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Ozempic e seu efeito direto em pratos compartilhados, noivas e até doping

Uma droga nova, revolucionária e cheia de (surpreendentes) efeitos colaterais. A semaglutida, princípio ativo do Ozempic e Wegovy, medicamentos criados inicialmente para o controle do diabetes tipo 2, foi associada a tantos benefícios que a The Economist se referiu a ela como "the everything drug", ou a droga para tudo. Controle da hipertensão, tratamento de doenças nos rins e coração e, principalmente, a perda de peso estão entre eles.

No início do mês, chegou ao Brasil o Mounjaro - medicamento similar, mas que tem a tirzepatida como princípio ativo. Não sou colunista de saúde, tampouco médica, mas essa revolução na indústria farmacêutica começou a me interessar quando os efeitos destes medicamentos passaram os limites da medicina e passaram a ter impacto em mercados bastante distintos.

Depois de, em 2023, diminuir a venda de alimentos nos EUA e fazer as farmacêuticas responsáveis pela criação delas virarem, da noite para o dia, algumas das empresas mais valiosas do planeta, estas "drogas para tudo" seguem surpreendendo. Aqui, alguns novos territórios impactados por elas e mudanças de comportamento que muito me interessam.

Cadê a noiva que estava aqui?

Novos dados revelam que o emagrecimento gerado por esses medicamentos se tornou uma questão para o mercado de noivas, que tem valor de mais de US$ 30 bilhões. Isso porque elas precisam planejar e encomendar seus vestidos com meses de antecedência, mas, quando usam os medicamentos com o intuito de perder peso, não sabem que tamanho terão no dia da cerimônia - e como os efeitos deles são bastante radicais, uma noiva que passou a usar Ozempic e encomendou um vestido sete meses antes, por exemplo, pode vestir até três números menores em relação ao original no grande dia.

Ao The New York Times, estilistas dizem não se tratar de pequenos ajustes, mas de reconstruções completas das peças. Algumas marcas têm contratado costureiras extras, para trabalharem especificamente nessas refações. Para noivas que contratam um estilista para desenvolver vestidos sob medida, as mudanças podem até ser contornáveis. Mas e para aquelas que compram vestidos já prontos, ou optam pelo aluguel?

Garçom, um prato para dividir, por favor!

Restaurantes são os mais afetados pelo "efeito Ozempic", por motivos óbvios. E estão tendo que se adaptar a essa nova era. Uma pesquisa do Morgan Stanley aponta que 63% das pessoas que tomam Ozempic estão pedindo consideravelmente menos comida em restaurantes. Porções servidas para uma pessoa se tornam excessivas para os adeptos desses medicamentos.

As soluções encontradas pelos usuários têm sido optar por restaurantes que sirvam pratos para compartilhar, ou comer apenas entradas e aperitivos. Há também quem peça só drinks, para pelo menos poder socializar com os amigos. Em cidades como Los Angeles, Nova York e Londres, alguns restaurantes já têm acompanhado a tendência e disponibilizado porções menores para "pouca fome", além de pratos para dividir.

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Será que vira doping?

Em 2024, a Agência Mundial Antidoping adicionou a semaglutida à lista de substâncias monitoradas para encontrar padrões de uso indevido.

O motivo? Uma comunidade crescente de corredores, ciclistas e praticantes de outros esportes que aliam o uso desses medicamentos a treinos e alimentação regrada, visando obter vantagens no desempenho.

Faltam ainda estudos de longo prazo sobre essa associação, mas alguns médicos acreditam que, apesar de os medicamentos contribuírem também para a perda de massa magra, eles parecem aumentar a resistência e acelerar o tempo de recuperação do atleta.

No universo dos esportes de alto rendimento, a perda de apetite seria um ponto negativo, mas especialistas já prescrevem a microdosagem para pacientes que querem otimizar a saúde e o desempenho físico. Segundo o The Wall Street Journal, é o caso de um ex-medalhista de ouro olímpico.

Com as patentes chegando ao fim, a aprovação pela Anvisa e a liberação da venda em farmácias brasileiras, logo os preços altos se tornam mais acessíveis e a popularização vai ser inevitável. Ainda vamos ouvir sobre muitos mercados sendo impactados, muitas mudanças de comportamento chegando.

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Mas, atenção, não tem milagre: o acompanhamento de um médico é, sempre, mais que necessário.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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