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Mayumi Sato

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Os flertes e a sexualidade livre de Anitta: Por que ela nos representa

Cantora virou notícia após flertar com um fã e revelar um crush em participante do BBB 22 - Fotos: Manuela Scarpa/Brazil News
Cantora virou notícia após flertar com um fã e revelar um crush em participante do BBB 22 Imagem: Fotos: Manuela Scarpa/Brazil News

Mayumi de Andrade e Silva Sato

Colunista de Universa

30/01/2022 04h00

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Na última semana, Anitta, que já revelou ser adepta da não-monogamia, virou notícia em diversos veículos de comunicação após flertar com um fã que assistia seu show no Rio de Janeiro e revelar um crush no participante Rodrigo do BBB 22.

Que a autora de "Show das Poderosas" faz jus ao título da música — é bem resolvida, dona de si e não se importa com os comentários nas redes sociais — não deveria nos espantar, mas para alguns não só espanta como vira notícia. Parando para pensar, o que a nossa reação sobre essas pautas diz sobre nós?

Um estudo conduzido na Inglaterra pela marca de brinquedos eróticos Ricky.com revela que cerca de 70% das estudantes universitárias entrevistadas já foram constrangidas por conta de sua conduta e liberdade sexual e, depois do ocorrido, sentiram que precisavam mudar seu comportamento.

Dentre as situações abordadas pela pesquisa, 74% das mulheres mencionaram episódios em que tiveram fotos ou vídeos íntimos expostos sem consentimento; 68% foram vítimas de boatos falsos sobre suas práticas sexuais; 52% foram zombadas por suas preferências e desejos; 33% foram taxadas de "masculinizadas" por gostarem de sexo casual enquanto 71% sofreram assédio físico.

Um dado preocupante mostra que 52% dessas situações de constrangimento e abuso foram praticadas por homens também em idade universitária, enquanto 34% foram ocasionadas por mulheres. Das vítimas, 18% contam ter sofrido com situações onde os próprios funcionários das universidades foram responsáveis culpando ou marginalizando a liberdade sexual, enquanto 39%, com medo do constrangimento, dizem que ainda se sentem desconfortáveis em falar sobre sexualidade com seus pais.

Não por acaso, 59% das mulheres entrevistadas contam que evitam falar abertamente sobre suas experiências sexuais, com medo de receberem um tratamento diferente daquele dedicado aos seus colegas homens.

Sororidade

E onde entra a Anitta nisso tudo? A grande maioria das mulheres, 95%, sente o quanto é importante que todas se apoiem e empoderem umas às outras para que juntas possam expressar e viver a sua sexualidade livremente, além de se posicionarem quando outras mulheres são constrangidas de alguma forma.

Ainda que, por um lado, as notícias sobre os flertes da Anitta representem um pensamento retrógrado e controlador sobre a sexualidade feminina, por outro, elas dão visibilidade a uma mulher que se expressa sem medo de julgamentos e se conecta a tantas outras que em algum momento foram diminuídas por isso. Anitta nos representa e esse pode ser um pequeno passo para uma mudança ainda maior.

Viver a nossa sexualidade de forma consciente, livre, com respeito e consentimento, deveria ser um direito de todas.

Ainda bem que temos Anittas nos ajudando a construir essa realidade por aí.

Mayumi Sato