P. Diddy sabe que condenação é branda diante das violências que cometeu
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Na última quarta (2), quando Sean Combs, ou P.Diddy, foi absolvido das acusações mais graves que enfrentou, de tráfico sexual e organização criminosa, ele comemorou e agradeceu ao júri, formado por oito homens e quatro mulheres. Sua família aplaudiu o veredito.
O produtor e músico sabe que sua condenação por transporte para fins de prostituição foi a mais branda que podia pegar, diante da montanha de violências que cometeu — e que foram expostas aos jurados e acompanhadas de perto pelo público e pela imprensa.
Do lado de fora do tribunal, fãs celebraram se lambuzando com óleo de bebê. Usado como lubrificante nas festas em que as vítimas disseram ter sido estupradas repetidamente, o óleo de bebê é um dos símbolos das violações sexuais impostas pelo magnata da indústria musical às suas ex-companheiras.
Agora, virou também símbolo do escárnio e do deboche com que vítimas são tratadas pelo sistema de justiça e fora dele. Duas mulheres que mantiveram relacionamentos com o músico testemunharam durante dias, revivendo as humilhações a que foram submetidas. Tudo bastante claro e gráfico.
A defesa admitiu que Sean Combs é um agressor e que houve violência doméstica, mas refutou as acusações apontadas pela promotoria. Mostrou mensagens de texto das mulheres e afirmou que os atos sexuais foram consentidos.
Uma das sobreviventes testemunhou que "as orgias se tornaram um trabalho em que não havia espaço para fazer mais nada além de se recuperar e tentar se sentir normal novamente". Controlada pelo companheiro, que escolhia até a cor de seu esmalte, ela disse participar das festas em que era estuprada por medo de sofrer retaliação e violência. Um vídeo dela apanhando e sendo arrastada pelo músico num hotel dá uma ideia de que ela tinha razão de temer.
O júri de maioria masculina não comprou esse argumento. Desconsiderou a palavra das mulheres e descartou toda a coação a que foram submetidas, sob os olhos de dezenas de testemunhas.
Para os jurados, se as vítimas mantinham um relacionamento afetivo com o acusado, se estavam presentes às festas, se não enfrentaram o seu algoz com socos e gritos, então o consentimento era livre e válido.
Um descompasso da Justiça em relação a todos os avanços na discussão de direitos sexuais das mulheres. Uma prova de que falta educação e legislação sobre consentimento, nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo todo.
A procuradoria de Nova York, responsável pelas acusações, reconheceu num comunicado "as dificuldades que as vítimas de crimes sexuais enfrentam" ao denunciar os seus algozes, e a coragem necessária para contar as suas histórias.
O resultado do julgamento de Combs, que aguarda na cadeia a decisão de um juiz sobre quanto tempo ficará preso, não é só sobre o rapper. É sobre a permissão legal e social que ainda existe para que esse tipo de abuso em série continue acontecendo.
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