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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Contra fraudes, urnas eletrônicas são aliadas das mulheres na política

Colunista de Universa

21/07/2022 04h00

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Atualmente, o Brasil conta com 77 deputadas federais, que ocupam 15% das 513 cadeiras da Câmara Federal. No Senado, ocupamos 16 das 81 vagas, menos de 20% desse espaço. E até 1996, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não exigia que o gênero da pessoa candidata fosse identificado no registro de candidatura eleitoral, portanto, há uma certa dificuldade de medir o aumento da série histórica da presença de mulheres no Congresso Nacional.

O que sabemos, com certeza, é que nas últimas eleições de 2019 subimos de 10% para 15% na Câmara e não houve aumento do número de senadoras, embora 7 tenham sido eleitas para atuarem até 2027.

Mesmo estando sub-representadas, nossa presença na política federal nunca esteve tão alta. E, sem dúvida, contarmos com um sistema eleitoral que garante que as cédulas em papel com votos em nós não serão removidas das urnas ou destruídas por adversários ou por machistas é fundamental para garantir mais mulheres na política.

Ao atacar nossas leis e sistemas eleitorais, Bolsonaro coloca em risco a nossa participação política. Ele quer nos impedir de votarmos em mulheres que se preocupam com mulheres. Ele quer que nossa vida piore mais do que já piorou desde 2019. O desejo golpista de Bolsonaro encontra algum eco justamente entre homens amargurados com os avanços daquelas e daqueles que eles sempre desprezaram.

Não tenho dúvidas, porque aprendo com grandes lideranças intelectuais, como Sueli Carneiro, de que a movimentação feminista, negra, LGBTQIAP+ e pobre foi essencial para chacoalhar e muito ideias que estavam consolidadíssimas no imaginário social, como a de que vivíamos em uma democracia racial ou de que homens e mulheres já tinham direitos iguais porque as mulheres podem trabalhar fora de casa, dirigir e votar.

A mesquinharia do presidente de querer melar o jogo é uma resposta covarde às pressões e ações daqueles que, assim como as mulheres, não aguentam mais a volta para o passado que ele promoveu em apenas três anos de gestão.

Mulheres e suas crianças estão passando fome, mulheres negras estão liderando o ranking das pessoas mais desempregadas do país, pessoas trans sendo assassinadas, ocupantes de cargos de poder desviando-se completamente de suas responsabilidades para abusarem sexualmente de mulheres e o veto presidencial para distribuição gratuita de absorventes estão entre os atrasos que ele promoveu. A compra de apoio político do Congresso pelo orçamento secreto e a ausência de atuação do Procurador Geral da República certamente aprofundam nossa sensação de impotência.

Entretanto, Bolsonaro pode mentir o quanto quiser sobre o sistema eleitoral ou sobre qualquer outro assunto porque nós sabemos a verdade. Nós sabemos que saímos na rua com medo de termos nossos corpos invadidos, que nossos trabalhos em casa não são pagos e nos cansam muito, que ganhamos menos do que os homens, que nos violam em salas de parto, que nos excluíram do poder por tempo demais.

E sabemos também que cidades com mais prefeitas têm menos mortalidade infantil, que os países presididos por mulheres foram os que tiveram as melhores respostas de segurança na pandemia, que mulheres cometem menos corrupção e que investem mais recursos na educação e na saúde. O que é óbvio, já que a ausência de bons serviços públicos de cuidado sobrecarrega as mulheres com cuidados não remunerados, portanto, ao chegarmos ao poder costumamos cuidar desses assuntos que os homens sequer conhecem.

É a verdade de nossa potência política que deve ser nosso norte.

É a nossa capacidade de sermos vida, de sermos criação, de sermos resilientes e de sabermos muito bem quando estão mentindo na nossa cara.

As urnas eletrônicas são essenciais para termos mais mulheres na política porque elas não podem ser fraudadas, ao contrário de papéis que podem ser rasgados, rasurados, substituídos e desaparecidos. Se até 1995, último ano das eleições exclusivamente com voto em papel, tínhamos apenas 29 deputadas federais e passamos a ter 77 em 2019, tenha certeza de que as urnas eletrônicas e sem possibilidade de fraude têm um papel central em nosso crescimento político. E ao, contrário de Jair, eles não vão sair!