Web Summit: Escrever sobre igualdade e mulheres na tecnologia é meu desafio

Ler resumo da notícia
Na última semana, tive a honra de participar e mediar um painel no Web Summit Rio 2025 ao lado de duas mulheres que atuam no mercado digital: Flávia Rosario, diretora de operações da Manychat no Brasil, e Barbara Brito, influenciadora e empresária. A conversa foi potente, reflexiva e trouxe à tona questões urgentes sobre a presença das mulheres na Creator Economy, um dos segmentos que mais crescem no mercado digital.
A Creator Economy é um terreno dominado por mulheres: 70% dos criadores de conteúdo são do sexo feminino, segundo dados da pesquisa da Brunch em parceria com o YouPix. No entanto, esse protagonismo numérico não se reflete em ganhos financeiros ou em representatividade nas lideranças. Flávia trouxe um ponto crucial durante uma conversa que tivemos antes do painel: "Quando eu virei mãe, ficou claro para mim as diferenças que existem no mercado com relação às mulheres, os desafios que a gente enfrenta como mulher".
À frente da operação da Manychat no Brasil, Flávia lidera, entre tantas ações, iniciativas focadas em democratizar o acesso à tecnologia para empoderar pequenas empreendedoras, um dos focos centrais da sua participação no Web Summit.
Durante nossa conversa, ela reforçou o compromisso da plataforma em possibilitar que mulheres em diferentes contextos sociais tenham acesso às ferramentas necessárias para transformar suas ideias em negócios sustentáveis. "A comunicação proporcionou mudanças significativas ao longo dos anos, permitindo que pequenas empreendedoras achassem um nicho de negócio no Instagram e no WhatsApp, e crescessem com ideias próprias," disse Flávia.
A presença feminina nos palcos e corredores do Web Summit foi evidente. Embora 50% do público do evento tenha sido composto por mulheres e metade das startups participantes contassem com fundadoras no comando, a presença de mulheres em palcos de inteligência artificial, blockchain e deep tech ainda é tímida. A Creator Economy mostra que as mulheres sabem criar, inovar e transformar, mas onde estão as oportunidades reais para liderar?
Quando fazemos um recorte mais apurado considerando a raça e a origem destas mulheres ainda estamos aquém de uma realidade que seja realmente inclusiva. Grandes empresas de tecnologia marcam presença nos eventos globais com discursos de inovação e diversidade. No entanto, quando olhamos para suas lideranças e conselhos, a presença feminina e negra é praticamente invisível. De acordo com dados do IBGE, apenas 5% das startups de tecnologia no Brasil são fundadas por mulheres.
É sintomático que, mesmo em um mercado onde as mulheres são maioria, as grandes decisões e o capital circulam em mãos masculinas. A falta de representatividade feminina nas lideranças das empresas de tecnologia e nos palcos dos maiores eventos de inovação do mundo revela uma disparidade estrutural que precisa ser confrontada não só pelas mulheres, mas tendo homens com aliados.
O Web Summit Rio 2025 não é apenas o maior evento de inovação e tecnologia da América Latina; ele representa um marco de visibilidade e conexão para profissionais de todas as partes do mundo. Estar presente em um evento dessa magnitude significa acesso a redes globais de inovação, possibilidades de investimento e trocas que podem redefinir trajetórias. Para mulheres, essa presença é ainda mais significativa é uma forma de ocupar o protagonismo que historicamente nos foi negado.
Investir em mulheres não é uma questão de justiça social apenas é uma estratégia de negócios. Dados mostram que startups lideradas por mulheres geram mais receita com menos investimento, e que a diversidade em cargos de liderança resulta em decisões mais criativas e rentáveis.
Às vezes, sinto que escrevo para o vazio. Entre cada linha que se constrói na tela, existe o eco de uma luta que ainda não se completa. As palavras se expandem em discursos, em textos, em conversas potentes como a que tivemos no Web Summit Rio, mas muitas vezes parecem se perder no ruído de um mercado que ainda não nos enxerga por completo.
Escrever sobre mulheres em tecnologia, sobre igualdade, sobre equidade de gênero, é desafiar uma estrutura que resiste a nos ouvir. Mas eu sigo. Porque acredito que cada frase, cada insight, cada história compartilhada tem o poder de abrir pequenas frestas de transformação.
A colunista participou do Web Summit Rio à convite da Manychat
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.