Chá revelação de Virginia: espetáculo com torcida por gênero é atual?

A influencer Virgínia e o cantor Zé Felipe, filho de Leonardo, fizeram o chá revelação de sua filha, Maria Alice, nesse sábado (28). A festa foi devidamente transmitida no Youtube e nos stories, e ainda teve uma votação no Twitter que dividia os fãs em times por hashtags - os que preferiam menina e os que achavam que a criança seria um menino.
Os chás revelação surgiram há alguns anos e viraram uma febre. Dentro os métodos de apresentar o gênero do bebê para parentes e amigos, está cortar um bolo que por dentro pode ser rosa ou azul. Tem também estourar balão e fazer voar confete de uma das duas cores.
A prática acaba ficando um pouco datada em tempos em que tentamos lembrar a todos que rosa e azul não deveriam ser cores estereotipadas. E que sabemos também que o próprio gênero de nascimento não é uma garantia de masculinidade ou feminilidade eterna. E isso deve ser cada vez menos importante.
O fato é que a internet ficou ensandecida com a festa de Virgínia. Ela ganhou centenas de milhares de seguidores. Em seus stories, visto por milhões de pessoas, dezenas de profissionais preparavam o evento - vários deles sem máscara. Durante a festa, então, teve boomerang, teve post, teve abraço e teve muito amor. E teve publicidade. Tudo sem proteção.
Eu acho interessante saber o gênero da criança ainda na gravidez. Não consigo nem imaginar como seria estar no ultrassom e escolher não saber disso, para descobrir depois, na frente de todo mundo, ou no parto, no caso das mães mais desencanadas. Na prática, não fez muita diferença saber como era o órgão sexual de meu filho seis meses antes de ele nascer. O quarto seria cinza e amarelo de qualquer jeito. No máximo não teria sido possível bordar o quadrinho que ficou na porta da maternidade.
Não vejo muito sentido em fazer um mega evento para descobrir algo se qualquer um dos resultados será celebrado. Se fosse menino, Virgínia também ficaria feliz, claro. A própria torcida que levou a hashtag #teammariaalice para o primeiro lugar nos trends do Twitter nesse sábado não iria reclamar caso o bebê chamasse José.
Mas cada mãe é de um jeito. Eu, apesar de ser baladeira por ideal, não gostava da ideia de ser anfitriã de grandes festividades durante a gestação. Talvez por saber que o pai de meu filho, como o marido de Virgínia, não sabe muito bem a hora de parar com o evento: inimigos do fim acabam tornando a balada puxada para quem está gerando um outro ser. Mas, se a influencer topa e fatura com isso, não haveria porque condenar o rolê - isto é, se o contexto não fosse pandêmico.
O avô da criança, Leonardo, estava com dengue e participou na festa com febre. A própria Virgínia foi se deitar na madrugada de hoje reclamando que estava com dor de garganta - algo normal depois de uma noitada, mas que nos dias de hoje acende vários alertas.
Que ninguém está respeitando a pandemia, já sabemos há meses. Agora, dividir milhões de seguidores entre time de menina e de menino me parece um pouco ultrapassado. Tudo bem que vale tudo pelo espetáculo, mas talvez o próprio espetáculo devesse ser um pouco mais modesto em tempos em que o que importa mesmo, mais que nunca, é que o bebê venha com saúde.
A vacina está ali na esquina. Se der para segurar a aglomeração, segura. Se não der, use máscara. Ela pode ser até rosa ou azul. Vale tudo.
Você pode discordar de mim no Instagram.