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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

JOMO, ou 'prazer em estar por fora': quando as coisas vão bem sem a gente

Nessa busca desenfreada pela informação e por se fazer presente, fico me perguntando o quanto estamos de fato ausentes das nossas realidades - gor Alecsander/ iStock
Nessa busca desenfreada pela informação e por se fazer presente, fico me perguntando o quanto estamos de fato ausentes das nossas realidades Imagem: gor Alecsander/ iStock

Colunista de Universa

19/11/2021 04h00

Será que realmente precisamos estar em tudo? Vivemos numa época na qual aparentemente todos somos tão importantes, com opiniões tão relevantes sobre absolutamente todos os assuntos, que precisamos estar em quase tudo. Deixar nossa marca, nossa impressão.

Além de estarmos em tudo, precisamos estar a par de tudo. Informados sobre tudo que acontece, o tempo todo, em toda parte. Imagina só, não ter opinião sobre algo? Inadmissível! Silêncio? Imperdoável. Você precisa dar sua opinião, e, por favor, bem rápido! Se não se pronunciar, haverá cobranças. É quase como se estivéssemos todos em busca do furo (expressão usada no jornalismo, que significa dar a notícia em primeira mão, antes dos concorrentes) perfeito e cheinho da nossa indispensável e cara opinião.

Para dar essa opinião tão valorosa, não podemos perder nada, nem uma notícia, nem uma tendência. Eis a F.O.M.O, abreviatura para "fear of missing out", ou "medo de ficar por fora". É o nome que se dá a essa espécie de noia contemporânea de não poder perder nada. Não pode estar por fora das notícias, rolês, grupos, enfim, você precisa estar sempre ON. Não por acaso, a expressão já foi completamente abraçada por memes e na comunicação informal. Quando queremos dizer que alguém está "dentro do jogo", "na parada", dizemos que Fulano tá ON. E nem pense em ficar OUT.

Qualquer pauta vale. Comentários das pessoas sobre os outros? Claro que você precisa fazer parte. Dia das crianças? O mundo não pode ficar sem a sua manifestação sobre o universo infantil e sobre aquela sua foto fofinha que, obviamente, todos estão desesperados para ver, curtir e comentar. Halloween? "Nossa, deixa eu preparar minha make aqui pra tombar" ou "Preciso falar sobre quanto eu odeio essa palhaçada yankee. Deixa eu dar um textão aqui".

Maria Homem de Melo escreveu um texto ótimo na "Folha de S. Paulo" sobre esse desejo de nos fazermos presentes até mesmo no luto e na morte alheios. Até a morte do outro PRECISA me incluir.

Nessa busca desenfreada pela informação e por se fazer presente, fico me perguntando o quanto estamos de fato ausentes das nossas realidades. Tem outra sigla massa, que talvez valha a pena conhecer: J.O.M.O. —"joy of missing out", ou "prazer em estar por fora". "A Fazenda"? Não sei. O novo clipe do Iorc? Nem vi. A nova bobagem que o Ministro disse? Perdi. E tá tudo bem.

As coisas vão bem sem a gente, e a gente também pode ir bem quando estamos meio "por fora". Assim, pode ser até que sobre tempo pra dar uma olhadinha pra dentro.