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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Conhece-te a ti mesma: seu sovaco pode salvar você das dores

Com uma liberação feita nas axilas, é possível soltar tensões dos ombros e costas - Getty Images/iStockphoto
Com uma liberação feita nas axilas, é possível soltar tensões dos ombros e costas Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

05/04/2022 04h00

Sim, teu sovaco pode ser um buraco negro. Um ponto concentrador de tensões, que refletem em dores de cabeça, dores posturais e, se pá, naquela maldita dor instalada na escápula. Aham, isso mesmo, amoras. Há mais coisas entre o sovaco e a cabeça do que julga nossa vã filosofia.

Me considerava uma conhecedora razoável do corpo humano. Sempre me interessei muito pelas possibilidades dessa incrível e sensível máquina. Mas, quando comecei a fazer Pilates, percebi quão analfabeta corporal eu era. Descobri, por meio do terapeuta Ederson Neves, coisas como um tal de iliopsoas. Foi ele quem me apresentou a esse músculo esquisitinho (na verdade, uma cadeia muscular), ao me salvar de um travamento lombar, enfiando (sim, não tem outra expressão que defina melhor o procedimento) as mãos na minha barriga, para manipular o tal iliopsoas e promover a liberação lombar!

No mesmo estúdio, a terapeuta corporal Mara Dagios me ensinou um poderoso alongamento da bailarina, que me salvou nas tantas viagens que fiz. É praticamente um milagre. Um "simples" alongamento que trabalha a cadeia muscular posterior inferior, dos pés à lombar, aliviando aquele bloco de concreto no qual a região das costas pode se transformar.
Depois, fui me envolver com ioga, e outras tantas fases nesse game da consciência corporal foram sendo destravadas na minha cabeça.

Daí, ano passado, uma dor se instalou na minha escápula direita. Bem no meinho. Uma dorzinha chata e insistente. Parecia querer estar ligada a mim e ao meu corpo de modo definitivo. Pensei: "Querida, vou te aniquilar rapidinho". Alonguei, fiz minhas sessões de shiatsu, relaxei, prestei atenção e me entreguei para todas as massagens que conhecia. Fui até pra minha amada, idolatrada e salvadora sessão de Rolfing. Nada!

A dor, que queimava e me dava "oi" o dia todo, permanecia ali. Firme, forte e presente. Foi quando me apresentaram essa técnica chamada Liberação Miofascial. Fiquei muito surpresa com os resultados e por perceber quão pouco conhecida é a técnica. Fiquei com vontade de compartilhar com mais gente sobre. Essa foi a única técnica que me ofereceu algum alívio na maldita dor. Sigo num tratamento de aniquilamento dessa dor. Não, o exorcismo não se dá em uma única sessão, mas o resultado progressivo é gratificante.

Essa outra fase do jogo do conhecimento corporal me fascinou. Pedi pro Felipe Alves, o terapeuta responsável pelo aprimoramento da técnica, contar mais sobre o que é, afinal, essa técnica.

Como tem muito assunto, achei que valia a pena começar pelo começo. Perguntei: "Felipe, o que miofascial?", ao que ele deu play no radinho e me disse: "Mio vem de músculo, e Fáscia é a integração de um tecido, que parece uma película, que recobre todos os músculos do nosso corpo. É um tecido conectivo, que liga os músculos do nosso corpo".

Sabe aquela espécie de "tecidinho" branco que envolve as carnes? Isso é a fáscia. Um tecido delicado e poderoso, que envolve todos os músculos do nosso corpo, numa conexão que acontece dos pés à cabeça.

Composta de reticulina, elastina e colágeno, a fáscia funciona como um fino elástico, que garante a amplitude dos movimentos musculares e a flexibilidade.

Esse tecido organiza e protege nossos músculos de impactos e reações que podem ser externas ou mesmo internas. O bom trabalho da fáscia pode ser atrapalhado por uma série de fatores. Movimentos repetitivos, impactos e reações diversas, como nossa "amiga" tensão, por exemplo. Muitas vezes, a tensão manda recados confusos pra fáscia, que, para proteger nossos músculos, acaba se contorcendo, embolando, ou seja, agindo de modo desordenado, gerando dores e mais tensões.

A liberação miosfascial entra justamente aí, no entendimento desses movimentos e desordens, em onde (direção mesmo) essa fáscia e músculos começaram a perder a elasticidade que deveriam ter.

Como já mencionei, tem muito a se explorar nesse tema! Mas já posso adiantar pra vocês que, por uma liberação feita nas axilas, conseguimos soltar tensões dos meus ombros e costas.

A toda sessão, Felipe me conta coisas novas e faz manobras que abrem cada mais as portas das percepção corporal e me fazem perceber a integração e conectividade do corpo. Às vezes, na manipulação e liberação das fáscias de cadeias musculares do pescoço, por exemplo, sinto uma dor puxar no topo da cabeça!

Pra arrematar nossa ultima sessão, Felipe me conta algo surpreendente: um bebê só consegue ficar em pé quando a moleira se fecha, exatamente o momento no qual a cadeia muscular posterior (que começa lá nos pés) termina de se formar. E a moleira é justamente um dos pontos de conexão entre as cadeias musculares, o que eu sinto puxar no cocuruto.

Muito assunto, muito conhecimento pra desbravar. Espero ter plantado alguma sementinha de curiosidade por aí. Conhece-te a ti mesmo.