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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em tempos de exposição, é de bom tom lavar roupa suja na internet?

Colunista de Universa

31/08/2021 04h00

"Lavação" pública de roupa suja. Alguma já te impactou? Por aqui, de vez em quando até espirra um pingo de sabão no meu olho através da tela.

A gente sempre teve curiosidade e vontade de saber mais sobre a vida dos outros, né? Livros, folhetins, novelas, filmes, teatro, seriados. A lista é grande. Nesses gêneros, temos a licença poética da ficção para adaptar, claro, histórias inspiradas em vidas reais.

Com as revistas, sites de fofocas e colunas sociais, temos acesso à vida das altas rodas, dos ricos e famosos. Tanto os que se mostram em ilhas e castelos, quanto aquele flagrados à revelia por paparazzi.

Pois bem, não fossem por quatorze minutos e quarenta e cinco segundos, Andy Warhol teria acertado a previsão sobre todos poderem ter seus gloriosos 15 minutos de fama. Na internet, todo mundo tem, de verdade, seus minutos (ops, segundos) de fama.

Hoje, a comédia e a tragédia da vida particular estão postas à mesa e nós mesmos nos tornamos protagonistas das fofocas. E olha que as pessoas se colocam ali por vontade própria. As redes sociais se tornam quase que um divã coletivo

Vale tudo: expor intimidades só suas, expor conversas com amigos, parentes e paqueras... Fofocas de quintal, que bem poderiam se manter na esfera privada, são expostas em detalhes, normalmente para provar a astúcia e ousadia do expositor naquele causo. Para agarrar afeto revestido de biscoito, tudo pode. De episódios sobre tretas com animais de estimação a enfrentamento com vizinha abelhuda e mexeriquenta. Tudo precisa ser compartilhado. Tudo é digno de espetáculo. Corre aqui, Debord, levanta rapidinho e vem dar uma olhada nisso.

O que estamos buscando, afinal? Acolhimento emocional, talvez? Confirmação? Me faz pensar naquelas cenas nas quais os adultos estão muito ocupados fazendo adultices e uma criança clama por atenção. E, depois de minutos de súplicas, finalmente a criança consegue um "ah, que lindo teu desenho" saído de uma boca revestida com um sorriso mecânico, de modo automático e fugaz.

Tá, mas a gente não estava falando de "lavação" de roupa suja? Pois é.

Às vezes, nessa ânsia por atenção e afeto, ao invés de compartilhar apenas rolês que digam respeito a si próprias, as pessoas compartilham prints de conversas e fotos de outros sujeitos que não escolheram essa exposição.

Obviamente, não me refiro aqui à exposições necessárias de crimes, atos ou atitudes que já não condizem (ou não deveriam condizer) com a sociedade civilizada do século XXI. Tô falando de tretinha. Tretinha que envolve um outro, que nem sempre tá ali para se defender. Tô falando sobre expor alguém com a conveniência de ter a audiência ao seu lado. Afinal, são seus "seguidores" e, sobre essa história ser exposta apenas sob um aspecto e um ponto de vista, tem um mundo de coisas.

Sempre bom pensar duas vezes antes de lavar uma roupinha suja em público. São só umas calcinhas, uns sutiãs e umas cuecas? Fecha a cortina e lava de boa. Só você e os envolvidos. Para de caçar assunto torto para se manter relevante e ganhar esses biscoitos estragados das mídias sociais. Ah, você tá a fim de dar lições? Ensinar as pessoas a viverem? Ah, tá, então vai ver como fazer isso usando o bom tom. Dá uma olhadinha nos conteúdos da Ilana Kaplan, que faz isso com garbo, elegância, inteligência e graça.

Entenda, criança, nem tudo é sobre você. Ou será que é? Quem de fato está se expondo? Como diz a já popular frase: "Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo". Se liga aí!