Pablo e Luisão: a série me fez sentir emoção parecida com vontade de viver
"Que raiva", escrevi na última sexta-feira à noite em uma mensagem para Patrícia, já que eu precisava responsabilizar alguém, e rápido! "Raiva? Mas você não acabou de mandar um áudio dizendo que tinha achado a série a coisa mais linda do mundo?" E eu achei, só que eu fiquei aos prantos e isso não está certo já que, nas chamadas que eu tinha visto, "Pablo e Luisão" parecia uma comédia. "E não é?", escreveu Patrícia de volta. "É. Super. Quer dizer, é também, mas fiquei meio triste apesar de ter ficado muito feliz". Fim da conversa? Ficou parecendo que eu sou maluca. Não que eu não seja. Apesar de isso ser algo que só a própria pessoa pode falar de si mesma.
O fato é que agora eu estou na seguinte situação ridícula: meu namorado está aqui, rindo de sair lágrima dos olhos, e eu chorando de soluçar. Quer dizer, das três, uma: ou é a combinação do meu signo com meu ascendente, que eu sempre desconfiei de escorpião com libra, ou é mais um sintoma da falta - absolutamente presente - da dupla estrogênio e progesterona, ou então a culpa é minha. Sim, culpa minha porque eu queria terceirizar a questão, mas provavelmente meu conceito de comédia é problemático, como tantos outros, aliás, que minha análise há anos luta para transformar.
Enfim, essa sou eu há alguns dias, trocando mensagens no Instagram em um diálogo um tanto quanto surreal com a Patrícia Pedrosa que, além de minha amiga, fez a supervisão artística da série do Globoplay, que tem direção de Luis Felipe Sá.
Eu achei melhor escrever para ela, com quem tenho intimidade, porque se eu fosse fazer o mesmo com o Paulo Vieira eu ia acabar pedindo ele em casamento. Sim, eu estava completamente apaixonada - ainda estou -, e meu parceiro entendeu completamente, porque ele se encontrava na mesma situação.
Tudo isso, de chorar e rir com um episódio de uma série de TV, aconteceu enquanto eu me recuperava de uma semana do tipo gincana, onde emendei um festival em Porto Alegre com leitura de peça e podcast em São Paulo, passando por uma feira do livro no Rio, duas ou três caneladas na conta de 2025, e um diagnóstico evidente de burnout. Eu sei, a frase ficou enorme, mas eu tenho vivido assim, meio sem vírgula e totalmente sem ponto.
De modo que a série do Paulo, que mistura humor, singeleza e brasilidade, me deixou de um jeito que eu acho que eu nunca tinha visto, me devolveu, em apenas um episódio - com uma cerca elétrica que não era para ser elétrica, mas isso é spoiler - um sentimento a que eu ainda não sei dar nome, mas que é qualquer coisa parecida com vontade de viver. Ou, talvez, identificação.
Porque o olhar delicado através do qual Paulo Vieira nos apresenta a sua infância é o mesmo que busco - e nem sempre consigo - em tudo o que faço e vivo, que é um olhar de amor. No meu HD, inclusive, é para isso que serve a arte: para encontrar belezas muitas vezes escondidas que, uma vez reveladas, revolucionam pessoas, objetos e até países. Uma espécie de lâmpada do Aladdin, ou mapa do tesouro, e que pode nos levar ao Tocantins, aos nossos pais, as nossas faltas, as nossas vizinhas, e até as nossas crises - como se tudo fosse um filme a ser escrito com tanto afeto, que, ao ficar pronto, cure memorias com ficção.
A arte é a camada de poesia que transforma água em vinho; medo em alegria, alegria em colo; e colo em "vamos em frente". Pelo menos para mim.
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