O que faz tantas mulheres serem uma 'estrela-do-mar' na hora de transar?

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Manoel tem 39 anos e está casado há 8. É um homem que sempre gostou muito de sexo, que valoriza experiências diversas e tem ótimo conhecimento do que o excita. Entende o corpo como um parque de diversões e cuida dele como ninguém.
Mas como a vida é cheia de pegadinhas e as escolhas amorosas nunca são meramente uma obra do destino escrito nas estrelas, sua esposa não tem o mesmo interesse. Com frequência ela acha que ele é "tarado" e que, portanto, estaria disposto a fazer sexo com qualquer pessoa, o que o deixa extremamente incomodado.
Durante muito tempo, ele foi uma espécie de mentor sexual para ela, mostrando como práticas sexuais que ela nunca havia experimentado podem ser divertidas e não arruinar a relação amorosa deles - o que foi aumentando o repertório do casal e melhorando sobremaneira a relação sexual dos dois. Vale reforçar que ele ama estudar profundamente qualquer assunto que atravesse a sua vida e tem prazer em contar todas as suas descobertas.
Para desconstruir a imagem do "tarado", ele sempre deixou claro que seu maior interesse era pela esposa, por quem tem atração e desejo sexual - e com tesão (e paciência), sempre tratou o corpo da esposa como uma obra espetacular, a admirar e tocar com cuidado e devoção.
E foi aí que Andréa se habitou a ser uma verdadeira 'estrela-do-mar', um corpo com os braços e pernas abertas, aderido a alguma superfície, aguardando o molejo e a lambida das ondas.
Essa posição passiva, de ser agradada como uma deusa, ficou deveras habitual, marcando uma espécie de jeito de fazer sexo, que funciona para eles. Sabemos que os casais têm mesmo essa tendência de recorrerem ao modelo já adaptado, no entanto, o formato enjoa e as mudanças podem encontrar resistências.
Não é a primeira vez que escuto - principalmente dos homens - a queixa atual de Manoel, que gostaria que Andrea fosse mais ativa e se dedicasse ao corpo dele como a um templo que deve ser zelado.
Considerando a necessidade de Manoel se sentir desejado como legítima e a urgência de desconstruir aos poucos o script da relação sexual do casal, é importante reforçar que o modelo "estrela-do-mar" também é resultado de uma construção social sobre como homens e mulheres "devem" se comportar, sexualmente falando.
Como esperar atitude desejante de mulheres que foram educadas para serem desejadas?
Esse papo parece ultrapassado, mas eu não estou falando de um casal da geração baby boomer, nem de pessoas que não tem acesso a informações de toda ordem. Diria até que vivem em contextos bastante progressistas. Mas comportamentos podem demorar muito a se modificarem, por estarem acompanhados de emoções negativas, como culpa, medo ou raiva. É certamente mais fácil lidar com a ideia diferente, do que agir de outra maneira.
A mudança acontece primeiro na esfera racional, só depois as emoções são capazes de mudar de rumo, dando espaço para outras. Muitas mulheres não sabem como entrar em contato com um erotismo mais autônomo e ativo. Não se sentem sexy, acham que não saberão agradar, que seus corpos não são atraentes para ficarem em movimento. E outras tem dificuldade de ver beleza na "passividade masculina", outra crença enraizada na cultura.
Claro que é preciso pontuar que muitas pessoas adotam a posição "estrela-do-mar" e a reproduzem não por dificuldade de assumir outra postura, mas porque adoram ficar assim, estateladas para o desfrute.
De qualquer modo, acho importante que os casais tenham flexibilidade para negociar maneiras de fazer sexo que contemplem todos os envolvidos/as, pois que assim também estarão a fazer amor.
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