Seu prazer é só seu: por que orgasmo não é um presente para alguém te dar

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Dizem por aí: "Fulano é tão bom de cama, ele me dá orgasmos incríveis!" Pois eu sinto muito estragar a fantasia, mas a verdade é simples e libertadora: ninguém dá orgasmo a ninguém.
Sabe por quê? Porque, na prática, não é sobre o que o outro faz, mas sobre como você se permite sentir.
Se orgasmo fosse presente, a gente embrulhava num laço vermelho, entregava no Natal, no aniversário, no Dia dos Namorados: "Toma aqui, meu bem, seu pacotinho de orgasmos!" Se fosse assim, já tinha até serviço de delivery!
Imagina só: dava para fazer lista de casamento: "Precisamos de talheres, panela de pressão e uns 50 orgasmos prontos pra usar." E, claro, para quem está com o orçamento apertado, parcelava: "3 orgasmos hoje, 2 semana que vem, o resto a gente acerta até o final do mês!"
Mas a verdade é que, embora ninguém dê orgasmo para ninguém, o outro pode sim facilitar o processo: sendo aberto, curioso sobre o nosso corpo e vontades, disposto a perguntar, a ouvir, a experimentar sem pressa. Pode ser bem-intencionado em estimular nossos pontos erógenos, saber usar língua, dedos, brinquedos, ser habilidoso. Mesmo assim — muitas vezes só isso não basta.
Porque prazer é uma via de mão dupla: se de um lado há entrega e estímulo, do outro precisa haver permissão, presença, conexão. E isso é seu.
A maioria das mulheres chega ao clímax quando tem conexão com o próprio corpo, quando se autoriza, quando não fica prisioneira de vergonha, culpa ou pensamentos que não têm nada a ver com o prazer.
E mesmo sabendo disso, tanta gente ainda se contenta com um sexo sem graça — quando não doloroso.
A gente cresce associando sexo a penetração. Só que, para grande parte das mulheres, o prazer mora mesmo é no clitóris, que precisa de estímulo direto para acender de verdade.
A Lili Loofbourow, num texto que ecoa até hoje ("O preço feminino do prazer masculino"), escreveu uma frase que martela na minha cabeça: "As mulheres são socializadas para se sentirem desconfortáveis na maior parte do tempo. E para ignorar esse desconforto". É isso. A gente aprende a transar sem tesão para agradar. Aprende a ficar quieta quando dói. Aprende a fingir orgasmo porque "senão ele vai ficar chateado".
E esse ciclo se repete — relação após relação.
Mas se você está solteira agora, aproveita esse recomeço para colocar o seu prazer na lista de prioridades. Quer uma dica prática? Sem medo, sem vergonha: estimule o próprio clitóris junto da penetração. Use as mãos, use um toy, use o que te fizer sentir viva. Ninguém vai gozar no seu lugar — infelizmente não existe Pix de orgasmo.
Quantas vezes, mesmo com uma parceria dedicada, a cabeça vai longe: "Será que tá cheirando bem?", "Será que ele tá cansado?", "Será que minha vulva é bonita?" Nesse clima, não há língua milagrosa que resolva. Relaxar e gozar é mais do que uma frase de camiseta — é uma decisão.
Então, faça um acordo consigo mesma: masturbe-se, conheça seu corpo, descubra o que gosta. E quando estiver com alguém, converse, negocie, combine — ritmo, intensidade, posição. Sexo bom não é presente, é construção.
E se a outra pessoa achar esquisito? Pense duas vezes antes de sair de novo.
No fim das contas, ser independente no orgasmo é o primeiro passo pra viver relações mais livres, honestas e verdadeiramente prazerosas.
Ninguém dá orgasmo a ninguém — só você pode se permitir sentir.
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