Topo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro tenta conquistar voto feminino, mas não consegue. Por quê?

O presidente Jair Bolsonaro (PL): rejeição de 61% entre eleitoras                         - Isac Nóbrega/PR
O presidente Jair Bolsonaro (PL): rejeição de 61% entre eleitoras Imagem: Isac Nóbrega/PR
Hannah Maruci Aflalo

Colaboração para Universa

07/07/2022 04h00

De acordo com a última pesquisa do Datafolha, divulgada em 30 de maio, sobre intenção de voto para 2022, a rejeição a Jair Bolsonaro se mantém alta entre mulheres de todas as faixas de renda, da mais alta à mais baixa. Ao contrário dos homens que, quanto maior a renda, maior apoio ao atual presidente. No geral, o rejeitam 61% das entrevistadas.

Ao mesmo tempo, as notícias falam de esforços da campanha de Bolsonaro para conquistar o eleitorado feminino, seja por meio do uso da figura de Michelle Bolsonaro ou por sanções de última hora de leis direcionadas à população feminina. Mas os efeitos não foram sentidos na opinião pública. Por quê?

Porque quem sente na pele todos os dias os efeitos materiais de um governo misógino e classista não se engana por uma tentativa apressada de recuperação de votos. Quem não se enxerga nas pessoas que estão no poder não se confunde pela imagem de uma primeira-dama que busca se aproximar do eleitorado feminino. Quem não passava fome e agora não consegue alimentar sua família não quer saber de encenações no horário eleitoral.

Que o foco de seu trabalho não teria como prioridade as mulheres era sabido desde sua eleição. As ofensas e declarações misóginas permearam toda a sua trajetória política muito antes de sua campanha à presidência. Foram desde declarações de cunho machista em tom de piada —quando afirmou, por exemplo, que sua filha seria resultado de uma "fraquejada"— até violências explícitas —quando mandou uma jornalista calar a boca ao perguntar por que ele não usava máscara durante um evento público, em meio à pandemia.

Esses episódios, longe de serem casos isolados, fazem parte da cultura estabelecida pelo atual presidente e se refletem em todas as áreas de seu governo. O orçamento de combate à violência contra a mulher caiu ao menor patamar dos últimos quatro anos. As mulheres foram as que mais perderam empregos durante a pandemia. A legislação sobre direitos reprodutivos das mulheres está mais do que nunca ameaçada. As mulheres negras eleitas são sistematicamente ameaçadas de morte. Essa é a situação das mulheres sob o governo Bolsonaro.
A crise é econômica, sanitária, política e social. E quando falamos em crise é preciso falar em responsáveis e vítimas. De um lado, os milionários, e eleitores de Bolsonaro, acumularam mais capital do que nunca. De outro, o maior e mais vulnerável grupo demográfico do Brasil, as mulheres negras, foram as que mais sofreram os efeitos dessa desigualdade.