Emmy Awards 2019: a tendência no tapete vermelho é a diversidade
Talvez eu seja otimista mas, passeando pelas galerias de fotos que reúnem os looks de tapete vermelho do Emmy 2019, é impossível não notar: mais que as cores e os volumes dos vestidos com cara de anos 80 e 90, finalmente parecemos estar vivendo em uma sociedade disposta a celebrar as mulheres em sua diversidade. De cores, corpos, etnias, idades.
O Emmy Awards, o prêmio da tevê norte-americana, chega à sua 71ª edição com a vantagem competitiva de estar no centro da produção audiovisual mundial. Se, antes, participavam do prêmio apenas os novelões popularescos dos canais de tevê e as celebridades para as quais Hollywood não dava a mínima, hoje os finalistas da premiação são as séries distribuídas pelas principais plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime, Hulu. E concentram estrelas de primeira grandeza em seus elencos. O alcance desse conteúdo se multiplica de maneira vertiginosa - e encontra novos públicos, o que permite liberdades nunca antes imaginadas no universo restrito e cheio de regras do cinema.
Ando assistindo, com deleite, à última temporada da série How to Get Away With Murder (puro entretenimento!), que tem Viola Davis, 54 anos, atriz negra, em seu papel principal. Annelise Keating (Viola) é uma professora universitária poderosa e sexy à frente de uma curiosa turma de alunos-estagiários que se metem, como diria a Sessão da Tarde, em altas confusões. Cabe dizer que os melhores da turma de Annelise também são atores negros: Michaela Pratt, vivida por Aja Naomi King, e Gabriel Maddox (Rome Flyng), lindo de doer. O crush de Annelise é o detetive Nate Lahey (Billy Brown), uma montanha de músculos de ébano, mas com alto potencial dramático.
Na fantástica e inquietante Years and Years, série recém-lançada pela BBC inglesa e distribuída, aqui no Brasil, pela HBO, a composição de um casting diverso é tão natural quanto essencial à história que está sendo contada: Ruth Madeley é Rosie, personagem que, assim como a atriz da vida real, é portadora de uma condição física chamada espinha bífida. Nada disso muda o seu bom-humor, o seu apetite por sexo, a sua automestima. A humanidade de Danny (Russel Tovey) é muito mais comovente que o fato de o personagem ser um homem gay. E não há nada relevante, além do relacionamento em si, no casal inter-racial formado por Stephen (Rory Kinnear) e Celeste (T'nia Miller) - aliás, se há algo relevante neste núcleo, é a elegância de Celeste, com seu porte altivo e seus brincos luxentos.
This is Us rendeu a Chrissy Metz, 38 anos, uma mulher obesa, uma indicação ao Emmy e capa de revistas femininas como a americana Glamour. (O peso, no entanto, ainda é um forte componente das pautas em que ela é retratada.) Ao lado dela, brilha o casal formado pelos atores negros Sterling K Brown (que faz Randall) e Susan Kellechi Watson (Beth). Eles são bem-sucedidos, ricos, bonitos.
Em alguns momentos, a diversidade ainda soa reducionista. Nunca vi, em nenhum outro programa, tanta variedade de tipos femininos como em Orange is The New Black, que lançou sua sétima e última temporada em julho último. Consumi todas as sete em ritmo de maratona e vi, maravilhada, a suposta heroína loira-patricinha Piper Chapman (Taylor Schilling) ser devorada por personagens negras, latinas, gordas, magras, baixas, altas, ruivas, cacheadas, de meia-idade, velhas, lésbicas, trans. Em todo o tempo, no entanto, me perguntava se esse espaço só existiu porque, ali, tratavam-se de mulheres presidiárias. Ainda assim, formou-se uma vitrine enorme para um time de atrizes que, talvez, não tivesse outra janela de oportunidade. Quando a gente vê nomes como o da fantástica Uzo Aduba sendo escalados para outros shows - em 2020, ela estará em Mrs América, entendemos a importância da exposição que OITNB proporcionou.
Poderia passar muito tempo aqui lembrando de séries que normalizam a diversidade em suas mais variadas expressões: Scandal, Cara Gente Branca, Grace and Frankie, RuPaul Drag Race, Atlanta, Narcos e até mesmo a adolescente 13 Reasons Why, que embora tenha personagens brancos como protagonistas, lembrou-se de trazer tipos menos óbvios para os papéis de reis da escola e cheerleaders, diferentemente de todas as outras tramas adolescentes.
Ainda não é suficiente, mas é uma clara evolução dos espaços ocupados pelo que ainda era encarado como "diferente". E, diante de Hollywood, que em breve me apresentará uma nova-velha versão de Top Gun, atualizando o bombadinho Tom Cruise (57), mas trocando a estrela da produção original, Kelly McGillis (62), por Jennifer Connely (48 anos), prefiro o belo desfile de variedades do tapete vermelho das séries streamadas.
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