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Eu sei o que elas fizeram nos verões passados: musas da luta antigordofobia

Fluvia Lacerda foi uma das brasileiras precursoras a falar sobre o direito de corpos gordos existirem - Reprodução/Instagram/fluvialacerda
Fluvia Lacerda foi uma das brasileiras precursoras a falar sobre o direito de corpos gordos existirem Imagem: Reprodução/Instagram/fluvialacerda

Bárbara Forte

Colaboração para Universa

11/01/2021 04h00

Eu cursava o segundo ano de jornalismo, em 2008, quando percebi que não teria a mesma gama de opções no mercado de trabalho que as outras garotas da faculdade. Amava televisão, foi inclusive onde eu fiz o primeiro estágio. No entanto, uma coisa era certa: a menina gorda jamais teria uma chance em frente às câmeras.

Era a vez do Orkut e o ano em que (pasmem) o Wi-Fi chegou ao Brasil! Imagine que, naquele mesmo 2008 em que a gente escrevia no scrapbook para as amigas conectadas à rede cabeada, já havia um pessoal reivindicando o direito de nossos corpos fora do padrão existirem.

O termo ainda não era gordofobia, não havia uma discussão tão grande sobre esse tema. Mas, se não fossem as mulheres gordas que há 20 anos já lutavam por respeito e amplo acesso, que me inspiraram, eu não teria uma consciência tão grande do meu processo de autoestima.

Flávia Durante é uma delas. Jornalista e criadora da maior feira de moda plus size do Brasil, a Pop Plus, Flávia reunia debates sobre as ausências de roupa, infraestrutura e políticas públicas pensadas para nós, mulheres gordas.

Foi nesta feira, anos mais tarde, que comprei a primeira roupa que eu realmente queria - e não a que me cabia.

A top Fluvia Lacerda já era considerada a "Gisele Bundchen plus size" dentro e fora do Brasil, rechaçando aquela minha ideia de que os holofotes nunca seriam direcionados para nós. E nada de pretinho básico que "emagrece" nas fotos.

No livro "Gorda não é palavrão", de 2017, Fluvia me ensinou a tirar o peso e o estigma da palavra que define apenas uma característica física - assim como "magra" não é elogio. E me fez entender que composição colorida e roupa clara também são direito de corpos diversos.

Elas foram suas próprias referências

Alguns verões antes de conhecermos Alexandra Gurgel - a ativista antigordofobia que Universa entrevistou na seção "Sem Filtro" e elegeu como musa deste verão 2021 - era nos blogs que efervesciam as primeiras referências gordas na internet. Elas, por sua vez, eram suas próprias referências, já que não havia nenhuma representatividade.

"Blog Mulherão" dá nome ao espaço criado pela jornalista e empresária Renata Poskus. Acredita que ela criou o nosso próprio FWPS (Fashion Week Plus Size)? A primeira passarela onde a maravilhosa Rita Carreira, uma das personalidades com menos de 30 anos que foram destaque em 2020 da Forbes, desfilou.

Um berço de pioneiras: "Entre Topetes e Vinis", de Ju Romano, "Sem Tamanho", de Kallina Fonseca, "Criatura GG", de Kátia Ricomini (este pioneiro dos pioneiros, lançado em 2000).

Importantíssimo também foi o 'Poderosas Gordinhas', de Alcione Ribeiro, uma das primeiras mulheres negras a abrir espaço para tantas outras ativistas antigordofobia, como Mel Soares, Luana Carvalho, Carol Santos, Musa Carol, Ana Carolina Andrade, Rayane Souza...

Se Ju Romano estivesse na capa da Capricho nos anos 1990, Brasil, minha adolescência teria sido um tanto quanto menos difícil!

É claro que hoje, em pleno 2021, a gente encontra centenas de mulheres que elevaram a discussão sobre gordofobia. Algumas das blogueiras do passado nem falam mais sobre o assunto. Eu, aos 31 anos, acredito que só consigo encarar o preconceito, o "hate" e me despir de todo medo da vulnerabilidade em uma rede social como o Instagram por causa das gordas que vieram antes.

Como não sou a única, tenho uma lista de @s para você abrir agora no Instagram e começar a seguir. Porque o Orkut já foi extinto há algum tempo!

A elas e à Ju, Fluvia, Flávia e tantas pioneiras deixo aqui meu muito obrigada por me inspirarem tanto!