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Nina Lemos

Recorde de vereadoras trans é recado para a turma do "meninos vestem azul"

Bandeira trans - Getty Images
Bandeira trans Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

16/11/2020 15h37

O Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis no mundo. Segundo levantamento da ONG Transgender Europe, 868 pessoas trans foram assassinadas no Brasil entre 2006 e 2019. A violência não tem melhorado, pelo contrário. Entre janeiro e agosto deste ano, foram 129 assassinatos, segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

Esses dados fazem com que o país seja considerado o pior lugar do mundo para ser trans. A sensação de pavor aumentou com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que faz declarações abertamente homofóbicas. Semana passada, o presidente disse em um discurso exaltado que o Brasil "não podia ser um país de maricas". Em meio a tantos dados assustadores, um respiro. Uma resposta a tanto ódio veio nas urnas.

Nunca na história tantas mulheres trans foram eleitas no Brasil. Segundo a Antra, são pelo menos 13 em municípios de todas as regiões do país. Uma vitória e tanto não só para as trans, mas também para todo mundo que acredita em diversidade e em respeito a orientação sexual de cada um.

Quem poderia imaginar que o país que tem um governo ultra conservador e onde o ódio a trans mata tanta gente seria um país com a política mostrando tanta diversidade dois anos depois da eleição de Bolsonaro ?

Há um ano e meio, ao assumir a pasta de ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves gritou empolgada: "agora é assim, menina veste rosa e menino veste azul." O sonho da ministra, além de obviamente não realizado, foi soterrado nesta eleição. O Brasil é um país diverso e colorido e, pelo jeito, quer continuar sendo assim

De acordo com os números da Antra, o número de vereadores trans mais que dobrou. Nas últimas eleições municipais o número de trans eleitos foi de 6. Esse ano, 281 candidatos se identificaram como trans, segundo a associação.

O boom de candidaturas fez com que trans quebrassem. Em São Paulo, foram eleitos, pela primeira vez, um homem e uma mulher trans na mesma eleição. Erika Hilton, do PSOL, e Thammy Miranda, do PL, ficaram entre os dez mais votados. Em Belo Horizonte, Duda Salabert, do PDT, teve 37.613 votos. Esse número faz com que ela vire a candidata mais bem votada da história na capital mineira e a mais votada desse ano.

Em, Aracaju, Linda Brasil, do PSOL, também foi a candidata mais bem votada de todos.

Se os homens brancos ainda são maioria entre os eleitos? Sim, mas não parece ser por muito tempo. Basta uma olhada básica nas listas de eleitos Brasil afora para ver que a hegemonia de candidatos com o perfil "branco de cabelo grisalho" está com os dias contados. Que assim seja.