Gozou? Fui o melhor? Deseja outros? As mentiras que contamos depois do sexo

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Você já mentiu depois do sexo? Disse que foi incrível quando, na verdade, estava pensando no e-mail que esqueceu de mandar? Fingiu que teve um orgasmo para não magoar a outra pessoa? Ou contou uma versão "editada" da sua vida sexual passada só para não lidar com ciúmes desnecessários?
Pois é. Todo mundo já deu uma floreada aqui e ali. Homens, mulheres, pessoas não-binárias — ninguém escapa dessa artimanha ancestral chamada "mentirinha do bem" (ou do mal, dependendo do contexto). Às vezes fazemos isso por defesa. Outras, por hábito. Outras ainda por medo de não corresponder às expectativas.
A questão é: qual é o custo da mentira? Será que não estamos, ao tentar proteger o ego do outro, traindo nossa própria experiência?
Com quantos você foi para a cama?
Uma pesquisa da Universidade de Michigan revelou que 60% das pessoas entrevistadas já mentiram durante ou logo após o sexo, principalmente sobre orgasmo, número de parcerias anteriores e satisfação geral. Outro estudo publicado no Journal of Sex Research fez um experimento curioso: pediu a homens e mulheres que relatassem quantas parcerias sexuais já haviam tido. Depois, conectou parte do grupo a um detector de mentiras.
O resultado? As mulheres aumentaram seus números e os homens diminuíram. Ou seja, sem julgamento à vista, as verdades aparecem — e às vezes surpreendem. Isso mostra como ainda estamos tentando caber em padrões de comportamento sexual moldados pela expectativa social e não pela nossa própria trajetória.
Você gozou?
Mentir, nesse caso, pode parecer pequeno, mas revela o tamanho da nossa dificuldade em lidar com o que é imperfeito. É mais fácil fingir um orgasmo do que lidar com as emoções do "não cheguei lá", principalmente quando muitas pessoas acham que o prazer do outro é uma avaliação da própria performance.
A Daniela, por exemplo, me contou que às vezes diz que gozou só para encerrar o assunto. "Eu gosto de transar, mas tem vezes que não rola o orgasmo. Não é culpa dele, mas eu finjo que foi ótimo. Não quero frustrar, sabe?" É compreensível, mas também é solitário.
Você tem vontade de transar com outras pessoas?
E não pense que mentir no campo da sexualidade é uma prerrogativa de pessoas com visão tradicional. A Marina, de 39 anos, vive um relacionamento não-monogâmico há quase três. Ela se considera livre, aberta, muito bem resolvida com a própria sexualidade, "Mas volta e meia eu minto", ela confessa.
"Falo que não transei com ninguém na última semana, só para não lidar com os ciúmes do parceiro. É um tipo de mentira 'protetora'. Eu sei que não precisava mentir, mas às vezes fico cansada de ter que justificar o tempo todo meus desejos."
Eu sou a pessoa que você melhor transou?
Das mentiras comuns existe o clássico: "Você é a melhor pessoa com quem eu já transei". Uhum. Talvez sim, talvez não. Mas você realmente quer saber a resposta honesta?
Um estudo publicado na revista Archives of Sexual Behavior aponta que tanto homens quanto mulheres adaptam suas respostas em função da expectativa da parceria. Traduzindo: a gente mente para não ferir, mas também para preservar a imagem que queremos que o outro tenha de nós.
Claro que há níveis. Mentirinhas de vaidade, de preservação ou mesmo de afeto fazem parte do jogo social. Mas se elas se acumulam, pode estar aí um sintoma: dificuldade de comunicação sexual.
Porque, veja, a verdade também pode ser um presente. Dizer que não gozou — e tudo bem com isso — pode abrir espaço para uma intimidade mais verdadeira, para explorar o corpo com calma, rir das tentativas, ajustar o ritmo, experimentar outras formas de prazer.
Como diz a pesquisadora Emily Nagoski, autora de Come as You Are, "o prazer sexual não é algo que se performa, mas algo que se constrói a dois (ou a três, ou sozinhos) — com segurança, verdade e aceitação."
Então da próxima vez que alguém perguntar algo que lhe acenda a vontade de blefar, respire fundo. Talvez a melhor resposta não esteja no sim ou no não, mas no que se pode construir a partir da pergunta.
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