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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que é sexy falar no sexo? Spoiler: 'bunda branca' está fora de lista

Igor Alecsander/Getty Images
Imagem: Igor Alecsander/Getty Images

Colunista de Universa

24/05/2022 04h00

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Sexo silencioso não agrada a todos. Às vezes só uma leve arfada já pode indicar satisfação e ser combustível para a excitação, mas a maioria gosta mesmo é de gemidos. Conheço pessoas que se distraem com facilidade e se alguém trouxer muitas narrativas durante o sexo, especialmente quando não tem relação com as suas próprias fantasias, o falatório atrapalha a concentração. Devemos evitar o estilo transmissão de partida de futebol, ou corrida de F1 - nunca conheci quem gostasse.

Em relações sexuais casuais, é sempre um risco trazer uma temática específica, já que não se conhece a outra pessoa, então sugiro um sexting antes do encontro físico, que pode ajudar a investigar o que agrada ou não. Existem palavreados que já indicam que tipo de fantasia sexual excita a parceria; mesmo assim nem sempre se acerta.

Certa vez um conhecido me contou uma história bizarra. Ele saiu com uma mulher e, depois de algumas bebidas no bar, foram para o motel. "Lá, já nus, entre beijos e carícias, eis que ela muito excitada, muito excitada [sim, ele fez questão de frisar essa parte], soltou a franga. Pediu para que eu a chamasse de todos os nomes ofensivos que eu conhecia", ele me disse.

Então, meu colega começou a soltar o verbo, chamando a parceira de v*, p*, etc. Seguiu-se a cena: "Chegou uma hora que havia acabado meu repertório e não sabia mais o que falar. Foi quando a chamei de 'bunda branca', por causa da marca do biquíni. A moça ficou muito brava. Virou para mim e disse: 'Bunda branca não! Pedi para você me xingar e não para me ofender'." A transa acabou ali mesmo, já que o sujeito não parava de rir.

Uma quebra no enredo pode fazer grandes estragos, assim como qualquer menção que, mesmo que não intencional, sugira uma crítica ao corpo. Quando uma mulher brasileira escuta "sua bunda branca", pode entender que a outra pessoa está criticando, sugerindo que faltou sol naquele latifúndio. E, convenhamos, "bunda branca" não tinha associação alguma com toda a sacanagem envolvida naquele momento lindo.

Na verdade, o que faltou para o colega foi desenrolar o sentido e não se fixar nas palavras. Bastava desenvolver frases que montariam um enredo para a tal "v*", do tipo: "Você não aguenta ver um p* grosso, né?" Pronto, estava feito. Vamos voltar a fazer aquele exercício de se colocar no lugar do outro: o que um homem pensaria se a moça, depois de chamá-lo de gostoso, tesudo, garanhão, soltasse um "seu p* rosa"? B-R-O-C-H-A-N-T-E. Quanto menos intimidade você tem com alguém, mais risco de ser mal interpretado - e vice-versa.

Às vezes a conversa sexual acaba em riso, quando se arrisca usar seres astrais, animais, ou personagens conhecidos. Um colega, por exemplo, entrou no bar e deu de cara com um paraibano - segundo ele tem "tara" - troncudinho e peludinho, barba por fazer, cabelos curtos e escuros. Foram para o motel no meio da noite, rala vai, rala vem, um fica de quatro, outro se posiciona e quando começaram a festa, o cavaleiro pede para a égua relinchar e a égua? "ióóóóóó, ióóóóó", zurra como uma burra empacada. Resultado: tanto cavaleiro quanto égua brocham de tanto rir e se tornam bons amigos. Não houve sexo.

Mas olha que, mesmo em relações de compromisso, estamos arriscados a desagradar. Uma outra paciente minha, no meio do sexo com o namorado, pediu para que ele a chamasse de p*. Ele parou ali mesmo, olhou bem para ela com cara de reprovação e só não perdeu a ereção por um milagre divino. Nunca mais ela abriu a boca - o que contribuiu para acabar com o namoro.

É preciso ter jogo de cintura para contornar essas situações. Meu colega da bunda branca, por exemplo, deveria ter acalmado a fera acariciando, lambendo e mordiscando o derrière, sussurrando que aquela era, sem dúvida, a bunda mais linda e alva (sim, um pouco de poesia nessa hora cai bem) que ele já viu na vida. Garanto que era suficiente para reverter a situação.