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REPORTAGEM

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De enfermeira a influenciadora digital após um AVC: "Me reencontrei"

Aos 32 anos e com uma vida bastante ativa e saudável, a enfermeira Thais Cecilio sofreu AVC - arquivo pessoal
Aos 32 anos e com uma vida bastante ativa e saudável, a enfermeira Thais Cecilio sofreu AVC Imagem: arquivo pessoal

Colunista de Universa

30/03/2022 04h00

Aos 32 anos de idade, com uma vida bastante ativa e esmero nos cuidados com a saúde e a alimentação, a enfermeira Thais Cecilio não imaginava que um dia pudesse sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).

Apesar de ter casos de AVC na família (o pai e o avô tiveram AVCs isquêmicos, que são mais comuns e menos letais), essa não era, nem de longe, uma preocupação para ela. Mas aconteceu.

Na época, em outubro de 2020, no auge da pandemia causada pelo coronavírus, Thais coordenava uma equipe de enfermagem e se dedicava exaustivamente ao trabalho.

No dia 26 daquele mês, à noite, ao se deitar para dormir, ela sofreu uma dor de cabeça excruciante e pediu ao marido, o médico urologista Gabriel Campos, que a levasse com urgência ao hospital mais próximo. Naquele momento, cada segundo faria diferença. Thais estava sofrendo um AVC hemorrágico, mais raro (acontece em 15% dos casos) e mais grave.

AVC: a segunda maior causa de mortes no Brasil

O AVC, conhecido popularmente como derrame, é a interrupção brusca do fluxo de sangue para alguma região do cérebro. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 6 milhões de óbitos por AVC são registrados por ano em todo o mundo e, em países em desenvolvimento, como o Brasil, essa é a segunda maior causa de mortes - atrás apenas de doenças cardiovasculares.

"Acredito que o estresse foi um potencializador para que eu sofresse o AVC"

"Ninguém espera que uma pessoa jovem e cheia de planos vá sofrer um AVC tendo uma vida saudável. Eu era super focada na academia, só bebia socialmente, não fumava, não usava drogas, me alimentava super bem. Nada nos prepara pra viver um momento como esse", reflete.

Na noite em que aconteceu, Thais lembra que estava pensando no trabalho e com muitos problemas. "No meio da pandemia, meus superiores disseram que os salários dos enfermeiros iriam diminuir. Como coordenadora, eu tinha a missão de passar essa informação para eles e isso acabou comigo, porque eu não aceitava essa situação. Fiquei remoendo esse sentimento, mais as jornadas exaustivas que eu tinha", relembra. Ela acredita que o estresse foi um potencializador para que sofresse o AVC.

A lesão atingiu o lado esquerdo do cérebro de Thais, o que fez com que o lado direito do corpo dela ficasse paralisado. Após passar por uma cirurgia de emergência, ela ficou sete dias em coma e passou outros 40 dias hospitalizada.

"Fiquei 25 dias sem conseguir mexer nada no meu corpo, não tinha movimento nenhum. No leito, comecei a mover a perna, dava uns passinhos dentro do quarto. Quando consegui andar pelo corredor do hospital foi uma alegria enorme! De lá pra cá, foi só evolução"

Vida nova

Quando teve alta, Thais deixou o hospital em uma cadeira de rodas. Ela também precisou usar fraldas durante alguns dias. "Eu precisei reaprender muitas coisas e viver uma vida totalmente diferente da que eu vivia antes do AVC. Foi um baque, ainda mais por não saber como seria a minha vida fora do hospital. Eram muitas incertezas? Eu não andava, não falava e não sabia o que me aguardava na minha nova vida. Mas sempre tive pensamento positivo e muita fé de que ia dar certo. O apoio dos meus familiares e amigos foi e é muito importante neste momento do tratamento."

Thais conta que, após o AVC, passou a levar uma vida ainda mais saudável, e a dar valor às pequenas coisas como tomar banho, comer de garfo e faca, escovar os dentes e pentear o cabelo.

"Me reencontrei. E passei a admirar ainda mais o que eu já admirava antes: a minha família e meu marido, que não soltou a minha mão."

Thais se emociona ao falar de Gabriel. Os dois estão juntos há quatro anos. "O apoio dele foi e tem sido fundamental. O mundo podia acabar, mas ele ali do meu lado me deu a certeza de que eu não estava sozinha e que eu tinha que lutar para me recuperar e retomar os nossos sonhos."

De enfermeira a influenciadora

O trabalho nas redes, Thais começou após o AVC. Além de um canal no YouTube, a influenciadora também fala sobre saúde, superação e mostra sua rotina no Instagram, onde tem mais de 130 mil seguidores.

"Acredito que hoje o meu propósito seja ajudar pessoas que passaram pela mesma situação e ajudar as pessoas a perceberem que muitas vezes reclamamos da vida e não temos motivos, de fato, pra reclamar ou questionar a Deus."