Cris Guterres

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Opinião

Entre IA, psicodélicos e narrativas negras: O que move o SXSW 2025

Austin segue quente, fervendo de tendências, discussões e insights que nos fazem questionar o futuro. Nos últimos quatro dias de SXSW, mergulhei em debates sobre tecnologia, cultura e saúde mental, refletindo sobre como essas áreas estão moldando nossas vidas. E vim aqui para dividir o que aprendi e que despertou meu interesse.

Amy Webb e a arte de prever o caos

Amy Webb subiu ao palco e, como sempre, não veio para nos confortar. Suas previsões parecem um tapa na cara, seguido de um manual de instruções para não entrarmos em colapso. A inteligência artificial está avançando mais rápido do que qualquer um esperava, e a questão já não é mais se ela vai dominar tudo, mas como vamos lidar com isso.

Ela deixou bem claro: o mundo já está nas mãos de pouquíssimas organizações. E se você tem acompanhado meus textos aqui na coluna, já sabe exatamente quais são as três que mencionei antes. O poder não está sendo distribuído, ele está cada vez mais concentrado, e o que estamos vendo agora não é uma corrida tecnológica justa, mas sim uma centralização extrema da inovação.

Enquanto todos falam sobre novas oportunidades, Amy escancara o que poucos querem admitir: o futuro já foi capturado por poucos, e nós estamos apenas nos adaptando a ele.

E se isso já parecia suficiente para dar um nó na cabeça, Amy lançou outra previsão inquietante: empresas de tecnologia vão começar a criar novas religiões. Sim, isso mesmo. Se hoje já temos CEOs agindo como figuras quase messiânicas, o futuro promete levar isso a um novo patamar, onde corporações poderão transformar ideologias em verdadeiros cultos, misturando espiritualidade com algoritmos. Parece roteiro de ficção científica, mas já estamos meio caminho andado para isso.

O SXSW tem aquele efeito de nos fazer pensar: será que estamos prontos para tudo isso? Ou será que vamos acabar pagando mensalidade para ter acesso ao nosso próprio cérebro?

Issa Rae e o poder de contar histórias

Se tem uma coisa que o SXSW faz bem, é criar momentos em que a gente sente que está no lugar certo. Foi assim quando Issa Rae apareceu, com seu jeito afiado e olhar afetuoso sobre o mercado audiovisual. No painel, ela falou sobre autenticidade, narrativas e a dificuldade de ser uma mulher negra tentando contar histórias sem precisar filtrá-las para o olhar branco. "As oportunidades não aparecem do nada. A gente tem que criá-las", ela disse, e isso resume bem sua trajetória.

Além do papo inspirador, Issa está no festival para lançar o documentário "Seen & Heard", que explora a importância das vozes negras na era de ouro da TV. A sensação de quem estava lá era clara: esse não é só um filme, é um movimento. Issa não está interessada em esperar mudanças, ela está criando as mudanças. E, no final das contas, é esse tipo de energia que faz o SXSW valer a pena.

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Psicodélicos e o futuro da saúde mental

E quando você acha que já viu de tudo, o SXSW aparece com uma palestra que aborda psicodélicos como o próximo benefício corporativo. A princípio, parece um roteiro alternativo de Black Mirror, mas a conversa foi menos ficção e mais uma janela para novas formas de cuidar da mente humana.

Especialistas discutiram como terapias assistidas por substâncias como cetamina e psilocibina têm se mostrado promissoras no tratamento de transtornos mentais resistentes, oferecendo alternativas eficazes para condições como depressão e TEPT (Transtorno de Estresse Pós-traumático).

No painel "Breaking Barriers: Psychedelics as the Next Employee Perk", foram apresentados dados que mostram que problemas de saúde mental geram perdas anuais de US$ 3,7 trilhões em produtividade apenas nos Estados Unidos. A adoção dessas terapias como um benefício corporativo pode não apenas melhorar o bem-estar dos colaboradores, mas também reduzir custos médicos e aumentar a retenção de talentos. No fim é tudo sobre como produzir mais e melhor.

Enquanto essas discussões ecoavam, eu só conseguia pensar no quanto o ser humano gosta de testar seus próprios limites, e como sempre há alguém pronto para transformar isso em tendência.

SXSW 2025: o grande palco da inovação e cultura

Além dessas discussões que mexeram com a nossa percepção do futuro, o SXSW 2025 foi um verdadeiro termômetro do que está por vir no entretenimento, na música e na tecnologia.

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O SXSW Film & TV Festival trouxe estreias aguardadas como 'Another Simple Favor', sequência do sucesso dirigido por Paul Feig, e 'Death of a Unicorn', estrelado por Jenna Ortega e Paul Rudd. Ben Affleck e Matt Damon também marcaram presença com 'The Accountant 2', enquanto o elenco de 'The Last of Us' falou sobre a aguardada segunda temporada.

No campo da tecnologia, o festival trouxe debates sobre computação quântica, segurança digital e a interseção entre IA e criatividade. O impacto da tecnologia na privacidade e na arte foi um dos temas centrais, reforçando que, se a IA vai nos substituir ou nos potencializar, ainda depende das decisões que tomamos hoje.

Casa São Paulo: O Brasil no SXSW

A São Paulo House segue sendo uma das casas mais animadas do SXSW, reunindo criativos, empreendedores e inovadores em um espaço pulsante de trocas, conexões e o delicioso café brasileiro.

Durante o festival, tem sido palco de discussões estratégicas e momentos de celebração, como o anúncio do SP2B, megaconferência que colocará São Paulo no circuito global de inovação e desenvolvimento urbano mundial e que o o orrerá em agosto deste ano no Parque do Ibirapuera.

Entre networking, painéis instigantes e festas memoráveis, o espaço reafirma o Brasil como potência criativa, atraindo olhares e consolidando sua presença no maior evento de inovação do mundo.

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No fim das contas, esses dias de festival foram sobre enxergar o que vem por aí, questionar o que já está aqui e, claro, sobre o simples prazer de estar rodeado por gente interessante, bem vestida e pronta para mudar o mundo, ou pelo menos fingir que está

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