Cansada evito aventuras, mas não resisti ao ato com show dos meus ídolos
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Vai de ti, Copacabana. Eu não ia. Nos próximos dez dias estreio uma peça e entrego uma série, ou seja, domingos atualmente são praticamente os reis da minha Roma particular. A quem, se possível, louvo na horizontal, em casa - e quase imóvel.
Com uma vida milimetricamente dividida há meses entre ensaios de teatro, produção de textos, filhos e aeroportos, tenho evitado mudanças, aventuras e até o noticiário. Estou sob uma agenda/equação de matemática avançada, contando fração de segundo e marcando hora até para chorar. E sei que não estou sozinha.
Mas a rua é uma sereia concreta que promete, cumpre e ainda oferece uma ou outra nuvem. Um chamado, como um grito de vocação, um alerta de filho, um grave do Arnaldo Antunes, ou um raio de amor. E como bem cantava Gal Costa, quando o amor diz "vem comigo", é melhor ir sem medo. Eu fui.
Cheguei em Copacabana por volta de quatro da tarde. Sozinha, com uma camiseta estampada com os rostos de Caetano e Djavan, me senti como se estivesse com o uniforme do Fluminense, vestida com o que em mim nunca mudou: a música do meu país, e o prazer de ver a cidade em que nasci ocupada por todo e qualquer tipo de gente.
No alto do trio elétrico, alguns metros da rua Sá Ferreira, meus ídolos se revezavam entoando seus clássicos. Gilberto Gil (e agora, sempre que o vejo, é como se Preta estivesse a seu lado), Chico Buarque, Paulinho da Viola, Geraldo Azevedo, Ivan Lins. A festa definitivamente estava para lá de imodesta.
No meio da multidão, cercada de pessoas que não conhecia mas com quem poderia varar a noite (a rua tem dessas coisas), fui abordada por duas mulheres. Marina e Sabrina me contaram que vieram de ônibus de São Paulo especialmente para o show-protesto. E que voltariam no mesmo dia, já que a segunda não perdoa. Nos abraçamos.
Até outro dia, ou melhor, até dez anos atrás, eu não era ligada em política. Adolescente, pulava o início do jornal, e ia direto para parte de cultura. Filmes, espetáculos, músicas, entrevistas, exposição, eu sou um ser das artes. E nem sempre tenho estômago para o mundo, embora saiba da necessidade de adquiri-lo.
Mas as vezes a cidadania vem com cifra, e aí, meu amigo, é só correr para o abraço. Principalmente agora. A chamada PEC da Blindagem, que tinha por objetivo aumentar a proteção judicial para deputados e senadores foi rejeitada por unanimidade no Senado, e os cariocas ainda ganharam um encontro inédito, que eu nunca mais vou esquecer.
Atualizando, portanto, a máxima de Rubem Braga, o ilustre escritor capixaba, adiciono aqui uma letra ao título de uma de suas mais famosas crônicas: Vai de Ti, Copacabana. Pode ir.






























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