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Nina Lemos

Exagero na volta à normalidade fará Brasil pagar preço alto como a Europa?

Movimento na Avenida Paulista, na capital paulista, em um domingo de outubro   - Ananda Migliano/Ofotográfico/Folhapress
Movimento na Avenida Paulista, na capital paulista, em um domingo de outubro Imagem: Ananda Migliano/Ofotográfico/Folhapress

Colunista do UOL

11/11/2020 04h00

Já faz algum tempo que parece que a pandemia chegou ao fim no Brasil. Nas redes sociais, passei a ver cada vez mais fotos de amigos em festas, viajando, indo a restaurantes. Famosos voltaram a postar fotos de festas na praia. Parece que o vírus foi embora.

Tanta "normalidade" parece, infelizmente, cobrar seu preço. Assim como aconteceu na Europa, o Brasil pode ver um aumento nos casos causados, entre outras coisas, por "comportamento excessivamente normal", como se não existisse mais pandemia,

Depois desse relaxamento, há indícios de que em cidades como São Paulo, por exemplo, os casos voltam a aumentar. "Nos últimos quinze dias passamos a notar aumento dos casos", diz a infectologista Barbara de Abreu Pereira, infectologista de um hospital privado referência em São Paulo. Ontem, a colunista Mônica Bergamo publicou que hospitais já mostram aumento nas internações em UTI.

Segundo Barbara, a chamada "volta à normalidade", essa vida parecida com a de antes que vemos nas fotos, pode, sim, ser uma das responsáveis pelo aumento do nível de internações. "A sensação de que voltamos à normalidade é muito perigosa, pois são nesses momentos que cometemos mais descuidos e podemos nos contaminar e contaminar outras pessoas", diz.

E, sério, quem aí flexibilizou bastante o isolamento e não sentiu que, aos poucos, tudo vai passando a ser normal, e daí, ops, a gente se descuida?

Aconteceu comigo. Moro na Alemanha, onde o lockdown foi relaxado em maio (e agora estamos trancados de novo). Quando voltei a frequentar restaurantes, no início ficava obcecada com o distanciamento social. Com o tempo, passei a ficar relaxada e logo já estava com preguiça de procurar um restaurante vazio se o que eu escolhia estava cheio...

A gente começa a relaxar aos poucos. Até que.. já era.

No caso da Europa, paga-se hoje um preço caríssimo por um verão onde a pandemia quase foi esquecida. Nas férias escolares, milhares saíram em viagens de férias (de avião) e lotaram as praias da Espanha, como fazem todos os anos. Os clubes noturnos continuaram fechados, mas as festas nos parques bombaram, restaurantes e barzinhos lotaram.

Hoje, cá estamos, fechados não sabemos por quanto tempo, provavelmente por todo o inverno (que vai até março).

Os números de casos novos por dia são maiores do que nunca e, em países com Itália e França, os hospitais já estão perto de colapsar. Ontem, a Itália registrou 35.098 casos novos e 580 mortes em um dia. No caso do Brasil, ainda não se sabe o que pode acontecer em uma segunda onda. "Mas ainda veremos aumento dos números", diz Barbara.

Pois é. A pandemia, seja na Europa ou no Brasil, não acabou. Tanto que Barbara, que trabalha diariamente em uma UTI cuidado de pacientes com covid recomenda o mesmo que os médicos alertavam no começo da pandemia:

"Além do uso de máscara, precisamos reforçar a higiene das mãos e o distanciamento das pessoas. Evite lugares onde seja impossível manter esse distanciamento. E só saia de casa se for realmente necessário." Sim. Ela falou para ficar em casa. É difícil, mas vida normal, só quando tiver vacina.

Vacina? Enquanto o mundo todo está empenhado na confecção de uma vacina que permita a volta à normalidade, a Anvisa decidiu que as pesquisas para o Coronavac deviam ser suspensas. O motivo parece ser uma briga política entre o presidente, Jair Bolsonaro, e o governador de São Paulo, João Dória. Não está fácil, é verdade.