Existe um futuro promissor? Estamos deixando de imaginar cenários melhores

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Futuro Presente é o tema desta newsletter, por um motivo simples: em 25 anos trabalhando com tendências de moda e mais dez com inovação, natural que meu olhar para o futuro fosse se desenhando cada vez com mais força. Nos últimos anos, porém, resultados de pesquisas sobre como enxergamos o futuro foram mudando. E um dado preocupante se impôs: estamos perdendo a capacidade de imaginar futuros melhores.
Um relatório de 2023 de Harvard revelou que jovens de 18 a 25 anos nos Estados Unidos relataram o dobro das taxas de ansiedade e depressão em relação à adolescência. Por lá, a Geração Z está significativamente menos propensa a dar uma boa nota para sua vida do que os millennials quando tinham a mesma idade.
Um estudo de 2024 da consultoria de design e estratégia brasileira Questtonó mostrou que um cenário parecido se desenha por aqui: 63% dos jovens brasileiros acreditam que os problemas de hoje vão se agravar ou acabarão com o planeta como conhecemos. Medo, ansiedade e frustração são as três palavras que aparecem com mais força quando esses jovens falam sobre futuro.
Você já ouviu falar na curva da felicidade? Imagine um U. Nas últimas décadas, pesquisas mostraram que a "felicidade" ascendia na juventude, decaia na meia-idade e voltava a subir com o envelhecimento. Mas um novo estudo aponta que jovens adultos não são tão felizes quanto costumavam ser, achatando esse desenho para, digamos, o formato de uma rede.
Inúmeros fatores são responsáveis por este corte de imaginação de futuros melhores - a exposição infinita nas redes sociais e a comparação com nossos pares, a aceleração angustiante da vida, as crises econômica, política, geopolítica. As artes e a cultura, grandes colaboradores na arte de desenhar futuros, têm contribuído para essa aflição. Cenários distópicos, onde reina a escassez e o sofrimento, ilustram filmes, livros, séries - mesmo se for para rir.
Na sátira Mountainhead, filme de Jesse Armstrong (criador de Succession), que acaba de chegar ao streaming, quatro amigos, bilionários e donos de bigtechs, se reencontram durante uma crise mundial - econômica, política e social -, impulsionada pela desinformação provocada pela inteligência artificial.
Mas um dos maiores culpados para essa falta de otimismo em relação ao que vem pela frente são as questões relacionadas à crise climática. A porcentagem de pessoas nos EUA que não são pais e que não querem ter filhos, por exemplo, aumentou de 14% em 2002 para 29% em 2023 - grande parte delas cita "preocupações com crises climáticas", como um fator importante.
Diante de tanta desgraça, ou da comunicação do "fim-do-mundismo", como costuma dizer a especialista em mudanças climáticas Natalie Unterstell, muita gente se vê paralisada: os desafios e mudanças necessários são tão grandes que nada do que eu fizer vai ter impacto de verdade. Penso e logo desisto.
Seguindo nas minhas pesquisas de futuro, fui feliz ao descobrir que nem tudo é inércia, catastrofismo e "fim-do-mundismo". Para a cientista de dados e comunicadora científica escocesa Hannah Ritchie, achar que é tarde demais só nos leva a não fazer nada. Fundadora do Our World in Data, da Universidade de Oxford, projeto que foca em dados e pesquisas para avançar em problemas urgentes, a escocesa é autora de Não é o fim do mundo - Fatos surpreendentes, mitos perigosos e soluções promissoras para o futuro do nosso planeta (2024), que ganhou elogios de Margaret Atwood a Bill Gates. No livro, ela advoga que sim, os problemas são reais e urgentes, mas têm solução. E, pela primeira vez na história da humanidade, podemos pegar a rota de um futuro sustentável.
Ayana Elizabeth Johnson é da mesma turma interessada em futuros melhores e possíveis. Autora de E se acertarmos? Visões de futuros climáticos (2024), em tradução livre, que andou na lista dos mais vendidos do The New York Times, a bióloga americana apresenta no livro possibilidades e soluções nos campos da ciência, política, cultura e justiça por meio de entrevistas, ensaios e até poemas com profissionais que vão de agricultores a arquitetos.
Por aqui, há também iniciativas animadoras. A Cátedra UNESCO em Alfabetização em Futuros, uma parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sediada no Museu do Amanhã, tem como propósito engajar e capacitar as pessoas na transformação de liderança. O programa de estudos de quatro anos que conscientizar sobre a influência das ações no presente para o futuro. A Questtono também tem pensado nisso. Siga o Insta @questtono, há boas discussões por lá.
Recentemente, falei no Rio2C, sobre a importância de imaginarmos futuros melhores, em uma mesa dedica às transformações na moda brasileira. Não é novidade que a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo. Mas é, também, uma das primeiras na capacidade de criar (ou entender) desejos. Seria bárbaro se pudesse usar deste poder para nos ajudar a desenhar chegar a futuros melhores, e produzir de modo mais responsável.
A cada um de nós, cabe lembrar que imaginar futuros é o primeiro passo para começar a andar até lá. Que futuro você quer para o mundo?
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