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REPORTAGEM

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Elas estão por trás das páginas lésbicas de maior sucesso do Instagram

Tuane Almeida, da @somoscoloridas: 125 mil seguidores - Reprodução/Istagram
Tuane Almeida, da @somoscoloridas: 125 mil seguidores Imagem: Reprodução/Istagram

Colunista de Universa

04/03/2021 04h00

O coração partido fez com que Letícia Chaves, a Tita, criasse uma página no Instagram. "Eu tinha 15 anos e havia terminado com uma namoradinha. Tava a fim de conhecer pessoas novas e sair daquela bad", recorda a influenciadora, de 23 anos, de Campinas, São Paulo.

Com foco no humor lésbico, o perfil @elasporelasoff, idealizado por Tita, tem hoje mais de 380 mil seguidores na plataforma.

"Você é sapatão?"

"O que sempre me emociona é que com a página eu já ajudei diversas meninas. Quando me entendi, foi tão natural que apenas me aceitei e liguei o f*da-se pra opinião dos outros. Eu nunca cheguei a falar pros meus pais que eu era lésbica. Um dia minha mãe perguntou: 'Letícia, você é sapatão?'. Aí eu disse que era. Ela passou uns dias meio estranha, mas depois correu tudo bem. Hoje ela me apoia, me ajuda e me acompanha sempre", conta Tita.

Interação e laços

Criada há apenas um ano, a página @subsapatao, que mescla humor com uma espécie de Tinder, exaltando as mulheres que estão "na pista", já arrebatou mais de 178 mil seguidores. Sucesso que aconteceu por acaso.

"Eu havia sido mandada embora do emprego, no início da pandemia, e sabia do meu problema com crises de ansiedade em confinamento. Precisava de uma forma de interagir com o mundo e já vinha pensando em criar uma página. A partir daí, conheci um mundo de mulheres maravilhosas e isso me abriu muitas portas também", revela a carioca Jéssica Flor, de 31 anos.

Durante esse período, mais que um trabalho, a página foi também um alento. "Em agosto de 2020 perdi o meu pai e compartilhei com as seguidoras. Muitas me contaram um pouquinho de como foi perder alguém importante. Muitas estenderam a mão, mesmo de longe. Meu pai recebeu homenagens de meninas que nem o conheceram, mas que estavam ali para que eu não sentisse aquela dor sozinha. Criei laços inesperados e incríveis", celebra Jéssica.

"Queria descobrir o mundo de outra maneira. Dentro da igreja isso é pecado"

De família evangélica, Mah Lírio cresceu frequentado a igreja. A mãe, inclusive, era missionária de oração. "Desde criança eu tinha esse conflito. Aos 14, resolvi não viver no meio da igreja e ir para o meu caminho, porque era uma coisa muito forte. Desde pequena eu ficava com as minhas amiguinhas - e depois pedia perdão a Deus. Minha mãe meio que desconfiava que eu era lésbica, porque nunca me via com meninos. No começo foi um baque pra ela, mas ela sempre foi muito minha amiga, então aceitou", revela Mah, que mora na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro.

A página @poxasapataoof surgiu exatamente nessa época, há 13 anos, no Facebook (hoje, Mah tem 27 de idade).

"Eu sentia atração por mulheres e queria descobrir o mundo de outra maneira, então ficava na internet tentando conhecer pessoas. Dentro da igreja isso é 'pecado'. Então criei uma página fechada no Face e consegui reunir 100 mil sapatões", conta ela, que depois migrou do Facebook para o Instagram, onde é seguida por mais de 153 mil pessoas.

"Já chorei muito com seguidores"

Criada em 2018, a @somoscoloridas, idealizada pela paulistana Tuane Almeida, 31, traz memes e muitas histórias inspiradoras. "O intuito é levar empoderamento, humor, conscientização e acolhimento à comunidade LGBT. E tudo o que eu acreditava aconteceu. A média de crescimento é de 5 mil a 10 mil novos seguidores mensais", explica ela, sobre o perfil que tem atualmente 125 mil fãs.

"Busco atingir da forma mais leve possível. Já recebi inúmeras mensagens carinhosas, histórias que nunca foram escutadas e que mereciam atenção, e já chorei muito com seguidores me contando como foi o processo de descoberta e saída do armário. É claro que a página é só um grão dentre milhares de outras, mas sou grata pela oportunidade de ser influenciadora", diz.

Tuane conta que se assumiu lésbica aos 15 anos, mas desde os 12 já sabia de sua orientação. "Foi um processo com muitos questionamentos. Quando me assumi, tive plena convicção de que não seria fácil - visto que o preconceito é enraizado, mas consegui superar. No início, a aceitação da família foi difícil, mas hoje em dia é muito tranquilo. Tenho prazer em levantar a bandeira e ajudar todos que precisam. A página é o meu gatilho de luta diária."