Opinião

Skincare não é brinquedo e crianças não devem usar produtos anti-idade

Criança não deve usar produtos anti-idade. Não sei nem dizer o quão absurda é essa frase, mas vamos lá.

O mercado de beleza está nadando de braçadas em um momento curioso deste novo mundo: a "adultização das crianças", que anda lado a lado com a "infantilização dos adultos" - aquela que nos faz comprar Labubus, bebês reborns e livrinhos de colorir. As marcas têm faturado com os dois lados dessa "troca geracional", se posicionando no meio de campo, oferecendo produtos para peles maduras que mais parecem saídos de uma loja de brinquedos.

Você se lembra das notícias sobre crianças invadindo lojas de varejistas de beleza, para poder experimentar produtos que iam de maquiagens a cremes noturnos potentes? Isso não eram acontecimentos pontuais. Eram o reflexo dessa macrotendência.

Em 2023, o integrante mais velho da geração alfa tinha 13 anos. Apesar disso, um estudo da Revlon estimou que esse público "gastou" (os pais gastaram para eles) US$ 4,7 bilhões em produtos e tratamentos de beleza só naquele ano. Mas por que pessoas tão jovens têm consumido tanto, e tão cedo, cosméticos?

A resposta está neste lugar de sempre: grande parte da culpa é das redes sociais (e, claro, de pais que liberam as redes para seus filhos). Os números comprovam o que a gente acompanha no feed:

  • 84% das crianças e jovens entre sete e 17 anos vêem vídeos de influenciadores;
  • 79% delas procuram por resenhas de produtos na internet;
  • 75% acompanham tutoriais de cuidados com a pele e cabelo nas redes.

A mensagem é clara: compre, compre, compre. A geração alfa, que tem até 15 anos hoje, começa a experimentar produtos de beleza aos oito anos de idade - metade da faixa etária de seus colegas das gerações anteriores. Basta uma busca rápida no TikTok para encontrar um sem fim de vídeos de pré-adolescentes e crianças (sim, crianças) fazendo tutoriais de skincare ou de maquiagem.

A notícia boa aqui é que já há uma reação de órgãos e marcas contra esse movimento. Se esse incentivo ao consumismo e a preocupação exacerbada com a autoimagem não é saudável para um adulto, imagine para uma criança ou pré-adolescente.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) adverte: a pele infantil tem maior capacidade de absorção de produtos, o que aumenta a possibilidade de desenvolver irritações e dermatites quando em contato com eles. A SBD pontua ainda que é crucial limitar a maquiagem a ocasiões especiais, como apresentações artísticas, e só a partir dos 5 anos. Batom, blushes e afins não devem fazer parte da rotina diária de uma criança.

Mas tem marcas falando sobre isso também. No ano passado, a americana Kiehl's lançou uma campanha direcionada aos pais, informando que os produtos vendidos por ela não são adequados para a geração alfa. A marca sueca Mantle exige que os compradores informem a idade antes de acessar o site.

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Nos EUA, há um projeto de lei, apresentado em fevereiro deste ano por Alex Lee, deputado da Assembleia Legislativa da Califórnia, que proíbe a venda de produtos antienvelhecimento com "ingredientes potentes e agressivos" para crianças e adolescentes. Retinol, ácido glicólico e vitamina C entram na lista de substâncias que seriam proibidas para menores de 18 anos. O projeto ainda precisa ser aprovado por diversas comissões, mas, se seguir, deve ser sancionado até outubro, com as novas restrições entrando em vigor por lá em 2026.

A infantilização dos adultos não dá para ter muito controle. Cada um faz o que quer da vida. Sobre a adultização de crianças, o cenário é bem diferente.

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