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Opinião: Internet, esse paraíso para gays acharem amor (ou só sexo, mesmo)

Getty Images
Imagem: Getty Images

Meu amigo me contava, em um café, sobre o fim do seu último relacionamento. Como ele parecia querer falar e eu sou curioso, dei corda e perguntei como os dois se conheceram.

"Ah, a gente passou um pelo outro na rua, trocou um olhar e começou ali”, ele respondeu.

A resposta foi chocante, para mim: tímido e meio nerd, mais acostumado a conhecer pessoas  pela internet do que em pessoa.

"Fácil assim? Vocês se viram na rua e começaram a conversar?"

"Ah, não, não...", clarificou meu amigo. "A gente transou antes."

Veja também:

Por conta da falta de jeito, minhas paqueras quase todas começam na vida virtual. Na minha prolongada experiência de solidão e trevas, deu para conhecer bem o perfil de pessoa que frequenta cada aplicativo para conhecer homens. Vou descrever um por um.

Tinder

Aqui moram os moços meigos. Aqueles bonzinhos, que querem conversar por pelo menos 45 minutos antes de começar a falar de sexo.

Quem está por aqui ainda acredita no amor, mas não deixa passar batida aquela foto de um dorso sarado com a descrição "casado em busca de aventuras", afinal, todo mundo precisa se divertir.

Instagram (sim, o Instagram é um app de pegação)

A meiguice também se estende para o âmbito dos caras que não recebem um match, mas encontram sua conta no Instagram e resolvem mandar mensagens por lá, falando como acharam você lindo --e, depois de uma recusa educada, falando como você é horrível, idiota e nunca vai encontrar ninguém.

Happn

Tem mais ou menos o mesmo perfil do Tinder, mas serve exclusivamente para o propósito de fazer login só quando está em um bairro rico, para encontrar outra pessoa sem dinheiro que também só fez login por estar ali de passagem.

Hornet, Grindr, Scruff:

É quase impossível acompanhar o ritmo desses aplicativos mais diretamente ligados à pegação, mas o padrão é quase sempre o mesmo: você tem acesso a uma grade de fotos, vários homens, um ao lado do outro, quase todos sem camisa e sem mostrar o rosto. É incrível como todo mundo é sarado nesses aplicativos. Não há espaço para uma barriga de chope, ainda que metade das descrições diga: "Vamos tomar uma cerveja e conversar".

Bate-Papo UOL:

Aqui começou a maior parte das transas de uma noite só dos anos 1990 e 2000. Esse site foi responsável por mais derramamento de sêmen do que o Viagra do Mr. Catra.

Se você pensa que a tecnologia e os aplicativos para smartphone derrubaram esse pioneiro da poucavergonhagem, ele ainda continua a todo vapor.  Agora, com a opção de conversa privada até com webcam. Acabou a fantasia linda de imaginar a pessoa a partir da descrição que ela faz de si mesma (MLKQUERMLK diz para todos: Moreno, olhos castanhos, 1,69m, 18cm), e ir ao encontro de uma pessoa completamente diferente.

Comentários na internet

Talvez dê para adicionar os comentários de portais de internet a essa lista. Mas aí é por código: Todos os comentários de gente falando que matéria sobre homossexualidade é falta de vergonha na cara, reclamando da ditadura gayzista ou querendo o Bolsonaro para presidente são mensagens em código de pessoas desejando participar de uma grande surubona homoerótica.

Pode confiar.

O que todos têm

Em qualquer lugar da internet, o maior inconveniente são as pessoas que ignoram completamente o que está escrito em seu perfil e já começam a conversa pedindo nudes.
Fora isso, por incrível que pareça, algumas das conversas mais divertidas e sem insanidades demais começam na internet. É um grande boteco com pessoas sem ilusões quanto a encontrar amor: alguns estão desesperados, mas outros são ótima companhia para rir da desgraça.

Mas não adianta: nós estamos em todos os lugares. Com tanta gente solta por aí em busca de alguém, cruzar com um potencial grande amor ou pequena transa é mais fácil do que parece. Basta estar atento… Ou online.

*Flávio Voight é psicólogo e atua como professor