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Maqui Nóbrega

A romantização de tudo é um desserviço para sua vida afetiva

Muitas vezes é mais fácil se identificar com uma projeção sonhadora e irreal das coisas - AndreasReh/Getty Images
Muitas vezes é mais fácil se identificar com uma projeção sonhadora e irreal das coisas Imagem: AndreasReh/Getty Images

Colunista do UOL

07/07/2020 04h00

Quando eu contei pra minha terapeuta que escreveria uma coluna para Universa sobre desromantização, ela me perguntou "por que?". Eu sei, eu sei, é o papel dela me perguntar o porquê de tudo, e tem horas que isso me irrita, devo admitir, mas na maioria das vezes, o questionamento me faz pensar. E eu adoro pensar!

Eu respondi pra ela o que conto agora pra vocês: eu acho a romantização de tudo um grande desserviço às nossas nóias. Apesar de não existir uma única realidade absoluta pra todo mundo, a não ser que você seja vidente (se for, me manda um Whats), geralmente existe um enorme cânion de diferença entre a expectativa e a realidade. Não à toa esse é um dos memes mais amados da internet! É fácil se identificar com uma projeção sonhadora, floreada, perfeita e...irreal das coisas.

A real é que a grande culpa é de Hollywood. Calma que não estou tirando o seu da reta, já volto pra você! Mas é fato que filmes, livros, músicas e séries existem pra nos entreter e também cagar o nosso cérebro. E não estou só falando de obras românticas não, viu? Você pode levantar pro ar qualquer assunto, que eu corto te dizendo onde ele já foi romantizado. Amor, sexo, amizade, maternidade, autoestima, pandemia, infância, guerra, carreira, pets, a natureza, sua primeira casa, ganhar dinheiro... até o próprio processo terapêutico é romantizado horrores! Ou vai dizer que você também não esperava uma grande catarse em cada sessão de terapia depois de assistir o Randall se tratando em "This Is Us"? Até você de fato sentar em uma poltrona, de frente para um psicólogo, e perceber que não é bem assim.

Mas a culpa é sua também! E agora eu estou tirando o meu da reta, porque meu papel aqui, e na vida em geral, é falar "a real" para as pessoas. Sei lá porque eu sou assim, mas eu sou. E ser assim é uma benção e também uma maldição. Uma benção porque, no fim, acho que acabo me decepcionando menos. Uma maldição porque a vida sem um toquezinho de ilusão pode ser um pouco chata. Mas isso é assunto pra uma outra semana, estávamos falando de você. Você que, quando eu abro a famosa caixinha de perguntas no Instagram (oi, tudo bem? me segue: @maqui.nobrega) onde minhas seguidoras pedem conselhos, me manda uma fantasia alucinada de amor que tem zero contato com qualquer realidade. Ou pior, uma fantasia que está tão dentro da sua cabeça, que é como se a outra pessoa simplesmente não existisse pra você mandar uma mensagem e perguntar qual é a opinião dela sobre o assunto.

Viver na fantasia é gostoso, é quentinho, seguro, é como voltar para a barriga da sua mãe, onde todas as suas necessidades são magicamente atendidas sem você precisar fazer nada. Quando você sai de dentro dessa barriga maravilhosa e te metem um gorrinho com o logo da maternidade na cabeça, pronto, você está no mundo real, onde nunca mais vai se sentir completo. Spoiler: você vai passar o resto da vida tentando se sentir assim de novo. Outro spoiler: você não vai conseguir. Não 100%. Se você tiver sorte, terá momentos de grande conexão, momentos em que o universo fará sentido. Vai durar 5 minutos, 1 hora, 10 dias, 2 anos, talvez 20, mas o sentimento vai passar.

Isso não quer dizer que a vida não tem graça, pelamor, não sou tão deprê assim. É justamente essa busca incansável e infinita pela completude que empurra a gente pra frente (e às vezes pra trás, em busca de respostas que deixamos passar). O importante é saber, e vou frisar isso aqui, saber MESMO, que o que você projeta nos outros e nas coisas, é um reflexo de quem você é, de como você enxerga o mundo, de como a sua busca, e só a sua, se desenrola ao longo do tempo. O que você recebe de volta sempre será diferente do que estava esperando (menos no caso da minha futura amiga vidente citada lá em cima).

Então por que não assistir a uma comédia romântica achando aquilo tudo muito fofo, mas SABENDO que nenhum homem vai correr atrás de você com flores no Central Park em um dia de primavera? E quer saber a piada aqui? Estou pensando em uma cena de "Homem Aranha 3"! Nem em filme de super-herói a gente tem um descanso da ilusão! E aliás, nem pelo Ibirapuera num dia de verão o cara vai correr. Ou pela avenida mais movimentada da sua cidade num dia de outono. Não vai rolar! Mas o que rolar, pode ser tão incrível quanto.

Eu sou a Maqui Nóbrega e serei sua guia pela desromantização de tudo! Eu não prometo que não vai machucar, mas prometo que estarei aqui com um curativo (ou um drink bem forte) pra quando você quebrar a cara! E te garanto: a realidade, seja a minha ou a sua, é um choque que vale a pena tomar.