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Juliana Borges

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Grupos de noivas nas redes: além de dicas, um espaço de troca e acolhimento

fizkes/Getty Images/iStockphoto
Imagem: fizkes/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

13/12/2021 04h00

Depois da euforia do pedido de casamento, daquela explosão de amor e celebração com amigos mais chegados, eu me senti um tanto perdida. Por onde começar a organizar um casamento? Como encontrar um local adequado ao que havíamos pactuado sobre o formato? Quais critérios seriam fundamentais para definição da minha lista de convidados (ainda em construção)? Onde eu conseguiria encontrar fornecedores para o bar? Qual o melhor lugar para fazer bem-casados? O que fazer? Eu entrei em parafuso. Por alguns dias, fiquei paralisada e me sentindo sozinha.

Minha mãe foi uma trançadeira das mais incríveis. Desde os 13, 14 anos que ela trabalhava com cabelos e mexia em cabeças. A arte de trançar, não está apenas relacionada à beleza. Há também uma relação afetiva para algumas e de conflito para outras, principalmente para nós, mulheres negras. O cabelo e a cabeça são esferas um tanto íntimas para mulheres negras. Para os nossos ancestrais e povos de religiões de matriz africana, como essa que vos escreve, é também da esfera do sagrado.

O parênteses é importante porque a falta que sinto de minha mãe atravessa muitos aspectos de minha vida. Para além de ter crescido vendo minha mãe trançar e mexer com cabeças, acompanhei um período em que minha mãe realizava o "dia da noiva" e também chegou a organizar alguns casamentos.

Então, quando me vi como noiva, automaticamente pensei em minha mãe. Muitas das perguntas que faço, das inseguranças que tenho com esse processo seriam sanadas por dona Claudia Borges. Eu não teria que me preocupar com absolutamente nada, porque ela sabia exatamente do que eu gostava. Acho que eu teria apenas que pensar no meu vestido e no meu bem-estar, porque até como meu cabelo estaria no dia da festa, e como minha cabeça estaria resguardada, seria de sua inteira responsabilidade.

Parte, se não toda, de minha paralisia inicial era decorrência direta da saudade que sinto de minha mãe. E isso me acompanhará por todo esse percurso. Mas, então, como consegui sair da paralisia para estar aqui escrevendo e dividindo tudo isso com você que me lê? Uma parte disso é motivada porque sei como minha mãe era festeira e gostaria que eu estivesse o mais empolgada possível com essa celebração. E outra parte é uma que tem me surpreendido todo esse tempo: redes de mulheres noivas que se ajudam.

As listas de noivas formadas, seja por whatsapp, por telegram, no Facebook, etc., são muito mais do que uma simples troca de contatos de fornecedores. Eu tenho descoberto nesses espaços uma rede de solidariedade. E uma das coisas que me fez sair da paralisia e me garantiu a empolgação para esse processo foi uma lista, em particular, em que entrei. Não porque ela tenha algo de especial, mas porque, em um dos meus primeiros dias, quando compartilhei minhas dúvidas em relação a tudo, uma das noivas ali foi um exemplo de trabalho em rede e de olhar solidário.

Eu a chamarei de "Jéssica", mas poderia ser Samara ou Gkay (brincadeiras são importantes). Em uma das primeiras listas de noivas que entrei, tínhamos que dizer o quanto dos preparativos estavam encaminhados e eu não tinha absolutamente nada e ideia nenhuma. Então, Jéssica, que deve ter um lado sensitivo apurado, me chamou no privado e me garantiu um norte inicial: comece pela ideia norteadora do seu casamento; depois, defina o limite orçamentário com o qual quer trabalhar e defina uma sobra, caso os gastos superem o limite; defina os padrinhos e madrinhas em decisão compartilhada com o seu noivo/noiva; pense um limite de convidados e rascunhe uma primeira lista; e assim por diante. Jéssica também me enviou links com alguns sites e perfis de redes sociais para acompanhar.

E, assim, com a sensibilidade de Jéssica e orientação de minha mãe, de onde quer que ela esteja, eu iniciei essa jornada. Ali, eu entendi que há muita potência nesses grupos de mulheres, noivas, para construir laços de solidariedade.

As listas de noivas são muito mais do que um espaço de mulheres estereotipadas, consumidas pelo casamento. Também é espaço de troca, em que uma acalma a outra, em que muitas são as risadas e os "perrengues" compartilhados. Espaços em que quando uma casa envia vídeos e fotos e todas celebram juntas a felicidade umas das outras. Ainda não conheço pessoalmente nenhuma delas, mas sinto como se todas compusessem uma rede de fortalecimento.

É como se todas ali se tornassem um e garantissem um pouquinho de minha mãe, me acalmando e me impulsionando, sendo fundamento e coragem para enfrentar toda essa jornada na certeza de que tudo vai dar certo e que a festa será incrível.

Claro que minhas amigas e amigos próximos são, também, essas fontes de acalanto e aconchego. Mas, sei que nessas listas eu posso falar sem parar do casamento, coisa que não faço com meus amigos por uma questão óbvia. Então, a coluna de hoje é mais uma exposição afetiva e uma declaração de carinho a essas noivas todas. Que bom que temos umas às outras.