Pretas Geração Z

O que pensam e quais são as lutas de jovens impactadas pelo debate do racismo estrutural e pela ascensão de ícones negros.

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Iza, 30 anos, cantora

"Na escola, faziam piada com o meu cabelo. Eu era a única criança negra, a diferente. Quando questionava minha mãe, ela dizia que as pessoas me olhavam porque eu era linda. Isso me ajudou a criar autoestima e foi primordial na minha vida, mas claro que tive muitas encanações por muito tempo."
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"A luta feminista é diferente da luta das mulheres negras, são histórias diferentes. Conquistamos muito em prol da mulher e da população negra, mas ainda falta muito a se conquistar. Minha esperança é que mais pessoas entendam que essa luta é diária e precisa de todos nós."
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Ray Dawn, 25 anos, estudante de medicina

"Amo minha cor, meus traços e tudo mais. Já passei por momentos de racismo não velado, mas isso nunca me deixou abalada a ponto de querer desistir do meu sonho [de cursar Medicina]."
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"O que eu gostaria de deixar de legado é que se eu consigo, outras meninas pretas também conseguem. O caminho pode ser duro e longo, mas é possível"
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Domenica Dias, 21 anos, atriz

"Uma das formas que eu lido com racismo é tirando das minhas costas as culpas que eu coloco. Tento refletir que essa culpa não foi construída por mim. Foi criada e alimentada para que seja minha, só que não é."
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"Eu tenho uma mãe feminista [a empresária Eliane Dias] e ela foi a principal responsável pela minha criação. Tudo que eu aprendi com ela, eu levo pra diálogos com qualquer pessoa, inclusive com meu pai [o rapper Mano Brown].
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Majur, 24 anos, cantora

"Tenho esperança no que já estou vendo agora. Sou um corpo trans, preto, e que estaria à margem da sociedade há alguns anos. Hoje sou uma artista, cantora, modelo, atriz, apresentadora e posso ser tudo mais que eu quiser."
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"Gostaria que as pautas deste mês fossem das vitórias das pessoas pretas. Chega de mostrar a nossa dor. Quantos jornais e cargos de chefia estamos ocupando? Isso sim tem que estar na mídia no Mês da Consciência Negra e em todos os dias do ano."
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Essa geração dos anos 90 já nasceu conectada e com muito mais acesso à informação. Foram essas meninas que trouxeram à tona o feminismo negro, as primeiras a ter uma estética própria, assumir os cabelos crespos e as primeiras de muitas famílias a cursar um curso superior e chegar à pós-graduação"

Cláudia Nonato
doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP

Dara Santos, 24 anos, estudante de cinema

"Como mãe solo, tenho que mostrar referência para meu filho, ensiná-lo sobre a identidade. Eu já me silenciei em situações racistas porque não sabia como lidar e não quero que ele reaja dessa forma."
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"As pessoas tacham a mulher negra como forte e invencível. Hoje eu tento desapegar dessa imagem, tirar isso de mim e me permitir pedir ajuda, chorar, descansar, sentir preguiça."
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Bielo Pereira, 28 anos, apresentadora

"A individualidade mostra que para além de uma grande irmandade somos plurais e temos excelência para falar e fazer coisas que transpõem a nossa racialidade"
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"Quando me libertei de preconceitos com meu corpo e me entendi como bigênere vi que nem sempre precisamos de uma referência concreta para sermos quem somos. Por outro lado, é uma enorme satisfação saber que posso ajudar no processo de outres jovens"
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Dani Lima, 30 anos, psicóloga e ativista antigordofobia

"Somos uma geração de mulheres pretas que está acordando para suas negritudes e identidades. Isso implica na necessidade de estudo e confronto com o que aprendemos até aqui."
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"Eu acredito e pratico uma vivência onde pessoas pretas são muito mais que suas dores. Não devo (e não vou!) esquecer das dificuldades ou mascarar situações, mas tudo passa por minha ótica de mulher preta e gorda: falo de moda, beleza, maternidade, psicologia, sexo..."
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Josy Ramos, 27 anos, stylist

"As discussões sobre racismo melhoraram muito dos anos 90 pra cá. Ver como os jovens têm ensinado aos mais velhos nesse quesito é inspirador. Olho para minha família e vejo minhas tias usando cabelo natural, as pessoas tirando o termo "cabelo duro" do vocabulário e fico feliz com a diferença que estamos fazendo"
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"Ações sempre falarão mais alto do que palavras. Muitos artistas têm iniciativas incríveis e não ficam usando o discurso só para se promover. Falar na internet sem mover ações offline não é militância, mas há uma certa dificuldade de entender isso."
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Publicado em 18 de novembro de 2020.
Reportagem: Ana Reis Edição: Bárbara dos Anjos Lima Arte: Carol Malavolta