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Maquiadora autodidata, ela explodiu no TikTok falando sobre relacionamentos

A maquiadora e influencer Ana Luíza d´Utra Vaz, a Supervulgar - Reprodução/Instagram
A maquiadora e influencer Ana Luíza d´Utra Vaz, a Supervulgar Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

11/11/2020 04h00

Fazendo makes e falando de relacionamentos, em apenas seis meses ela arrebatou quase um milhão de fãs nos aplicativos mais populares da atualidade. Só no TikTok são 750 mil seguidores. E foi justamente essa a plataforma que catapultou a paulistana Ana Luíza d´Utra Vaz, a Supervulgar, ao sucesso - ela também está no Instagram, Twitter, YouTube e apresenta um podcast.

"Jamais imaginei que eu, uma maquiadora, criando esse tipo de conteúdo sobre amor-próprio e relacionamentos, fosse ter uma repercussão tão grande. Pra mim, isso diz muito sobre como as mulheres se sentem hoje em dia", celebra a paulistana de 26 anos.

@Supervulgar

"Supervulgar é um nome que surgiu pra ser o meu username (nome de usuário nas redes) e descrever o meu estilo de maquiagem, que não é sutil. É uma coisa que é imponente e casou muito bem com os vídeos que eu faço e também com o tipo de pessoa que eu sou. Acho que reforça essa ideia de que ser vulgar, seja no sentido sexual, seja no sentido expressivo, não é uma coisa ruim pra uma mulher. A vulgaridade tem uma denotação que é muito ruim, mas que pode ser uma coisa positiva", explica Ana, sobre a origem do nome artístico.

Com um conteúdo orgânico e focado em experiências pessoais: do bullying que sofria na escola por causa da aparência às chacotas por seu Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), passando pelos relacionamentos "chernobilísticos" que já teve, Ana fala sobre tudo. Sem filtro.

Distúrbios alimentares e síndrome de impostora

"Tolerei muito abuso em amizades e relacionamentos. Quanto a namoros sérios, tive dois maravilhosos, com homens que foram muito bons pra mim. De verdade. Quanto aos outros com quem me relacionei, poucos valeram", expõe.

"Essa degradação que sofri plantou no meu subconsciente um ódio profundo por mim mesma, que se manifestou através de distúrbios alimentares aos 17 anos. Me colocar pra baixo é hábito, e eu trabalho pra combater minha síndrome de impostora na terapia - tratamento que comecei recentemente."

Supervulgar - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
"Se as pessoas se permitissem gostar do que são induzidas a mudar (esteticamente e em termos de personalidade), o mundo seria outro"
Imagem: Arquivo Pessoal

"Me aceitar como maquiadora foi muito difícil. Eu sempre fui muito artística, mas minha ideia de combater meu TDAH era através de conquistas acadêmicas. Não fui boa aluna no colégio, mas tive um excelente desempenho estudando arquitetura nos Estados Unidos, em 2012. Quando tranquei a arquitetura, em 2016, fiquei completamente derrotada. Meu namorado, nessa época, me ajudou muito a superar esse episódio. "

"Tive vergonha de admitir que meu futuro poderia não ser acadêmico"

Autodidata, Ana começou a se maquiar para ocupar o tempo livre após trancar a faculdade. "Até então eu passava apenas base, corretivo e rímel. Odiava cor no meu rosto. Mas fui aprendendo, sozinha, e sendo chamada para ajudar as amigas a se arrumarem para festas, e para ajudar em sets de produção. Fui chamada de 'maquiadora' muito antes de ser capaz de fazê-lo. Tive muita vergonha de admitir pra mim mesma que meu futuro poderia não ser acadêmico", conta ela.

"As mulheres sofrem muito mais com distorções de imagem, e compõem uma maioria massacrante de consumidoras da moda e de produtos e serviços de realce estético. E as redes sociais não ajudam com isso. Eu não imagino o que deve sofrer uma menina de 14 anos descendo os feeds", reflete Ana.

Para a maquiadora e influencer, a solução não está em "bordões açucarados de amor-próprio", mas na raiz da questão. "O que me ajudou a combater minha distorção foi o porquê. Por que eu queria ser magra? Porque de tudo o que eu era xingada na escola, a única coisa que eu não era é gorda. Eu me apeguei à minha magreza sem nem perceber."

maquiadora infância - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
"No colégio, sofri um bullying impiedoso. Foram oito anos de bullying incessante a respeito da minha aparência. Foi surreal. Me encontrar e quebrar esse mecanismo foi duro" 
Imagem: Arquivo Pessoal

Ana conta que considera seu corpo como um pilar de sua autoestima, mas agora o sustenta com uma dieta saudável para sua saúde mental, e não para o que o Instagram dita. "Tem dia que é difícil, tem dia que é natural. Mas o importante é me blindar do que ditam. Inclusive, sempre digo: questione tudo o que está em tendência, pois um executivo branco lucra com isso."

Ciclicidade da moda

Cirúrgica, ela alerta para a ciclicidade da moda. "Muito do que é moda hoje era cafona nos anos 90. Quem tinha plástica naquela época era cafona. E uma nova moda é o que se destaca: quando tudo fica igual, tem que mudar. O dinheiro tem que circular, né? Então agora é o nariz empinadinho, a harmonização, a boca grande, o corpo violão. Em breve volta o nariz marcado, a boca mais fina, o corpo mais natural. Oscila muito. E eu acho que qualquer procedimento que alguém queira fazer, tem que ser para se tornar mais si próprio, e não como todo mundo. Antes eu odiava meu nariz, hoje amo. É marcado, é imponente, é curvo, é forte. Trabalhar como maquiadora e ver tantos artistas e modelos diferentes me ensinou muito a apreciar diferentes belezas, e a singularidade de cada uma."