Ana Canosa

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Opinião

Nem sempre a lubrificação é sinal de que a mulher está excitada

Compreender a interação íntima entre mente e corpo é essencial para pesar o valor da subjetividade no prazer sexual das mulheres. Nem sempre o preparo para a intimidade se revela através da lubrificação, que pode ocorrer em resposta a diversos estímulos —nem todos necessariamente limitados às preferências pessoais.

Por exemplo, uma cena erótica pode provocar uma ocorrência física —excitação objetiva—, sem gerar um envolvimento emocional profundo —excitação subjetiva. Para que a motivação sexual seja eficaz, é crucial que a mulher sinta essa ativação interna; entretanto, pode acontecer o inverso: a sensação de emoção pode estar presente sem que haja lubrificação adequada, devido a alguma alteração fisiológica.

Diferente do padrão linear frequentemente observado na resposta masculina —que evolui do desejo para a motivação e, por fim, para o orgasmo—, a dinâmica feminina adota uma trajetória mais circular. Inicialmente, há uma predisposição para o envolvimento íntimo, seguida por uma ativação derivada de estímulos visuais, auditivos, táteis ou mesmo imaginativos. Ao se sentir energizada, a mulher passa a desejar que a experiência continue, podendo essa progressão culminar no clímax. Assim, a abertura para o sexo pode emergir tanto do impulso espontâneo quanto da motivação provocada pelos estímulos.

Essa compreensão contribuiu significativamente para "despatologizar" a ausência do desejo espontâneo, explicada, em parte, pela menor presença de testosterona —um hormônio importante na promoção do impulso físico e na sensação de acumulação de tensão sexual. Além dele, outros hormônios como o estrogênio e a progesterona também influenciam significativamente o impulso e a sensibilidade ao prazer.

Essas variações hormonais explicam por que, nas diferentes fases do ciclo menstrual, a intensidade da atração e da lubrificação varia. Portanto, sentir o desejo ou ter uma resposta física moderada em determinados momentos não indica, necessariamente, um problema, mas sim a complexidade da regulação hormonal do corpo feminino.

É comum que, nas relações íntimas heterossexuais, os parceiros considerem a lubrificação vaginal como o indicativo principal da "prontidão" para a penetração. No entanto, esta avaliação pode ser equivocada, já que a resposta sexual feminina depende de outros componentes, como uma mente conectada a experiência de prazer. Práticas que envolvem toques, beijos e carícias por todo o corpo são essenciais para despertar os sentidos e estimular o desejo, desafiando a ideia de que as "preliminares" sejam secundárias a um ato centrado exclusivamente na penetração.

É importante também considerar o erotismo que pode engajar as mulheres na atividade sexual, quando não estavam com sexo "na cabeça". Algumas podem preferir contextos "românticos", outras gostam de ser pegas de surpresa, com uma abordagem mais direta e envolvente. Aqui a comunicação é extremamente importante para que a intimidade sexual favoreça o sexo acontecer de maneira prazerosa para ambos.

Muitas mulheres percebem uma distância entre a resposta física e a sensação interna de prazer, especialmente quando pensamentos dispersos interferem na ativação do desejo. Estimular a imaginação, evocando fantasias sexuais, pode ser uma estratégia eficaz para integrar o erotismo à experiência sensorial. Assim, conhecer o próprio funcionamento da resposta sexual é fundamental para vivenciar uma experiência íntima e satisfatória.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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