Ela não percebia que ele gozava rápido até os dois sentarem num divã

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Se ele não tivesse procurado ajuda, ela provavelmente jamais saberia. Pode parecer estranho imaginar que uma mulher não perceba que o parceiro ejacula rápido, mas não é.
A percepção, afinal, é algo profundamente subjetivo. Cada pessoa constrói seus próprios referenciais a partir das experiências que viveu, das crenças que carrega, do conhecimento que tem, da forma como percebe seu próprio corpo e das emoções que surgem nas situações.
Renato é daqueles caras que valorizam muito sua própria competência, especialmente no trabalho. É dedicado, eficiente, e, apesar de toda sua capacidade, vive travando batalhas internas contra a insegurança — principalmente quando assume novas funções. Está na mesma empresa há muitos anos e, por diversas vezes, deixou escapar oportunidades por medo de trocar o certo pelo duvidoso. Prefere a segurança do que já conhece. Atualmente, lidera toda uma área, controla cada detalhe dos processos e carrega, junto com a responsabilidade, uma boa dose de tensão e ansiedade.
No campo afetivo, sua vida é tranquila. Está numa relação estável com uma mulher ativa, que também ama trabalhar e compartilha valores e rotinas parecidas com as dele. Mas, como bem sabemos, a vida nunca é um mar de rosas o tempo todo. Sempre há alguma pedra no caminho nos lembrando que somos, sim, humanos — e imperfeitos.
Talvez o momento de mais estabilidade tenha lhe dado coragem para olhar para uma questão que sempre evitou: seu desempenho sexual. Ou, quem sabe, sentindo-se mais fortalecido, conseguiu, enfim, dividir isso com alguém. O fato é que, meio sem jeito, chegou até mim. Renato relatava que gozava rápido demais.
Mas, afinal... rápido para quem? Essa também é uma percepção subjetiva. Existe, claro, um critério técnico que aparece em manuais de diagnóstico: ejacular em menos de um minuto após o início da penetração. Houve época em que se media até pelo número de movimentos — dez, no máximo.
Mas, convenhamos, isso nunca foi o mais relevante. O que realmente importa é o quanto essa questão traz sofrimento físico ou emocional, tanto para quem vive quanto para quem se relaciona com essa pessoa. E Renato tinha clareza de que isso o afetava profundamente. Já sobre a esposa... bem, ele não tinha tanta certeza assim.
Desde o primeiro encontro, conversamos sobre a importância de trazê-la para o processo. E ele? Recusou prontamente. Afinal, depois de mais de sete anos de casamento, ele NUNCA havia tocado nesse assunto com ela. Iniciamos então um trabalho focado em fortalecer sua autoestima no campo sexual.
Ele aprendeu técnicas para reduzir a ansiedade e também práticas masturbatórias para treinar o controle ejaculatório. Expandimos a conversa para outros aspectos da vida: trabalho, família (onde ele também carregava o peso de ser o responsável por tudo), entre outros. Aos poucos, ele melhorou bastante no treino individual, mas ainda entrava nas relações sexuais com aquele medo paralisante de ouvir, um dia: "Ué? já?"
Depois de muita conversa, consegui convencê-lo de que, sem abrir esse diálogo com a parceira, seria muito mais difícil avançar. E, enfim, ele criou coragem. Falou com ela. Explicou? do jeito que deu, claro - nem disse direito que tipo de terapia era. O fato é que ela aceitou ir. Subiu sozinha, enquanto ele ficou lá embaixo, quase tendo uma crise de ansiedade.
Nos cinco primeiros minutos, eu já tinha entendido: ela não fazia a menor ideia do que se tratava. Quando eu disse as palavras "ejaculação precoce", seu rosto misturava surpresa e um enorme alívio. Levou uns bons dez minutos até ela, de fato, conseguir focar no tema.
Fomos, então, entendendo juntas como funcionava o script sexual desse casal. E percebi que aquele roteiro até ali funcionava muito bem para ela: ele investia pesado nos beijos, fazia questão de oferecer um sexo oral absolutamente dedicado e só a penetrava quando ela já estava no auge da excitação — quase no orgasmo.
Esse encaixe fazia com que ela chegasse ao clímax de forma combinada (estimulação clitoriana somada à penetração). Depois, no pós-orgasmo, ela ficava ali, meio flutuando na sensação, meio sensível, sem querer muito toque. E, assim, o fato de ele ejacular logo em seguida nunca tinha sido um problema. Pelo menos, não para ela.
Quando começamos a explorar o tema mais profundamente, ela foi se dando conta de que, sim, a penetração era breve. E, sim, que o marido, de certo modo, evitava sair daquele roteiro tão seguro, o que acabava limitando até a própria participação ativa dela no sexo.
O que mais a surpreendeu — e emocionou — foi perceber o quanto aquele homem que ela amava vinha sofrendo. E havia muito tempo. E em silêncio.
Quando ele entrou na sala e se sentou ao lado dela, de frente para mim, visivelmente envergonhado, ela, com toda a delicadeza do mundo, segurou o rosto dele com as duas mãos, olhou fundo nos seus olhos, deu-lhe um beijo e o abraçou de um jeito tão inteiro, tão genuíno? que nós três choramos. Eu, claro, discretamente. Afinal, uma terapeuta não pode parecer emocionada demais, né? (Ou pode? vai saber.)
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