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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como lidar com a difícil tarefa de ser mãe de um adolescente?

Ainda que seja causa de muitas preocupações, a adolescência dos filhos é mais uma fase em que eles precisam de atenção e amor - Getty Images/iStockphoto
Ainda que seja causa de muitas preocupações, a adolescência dos filhos é mais uma fase em que eles precisam de atenção e amor Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

09/02/2022 04h00

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A hashtag #maedeadolescente passou a fazer parte das minhas postagens em redes sociais há menos de três anos. A responsabilidade em cuidar de um ser em uma idade carregada de estereótipos, em sua imensa maioria negativos, foi uma das escolhas mais egoístas que já fiz na vida. Vou te explicar por quê.

Eu me tornei mãe em 2019 e escolhi a adoção como via de parentalidade. Meu filho chegou em plena fase hormonal. De cada cinco pessoas que habitam o planeta, dois são adolescentes, e um deles, com exatos 14 anos, acabava de chegar na minha vida completamente assustado, querendo fazer parte, mas sem saber exatamente como.

Aliás, saber como fazer era o que eu também procurava descobrir. Na verdade, continuo procurando. Queria ser mãe, mas não sabia como me tornar mãe de alguém que, em razão da sua história, já teve experiências mais intensas do que muitos adultos.

Muito lemos, assistimos e comentamos sobre amamentação, cólica, birra e primeira infância. Menos falamos sobre como lidar com a fase em que o cérebro de nossos filhos se inunda de dopamina, deixando-os mais propensos a correr riscos e buscar novidades à procura de aceitação social.

Aqui em casa, por exemplo, as grandes dúvidas que pairam sobre a minha cabeça dizem respeito a álcool, sexo e bailes. Será que deixo beber em casa? O menino está namorando, incentivo a fazer sexo em casa ou só explico sobre proteção? Proíbo o baile funk ou deixo ir e vou buscar na madrugada? E esse amigo esquisito? Tem cara de quem usa drogas. Será que eu proíbo essa amizade ou tento descobrir com quem meu filho está andando? Aliás, esta pergunta é a que mais dói: com quem e por onde anda este menino?

No auge do meu egoísmo, escolhi ser mãe de adolescente por, entre muitos motivos, acreditar que uma criança iria demandar muito do meu tempo. Só não imaginava que ia preferir ficar de olho em um menino o dia todo a ficar aflita em casa sem saber onde e com quem meu filho está.

Ainda ecoam forte em minha lembrança as frases que a Leni, minha mãe, repetia sempre que eu cometia algo que gerava descontentamento: "Você vai ver quando for mãe, vai se lembrar de tudo o que me fez passar". Diga-se de passagem, se meu filho for aprontar tudo o que aprontei, mentir o tanto que menti e infringir as regras como infringi, estará consolidada a lógica do aqui se faz, aqui se paga.

Mesmo tendo escolhido não viver a fase da mamadeira, imagino que no jogo caótico da maternidade é muito mais fácil procurar respostas para chupeta, fralda, dormir sozinho ou na cama com os pais do que para sexo ou drogas.

O período da adolescência dos filhos é uma fase complicada e com muitos desafios, assim como as outras. Depois que me tornei adulta, descobri que tinha habilidade para me relacionar com adolescentes, por um longo período palestrei em escolas públicas contando para jovens do ensino médio um pouco sobre meus contratempos.

Mesmo me identificando com eles, não fui liberada de viver as dores da minha maternidade com muita intensidade. Senti ódio e angústia em muitos conflitos, mas também senti muito amor. Venho tentando construir uma relação com meu filho com o mínimo de enfrentamentos possíveis. E quando eles acontecem, o que tento é diminuir o impacto negativo que possam causar em nossa relação.

A barreira mais difícil de derrubar tem sido controlar as minhas expectativas com relação ao adulto que meu filho irá se tornar. Sempre me lembro do peso que foi carregar as expectativas que meus pais colocaram sobre minhas costas. Casar virgem e com um homem, fazer faculdade, ser a melhor da classe, nunca usar álcool e drogas, estar todas as noites dormindo tranquila em casa e não ser assunto na boca da vizinhança são só algumas. Eu não atendi à maioria delas.

Conflitos fazem parte de todas as relações humanas. Talvez na adolescência dos filhos, os conflitos intrafamiliares sejam mais intensos por vivermos um momento em que os hormônios trabalham para nos ensinar que a fase da superproteção acabou. Agora eles precisam aprender a ser por eles. Adolescência não é a fase mais problemática dos filhos, é só mais uma em que eles precisam da nossa atenção sem julgamentos e do nosso amor.

Se o gênio da lâmpada aparecesse, pediria a ele as respostas de como ser uma mãe de adolescente que se sente completa e satisfeita todos os dias. Mas como o gênio só existe na ficção, sigo criando um ambiente de amor e segurança para que meu filho não tenha medo de chegar em casa e me contar suas escolhas.