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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você conseguiria manter a simpatia sem dormir nem poder ir ao banheiro?

Paula Fernandes falou sobre pressão do público no "E aí, Beleza?" - UOL
Paula Fernandes falou sobre pressão do público no "E aí, Beleza?" Imagem: UOL

Colunista de Universa

10/08/2021 04h00

Música sertaneja não é muito meu lance. Não, não, minto. Música sertaneja não está na minha lista de mais mais, mas amo cantar alguns clássicos quando bêbada no karaokê. "E daí, garota, quem se importa?", você pode questionar.

É que, assim sendo, eu não era fã da Paula Fernandes e pouco sabia sobre o trabalho dela. Mas, agora, posso dizer que admiro, principalmente para além do talento e da fama. E isso me instigou a repercutir o tema aqui na coluna.

Tenho um programa de entrevistas em Universa, o "E aí, Beleza?". Nele, eu entrevisto mulheres. Mulheres de quem sou fã, mulheres polêmicas, mulheres que não sou tão fã assim, mulheres que me intrigam, mulheres fodástic@s. Uma coisa é certa em todos os casos: quando abre câmera, me ponho a escutar a mulher que está do outro lado da tela. Ponho minhas suposições e o que achava que eu sabia daquela mulher de lado. Fico à disposição da conversa. Foi assim com a Paula Fernandes, uma mulher que me emocionou, me tocou do início ao fim da entrevista.

Começamos falando de beleza e essa mulherona gigante, famosa e amada por tantos, me diz logo de cara que tinha muitos complexos em relação ao rosto. Disse que, de fato, começou a se aceitar e perceber a própria beleza depois dos 30 anos. Alguma semelhança por aí? Ou você sempre se aceitou? Então, guarda essa informação no prontuário da Paula.

Imagina você com as questões habituais de autoestima, sendo pessoa pública, sempre cheia de atenção, olhos e lentes todo tempo apontados em sua direção? Delícia, hein?

Vamos continuar vivendo na pele da Paula mais um pouquinho. Agora você está prestes a se apresentar em um show para milhares de pessoas. Você está indo ali cantar, tocar e ser linda. Poderia ser uma boa ideia ter um banheiro no camarim, não? Aparentemente, não. Aparentemente, esse pedido soava como chilique de diva. "Quem é que precisa de um banheiro antes de um show?" Imagine isso: fazer cocô ou xixi? Um absurdo! Ter uma dorzinha de barriga de nervoso? Manda para dentro de novo, querida. Aqui, não. Aqui precisa ser diva-raiz.

Está pouco? Tem mais. Que tal falarmos daquela fase de sonhos da vida? Aquela fase do brincar e, pra muitos, da alegria e da exploração despreocupada das coisas: a infância. Ainda no início da entrevista, Paula me conta sobre como o pai a prendia no quarto "quando era bem pequena", de onde a tirava apenas para se apresentar para as visitas. "Tinha um momento no qual eu saía do quarto, pegava o violão e me apresentava para as pessoas".

Era a menina prodígio, a galinha dos ovos de ouro da família. Uma criança, desde muito cedo cercada de atenção, expectativas e responsabilidades. E essa herança infantil, obviamente, tem impacto e reflexos na vida adulta. Mas quem quer saber disso?

Aos dezoito anos, Paula teve uma crise depressiva, pudera. Além de toda pressão sobre as costas, com cobranças externas e internas por desempenho, perfeição e sucesso, enfrentou a separação dos pais, a qual nossa amiga culpa naturalmente se encarregou de fazê-la sentir-se responsável.

Ah, mas gente famosa não pode reclamar tanto, eles têm de tudo. Pois é, nessa fase, essa fama da Paula como conhecemos hoje ainda estava por vir.

Aparentemente, ser compositora, instrumentista e cantora não bastam nesse caso. Ela precisa ser simpática. A gente fica se perguntando se isso seria diferente se Paula fosse Paulo, não é, Nina Lemos?

Como qualquer pessoa pública, Paula não pode transitar da maneira como gostaria. Tem uma vida cercada de cuidados em todos os sentidos. Naturalidade? Como é que a gente pode ser natural nesse contexto? Ela ganha a fama e a grana, mas, não se iludam, junto com isso vem um preço altíssimo a ser pago.

A entrevista toda durou mais de uma hora. Precisamos editar, para caber no tempo que a vida moderna dita. Mas adoraria ter podido compartilhar com vocês a íntegra da conversa.

Sobre a fama de Paula de ser antipática, fiquei pensando...

Como eu seria se tivesse sido trancada no quarto quando criança, sendo liberada apenas para "dar show" para as visitas? Se eu precisasse pedir um banheiro para cagar em paz no meu camarim, antes de subir ao palco, onde uma onda de milhares de pessoas espera que eu arrase e muito? E se eu vivesse cercada por expectativa de cantar lindamente, ser bela e perfeita? Quão simpática eu conseguiria ser, quando na noite anterior e nas outras tantas não pude dormir direito?

Conseguiria ser simpática tanto quanto se espera, ou seja, o tempo todo? Em turnê, depois do show, ficar muito pilhada pra dormir e, no dia seguinte, precisar pegar a estrada para seguir a turnê, não sem antes dar entrevistas, fazer fotos e distribuir sorrisos, muitos sorrisos. Já pensou?

As pessoas estão sempre muito prontas a cobrar sobre a vida alheia e a tolerar pouquíssimo. Se o julgado em questão for uma pessoa famosa, o preço é ainda mais alto. Afinal, olhando de fora, essas pessoas têm tudo que se pode querer: talento, grana e fama. Sendo assim, não podem falhar. É quase como se precisassem provar o tempo todo o merecimento por estar 'lá'. Precisam pagar essa penitência de serem perfeitos, sobre-humanos

Paula compartilhou muito com a gente, incluindo esses e outros aspectos da vida e dos sonhos dela. Se você ainda não assistiu, deixo o vídeo a seguir: