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Ana Paula Xongani

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A moda é política, o corpo é político: não espere o ano eleitoral para agir

2022 é um ano eleitoral, mas todo ano é político! - PeopleImages/iStock
2022 é um ano eleitoral, mas todo ano é político! Imagem: PeopleImages/iStock

Colunista do UOL

24/02/2022 04h00

Esta coluna existe, como sabem, para discutir sociedade. E, obviamente, não há como discutir sociedade sem falarmos sobre algo importante: o fato de este ano ser um ano político. Ou melhor, um ano eleitoral. Aliás, é sobre exatamente isso que quero escrever hoje.

O corpo é político, a moda é política, "se vestir da gente mesma" é um ato político, existir é político (sobretudo sendo um corpo negro), a gente vive dizendo estas coisas, certo? Certo!

Mas parece que quando o ano eleitoral chega, a política "começa". Mas, tem uma parada: todo ano é político!

2022 é um ano eleitoral? Sim!

Mas todo ano é político.

Talvez não devesse, mas acho importante "chover no molhado": é fundamental estarmos atentas a como se movimentam politicamente e o que concretamente fazem as pessoas que votamos, os grupos políticos aos quais elas fazem parte, como se posicionam os partidos etc.

Importante também acompanhar as pessoas que não votamos, mas são atores importantes nas articulações que definem os caminhos do país, seja nas áreas que nos afetam diretamente, seja nas áreas que nos organiza e estrutura como sociedade.

Assim, quando chega o ano eleitoral, a gente tem mais instrumentos para tomar decisões concretas e alinhadas com o que acreditamos e com o que queremos pra gente, pro nosso entorno, para o território que vivemos todos os dias.

Essa reflexão que interage o "ano político" com o "ano eleitoral" veio a partir de uma "xong" (nome que dou à minha fan base nas redes sociais). Quando eu disse que estávamos num ano político, ela me corrigiu dizendo que a gente estava num ano de eleições, porque político era sempre.

Sim, fato! E como não pensar nesse tempo "estendido", considerando o que se vislumbra? 2022 se mostra como uma das eleições mais importantes de nossa história recente, dados os rumos do país, a polarização do debate político, as redes sociais, muita coisa.

Particularmente, penso que este ano exige da gente ação, nos diferentes lugares que estamos presentes.

No meu caso, pode ser esta coluna, meus outros canais de comunicação, nos almoços de família (sim!), grupo de amigos (sim!). Precisa ser constante o hábito de trocar ideia sobre política, sobre as coisas que atravessam nossa rotina, nosso corpo, nossa conta bancária, tudo.

Aqui mesmo, muitas colunas abordam essa perspectiva política no nosso cotidiano:

É político falar sobre moda, colocando a periferia como centro, como fiz aqui na coluna "Descolonize o olhar: o que você chama de sustentabilidade, a periferia sempre fez".

É político falar sobre acesso nos processos criativos de moda, como na coluna que escrevi sobre "BBB": "Recado para Tiago Abravanel: pobre precisa de acesso, não de criatividade".

É político falar sobre corporalidade, assim como no texto "Intersexo, gorda e preta: por que a moda não está preparada para Bielo".

É político falar sobre moda e mulheres lésbicas assim como escrevi em duas oportunidades: "Preta Caminhão saiu do armário 2 vezes e encontrou na moda seu lugar de liberdade" e "A moda abraça ou subtrai um corpo sapatão?".

É político a gente falar sobre reconstruir a história de mulheres negras a partir de uma análise histórica das imagens de moda, como na coluna "Moda é documento".

Se você gosta de moda e a entende como instrumento importante de expressão, é importante entendê-la como instrumento do fazer político.

Aí está uma série de colunas que abordam as coisas desta forma. Depois, não dá pra dizer que não sabe, hein?