casa, já que sabemos que a situação é dramática. Também não sabemos quando encontraremos nossas famílias de novo. Mas sabemos que somos privilegiados se nenhum deles morreu por causa do vírus.

Qualquer cidadão que fizer uma festinha nesse momento está errado. E, repito, até as crianças pequenas já sabem disso. Se quem faz a festa é famoso e influente, pior ainda, já que está dando o exemplo errado (por mais que "sigam os protocolos e façam testes", como os egoístas das festinhas sempre repetem).

No caso de um governador, como definir o quanto irresponsável é essa atitude? Quem vai entender que não pode ir para a praia, fazer um churrasco, fazer reuniões ou festinhas o próprio governador está fazendo o oposto?

Nos últimos dias, nós, pessoas comuns, que só encontramos familiares pelo WhatsApp, não temos comemorado nem por ali, mas sim trocado mensagens de preocupação ("não tem hospital!"), para convencer familiares e amigos a ficarem em casa o máximo de tempo possível. Será que o governador não tem esse tipo de amigo ou familiar? Fica em casa!