É difícil me ver jovem na reprise da novela, mas não queria voltar no tempo
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De uns meses para cá tenho me visto demais, com uma frequência absolutamente desnecessária. Como se não bastasse estar presa vinte e quatro horas por dia à minha péssima versão atual, que consiste basicamente em trabalhar, perder chaves e esquecer senhas, dei para conviver também -de forma involuntária por causa da reprise de uma novela - com uma garota de 19 anos e cabelo na altura da cintura, que, apesar do nome em comum, nada tem a ver com os meus documentos de 2025.
Ok, nada é exagero. Os números, por exemplo, são os mesmos. Pai e mãe também. Mas não é por isso - pelo simples fato de sermos a mesma pessoa sob o ponto de vista jurídico - que ela pode surgir assim, diretamente de 1995, sem nem ao menos mandar mensagem primeiro. "Você é a menina do vale a pena ver de novo?". Ouvi anteontem na farmácia, enquanto comprava uma pastilha para garganta. "Sim", eu disse. "De certa forma sou eu", pensei.
"Sim" porque dividimos nacionalidade, tipo de sangue, cicatrizes, escola da infância, essas coisas. "De certa forma" porque acredito que hoje, se nos encontrássemos na rua, aquela eu de lá e essa eu daqui, a gente sequer teria assunto. Por que então meus amigos insistem em me mandar fotos de alguém que já não sou? Por que isso me incomoda tanto?
Será que sinto inveja? Raiva? Compaixão? Ou posso seguir acreditando que a Maria de 30 anos atrás não tem ao menos direito de invadir, com a sua ingenuidade juvenil, a vida de uma pessoa com firma, contador e estrogênio de farmácia? Que tem dois filhos, duas separações, e mesmo assim, continua, como aos 12, fascinada por chocolates e maquiagens.
Outro dia, no aniversário de um amigo, me perguntaram se com a frequência que tenho feito entrevistas, escrito crônicas e roteiros, ainda me considero atriz. Sorri. Na véspera, tinha gravado algumas cenas da segunda temporada da série da Disney "O amor da minha vida", do Matheus Souza, e graças ao seu texto esperto e atual, em parceria com a atuação de Bruna Marquezine e a direção de René Sampaio, me lembrei do quanto estava com saudades de um set de gravação, e principalmente, da vida com atores.
Essa é a minha coisa, eu pensei: ser artista. Mas daí a entrar na loucura da imagem e de ficar-me comparando a quem já fui, ou tentando, à lá Kris Jenner, roubar no jogo, nada disso me interessa. Demorei muito para chegar no cérebro de agora e, posso falar? Ele nunca esteve tão bonito nas fotos.
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