Dá para ser feliz solteiro? Casamento como 'salvação' tem dias contados

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Na cultura judaico-cristã, o casamento parece um destino inevitável, um roteiro já escrito para a felicidade. Crescemos ouvindo histórias de amor que terminam no "felizes para sempre", como se a plenitude só fosse alcançada através da conjugalidade.
Mas e aqueles que seguem um caminho diferente? Os solteiros/as, por escolha ou circunstância, são muitas vezes vistos como incompletos, personagens de uma narrativa incompreendida.
O termo "matrimania", criado por Bella DePaulo, descreve essa obsessão social pelo casamento. Acreditamos que a felicidade plena só existe dentro de uma relação formal, reforçando preconceitos contra aqueles que vivem sozinhos.
O "singlism" — discriminação contra solteiros — permeia nosso cotidiano de forma sutil e cruel. A solteirice raramente é percebida como uma escolha legítima, mas como um estágio temporário, uma falha ou, pior, um sinal de inadequação.
Essa visão nos leva a desconfiar dos solteiros. Imaginamos que há algo errado com eles: talvez tenham uma personalidade difícil, escondam um segredo obscuro ou simplesmente não sejam bons o suficiente para serem escolhidos.
A sociedade ainda valoriza a estabilidade dos casados, associando-lhes características como responsabilidade e confiabilidade. Assim, as pessoas solteiras parecem sempre precisar provar que são dignas de respeito.
Mas o mundo está mudando. O número de pessoas que optam por viver sozinhas cresce a cada dia.
Há muitas razões para isso: feminismo, urbanização, avanços tecnológicos, independência financeira. Muitos não precisam mais de um casamento para garantir segurança emocional ou material. A privacidade e a liberdade tornaram-se valores preciosos, e construir um projeto de vida individual passou a ser uma opção viável e, para alguns, até preferível.
Estudos sugerem que pessoas casadas são mais felizes, mas será que essa comparação faz sentido? Se vivemos em uma cultura que impõe o casamento como um objetivo essencial, não é natural que os solteiros sintam uma certa inadequação?
O bem-estar global, aquele que vem da realização de um projeto de vida, pode estar atrelado ao casamento para alguns, mas o bem-estar diário — a alegria nas pequenas coisas — não depende do estado civil. Ter relações interpessoais positivas, estar cercado de amigos e cultivar uma rede de apoio podem ser tão satisfatórios quanto um relacionamento conjugal.
A vida a dois pode oferecer conforto, mas também traz desafios. Muitas pessoas casadas vivem relações desprovidas de intimidade emocional, onde o afeto é forjado e a individualidade é reprimida. O casamento, longe de ser um conto de fadas, exige esforço contínuo, e nem sempre cumpre a promessa de felicidade.
Em contrapartida, a solteirice pode significar autonomia, escolhas próprias e liberdade para estabelecer conexões genuínas, sem a obrigação de se enquadrar em um modelo tradicional.
O medo de ser solteiro muitas vezes nasce da insegurança em estar só, mas estar casado não garante companhia verdadeira. Muitos vivem relações vazias apenas para evitar o rótulo de "solteiro", mantendo casamentos infelizes por anos, presos à ideia de que é melhor estar com alguém do que enfrentar a solidão.
Mas e se mudássemos essa perspectiva? E se enxergássemos a solteirice não como um vazio, mas como um espaço para crescimento, autoconhecimento e satisfação pessoal?
No final, o que importa não é seguir um modelo predefinido, mas encontrar um caminho que faça sentido para cada um. O amor pode estar no casamento, mas também nas amizades, na família, no prazer da própria companhia.
A felicidade não é uma fórmula universal; é um processo pessoal, uma construção diária que pode existir tanto na vida a dois quanto na liberdade de estar só.
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