Ana Canosa

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Opinião

Tesão recolhido: as transas que a gente quase teve (e não esqueceu)

Fiz uma coletânea de tesões recolhidos. Histórias de sexo que não aconteceram por razões óbvias, esdrúxulas ou simplesmente humanas. Desejos guardados, vontades interrompidas, corpos que não chegaram a se tocar — mas ficaram ali, pulsando na memória. Gente que desejou profundamente... mas na hora H, recuou.

Você talvez não seja o(a) destinatário(a) das deliciosas declarações a seguir, mas muito provavelmente já teve alguém que, se pudesse, voltava atrás.

1. Para meu cunhado

"Quando você apareceu lá em casa, as coisas passaram dos limites. A minha irmã, que já era a mais bonita, a mais legal e a mais inteligente, agora estava namorando um cara mais velho, charmoso e 100% interessante. Fiquei doente. Dei em cima de você com todas as minhas forças. Desculpa. Naquela festa da Tia Carola, quando ficamos sozinhos, bêbados, no banheiro da suíte... eu simplesmente não consegui. Tinha um vidro de alfazema em cima da pia — presente da minha irmã para a tia Carola. Passei de pequeno demônio a boa menina em questão de segundos. Culpa da alfazema."

2. O paciente

"Eu não me lancei no sofá porque segui a ética profissional. Mais que isso, me agarrei ao bom comportamento. Fingi que não entendi nenhuma das suas cantadas sutis. Mas confesso: pensei. Desejei. Inúmeras vezes. Principalmente quando você falava das suas aventuras sexuais, quase como provocação. Cheguei a sonhar que fazíamos amor enlouquecidamente numa praça pública. Freud viraria na tumba. Eu sabia, desde o início, quando te vi na sala de espera. Podia ter dito que não tinha horário. Que sua queixa não era minha área. Mas preferi ter você como paciente mesmo. Mal resolvido para mim."

3. Chefinha

"Claro que fiquei com medo de perder o emprego, de nossa boa relação profissional desandar. Sem falar na rádio-peão, no risco de virar assunto de happy hour. Mas, de verdade, tudo isso foi desculpa para eu justificar o medo que senti das suas investidas tímidas. E como eu adoro tímidas... Estava claro que ia dar jogo. Ia dar liga. Ia ser bom. No elevador. Na sala de reunião. Na escada de incêndio. E o que eu faria depois? Fiquei com medo do depois. De balançar minha estabilidade emocional, minha relação amorosa, minha vida. E desempregado, teria que retomar a terapia — mal tinha recebido alta há 8 meses! Financeiramente, não compensava."

4. E la nave va

"Foi durante uma viagem de navio. Parecia impossível resistir. Seus olhos, que refletiam a cor do Mediterrâneo, me seguiam por todos os cantos. E sua voz sempre vinha com elogios certeiros, daqueles que desarmam. Quando percebi, estávamos brindando a madrugada com champanhe e promessas. Sozinha na cabine, era impossível dormir com suas mensagens insistentes. Meu coração disparava, e as fantasias se multiplicavam. Apesar dos convites, não fui para a cabine dela. Eu tinha acabado de me casar - e com um homem. Contei a verdade. Ela achava que a viagem deveria continuar. Trocamos contatos. Dei o número errado. Até hoje me lembro do seu cheiro e do tom da sua voz. E fico imaginando como seria se eu não tivesse resistido."

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O desejo, às vezes, não vira carne. Fica só ideia. E mesmo assim, deixa marcas. O 'quase' pode ser mais potente que o 'foi'. Talvez porque, no quase, ainda mora a fantasia: intacta e uma possibilidade sem fim.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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