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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quarta temporada do 'E aí, Beleza?' com boys: como assim?

Colunista de Universa

10/12/2021 04h00

Nesta semana, estreou a quarta temporada do "E aí, Beleza?", programa de entrevista que apresento aqui em Universa. E essa temporada tá demais! Entre nossas convidadas estreladas, temos Daniela Mercury (e não pude resistir em perguntar o que é axé pra ela). Tem ainda a Fernanda Garay falando de carreira e maternidade. Pequena Lô conta como viu sua vida se transformar de uma hora para outra, e muito mais. Temos também uma novidade que talvez possa gerar polêmica...

Para contextualizar, deixa eu circular aqui por algumas reflexões. Já disse em outros textos que sou mãe de dois meninos. Fora isso, também contei que sofro dessa "dificuldade" de, em geral, preferir me envolver emocionalmente e carnalmente com homens. Ou seja, esse "tema" existe e é bem presente na minha vida.

Mesmo antes de saber o que era o feminismo, acho que sempre me entendi e me percebi desconfortável nesse lugar onde eu, supostamente, deveria ser ou performar de modo diferente dos homens. O mundo diz que existem coisas de menina e coisas de menino, um universo rosa e outro azul (oi?). E, desde muito cedo, entendi o absurdo dessas dinâmicas e tenho me colocado a serviço do questionamento e da derrubada desse sistema.

Tenho observado com atenção e satisfação o quanto temos progredido ultimamente nessas pautas. E é interessante notar que, quanto mais os absurdos vão emergindo, mais nos damos conta de modelos e estruturas que eram normalizados. E nesses absurdos incluo os tantos casos de homens abusivos, violentos e/ou que abandonam famílias e seguem suas vidas como se nada fosse. Homens que não comparecem com grana nem qualquer espécie de apoio nas relações. Homens que, naturalmente, incorrem em abuso emocional, que desautorizam mulheres chamando-as de loucas. Todo mundo conhece gente ou tem histórias que envolvam esses exemplos. Olha, não é difícil odiar os homens.

Daí a importância de falar, apontar, intimar. E, claro, incomodar quem tá sentado no privilégio. Porque, como bem disse o personagem Mark (Steve Zahn), na ótima série "White Lotus": "Ninguém está disposto a abrir mão de seus privilégios". A gente observa isso o tempo todo. Mesmo com pessoas próximas, pessoas que amamos. Quando surge o elefante branco na sala e dizemos "se ligou que tem um elefantão branco ali sentado no sofá?", rola a negativa, a enorme resistência em assumir e reconhecer quando incorrem nesses padrões.

Recorrer a essa espécie de ofensa, que desautoriza e infantiliza as reivindicações como sendo "mimimi", já é algo corrente e aceito entre sorrisos jocosos e olhos brancos. Acusar apontamentos e protestos com a frase "Ah, agora tudo é machismo", também é prática comum e que nunca deveria ser aplicada.

Fazendo o recorte no aspecto humano dessa equação, sempre haverá pessoas mais dispostas a escutar e, se pah, elaborar, assim como sempre haverá as que lutarão arduamente na negação e na manutenção de seu privilégio.

Carai, Fabi, não ia falar de novidade da estreia da quarta temporada do programa? Vou, sim. É sobre isso.

Decidimos trazer os boys pro 'E aí, Beleza?'

Universa é a plataforma do UOL pra se debater e explorar pautas pertinentes (e urgentes) ao universo das mulheres. É a nossa casinha, nosso canto, nosso palco. Agora, a gente começa a convidar os caras pra entrar nesse espaço e trocar ideia sobre beleza, mas, obviamente, não só sobre ela. Como sempre digo, a beleza é uma excelente porta de entrada para o diálogo e tem um imenso poder discursivo.

Por que não escutar e falar com os homens? "Ah, mas eles já têm protagonismo há muito tempo, tão sempre falando e sendo centro das atenções". É verdade. Mas criar pontes e diálogos me parece sempre uma boa opção para que se possa evoluir nas discussões. A luta isolada em bolhas será sempre uma luta isolada, sem permeação de mundos. Por isso, vai ter boy no "E aí, Beleza?", sim. A gente entra nessa nova fase para experimentar. Vamos escutar, sob olhar e direcionamento femininos, mas também vamos falar, jogar ideias e propor questionamentos. O que você quer saber dos caras? O que você quer que eles saibam? Conta pra mim.