Esposa troféu: uma rotina de sonho ou conto de fadas com data de validade?
Acordar sem despertador, ir pra academia, fazer massagem e dar umas voltas no shopping sem se preocupar com a fatura do cartão. Essa é a rotina dos sonhos da "esposa troféu" que está bombando no TikTok e outras redes sociais.
Uma busca rápida e você vai encontrar uma infinidade de vídeos de mulheres jovens, magras e brancas, todas orgulhosas de serem bancadas pelos maridos. A dependência financeira do parceiro é um dos pilares que sustentam essa vida de "conto de fadas".
A "esposa troféu" das redes sociais não trabalha fora e depende do parceiro para bancar seus luxos. Em cada post, elas mostram a rotina, as viagens pelo mundo, fazem tour pelas casas enormes e se gabam dos procedimentos estéticos e transformações físicas que fazem paa manter a aparência jovem e bonita para o maridão.
Mas será que isso é só uma escolha pessoal por um estilo de vida desejável para algumas mulheres, ou um reflexo de uma sociedade que ainda valoriza a mulher pela aparência e capacidade de agradar ao homem?
Em 2024, a luta pela igualdade de gênero nos levou a defender o direito das mulheres fazerem suas próprias escolhas, inclusive ser uma "esposa troféu". Mas é importante olhar mais fundo e avaliar as questões que vão além de uma trend de redes sociais.
A maioria dessas influenciadoras são brancas, magras e muito jovens, reforçando um padrão de beleza eurocêntrico e excludente. É difícil ver mulheres fora desse padrão se autointitulando "troféu". Isso reforça um tipo específico de beleza, excluindo quem não se encaixa nesses padrões restritivos.
Além disso, a pressão para manter a imagem perfeita é constante e pesada. A ideia de que a beleza feminina está ligada à juventude cria uma pressão enorme para se manter sempre jovem e atraente a qualquer custo. E o que acontece quando essas "esposas troféu" envelhecem? Elas vão continuar sendo valorizadas ou serão trocadas por mulheres mais jovens, como se fossem descartáveis?
Na era das redes sociais, a "esposa troféu" muitas vezes se apresenta como uma mulher empoderada, que escolheu se dedicar ao lar e à família. No entanto, essa escolha muitas vezes esconde uma realidade de trabalho doméstico invisível e não remunerado. Manter a casa impecável, cuidar dos filhos, organizar eventos sociais e atender às necessidades do parceiro demanda tempo e habilidades que não são reconhecidas como deveriam.
Se o relacionamento acabar, ou se o parceiro decidir cortar seus privilégios você tem como manter o mesmo estilo de vida? A dependência financeira pode ser uma armadilha perigosa, que impede a autonomia e deixa a mulher à mercê das vontades do outro. Por isso, é fundamental buscar sua independência financeira.
Você tem poder decisório e acesso aos bens financeiros construídos em conjunto? A maioria dos homens acredita que o dinheiro conquistado com o trabalho dele é apenas dele e isso acontece porque ele não reconhece o trabalho doméstico que foi necessário ser feito por uma mulher para que ele pudesse ascender economicamente.
A ideia de que a mulher exerce o trabalho doméstico por amor foi criada para mascarar a exploração e a desvalorização desse trabalho. Essa dinâmica limita as oportunidades das mulheres e as impede de alcançar seu pleno potencial, tanto pessoal quanto profissional. Lembre-se: um cartão de crédito sem limites pode ser um luxo hoje, mas não garante a sua tranquilidade amanhã.
Se você se identifica com a vida de uma "esposa troféu" ou sonha com esse estilo de vida, vá em frente! Você pode ser o que você quiser e o feminismo lutou e ainda luta muito para que você tenha este direito. Mas pense bem nas implicações a longo prazo.
Invista na sua independência financeira, cultive suas próprias habilidades e tenha seus recursos. Não deixe que sua segurança e bem-estar dependam totalmente de outra pessoa. Afinal, um conto de fadas pode ter data de validade, e é essencial estar preparada para escrever seu próprio final feliz.
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