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OPINIÃO

Escapando da chuva, Tomorrowland Brasil dá start e agrada público fiel

David Guetta no Tomorrowland Brasil 2025 Imagem: Divulgação

Amanda Cavalcanti

Colaboração para o TOCA, de Itu (SP)

11/10/2025 16h38Atualizada em 13/10/2025 18h25

O primeiro dia completo de Tomorrowland Brasil, que aconteceu nesta sexta (10) no Parque Maeda, em Itu (SP), continuou agradando seu público fiel. Na estreia da quinta edição do festival no Brasil, que teve todos os 60 mil ingressos do dia vendidos, grande parte dos DJs escalados já haviam se apresentado antes no evento — entregando consistência para um público que vem de todas as partes do Brasil e da América Latina atrás exatamente disto.

O que rolou

Há festivais de música eletrônica ao redor do mundo que competem para incluir no line-up tudo o que há de mais novo e moderno no gênero — por exemplo, o espanhol Sónar, o holandês Dekmantel e o polonês Unsound.

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Não é o caso do Tomorrowland. Criado em 2005, na Bélgica, o festival é conhecido por repetir headliners e oferecer ao enorme público — é estimado que 400 mil pessoas tenham comparecido ao evento no país europeu em julho deste ano — uma experiência e ideia consistente, e por vezes limitada, de música eletrônica.

No caso da edição brasileira, não é diferente. Medalhões do EDM comercial, como Steve Aoki, David Guetta e Armin van Buuren seguem arrastando multidões ao Maeda — mesmo que cada um deles já tenha se apresentado em praticamente todas as edições do evento no Brasil, que aconteceram em 2015, 2016, 2023, 2024 e 2025.

Tomorrowland Brasil 2025 teve ingressos esgotados nesta sexta-feira (10) Imagem: Divulgação

Além da rigidez no line-up, o evento também é conhecido por sua identidade visual marcante: uma estética medieval e naturalesca, cheia de flores e borboletas, palcos escalafobéticos, um show de luzes e queima de fogos.

A previsão para o primeiro dia de festival era de chuva forte, como aconteceu nas edições anteriores — o evento teve que cancelar um dia da edição de 2023, com direito a reembolso. O público da sexta-feira deu sorte: houve momentos de garoa, mas não choveu o bastante para atrapalhar a experiência da rave, que conta com só um palco coberto, o Freedom.

Apesar dos riscos de lamaçal, a localização é um dos pontos fortes do Tomorrowland Brasil. Além do tamanho, que facilita o deslocamento mesmo com a lotação, seria impossível imprimir a mesma atmosfera psicodélica (com luzes piscando nas árvores, tendas de descanso montadas sobre a grama) num lugar coberto de concreto como, por exemplo, o Autódromo de Interlagos.

Outro ponto positivo para o festival é a ausência das grandes ativações de marca — comuns em outros eventos de música, como Rock in Rio e Lollapalooza —, que incomodam, estreitam o caminho e atrapalham a visão. Também diferente dos outros mega festivais, o Tomorrowland reserva espaços preciosos de seu line-up para DJs brasileiros.

Público do Tomorrowland Brasil 2025 Imagem: Divulgação

Foi o caso de Vintage Culture, que fechou a pista Freedom, e Alok, que apresentou seu novo projeto "Something Else" no início da noite. Os dois, inclusive, povoam atualmente a lista anual da revista britânica DJ Mag de 100 maiores DJs do mundo.

Mas nem todos os brasileiros ganham tamanho destaque no line-up, dada a predileção do Tomorrowland por sons mais comerciais. Quem chegou um pouco mais tarde não conseguiu ver, por exemplo, as apresentações de RHR e Cashu, dois DJs paulistas inventivos que rodam o mundo mostrando suas versões de techno underground.

Os dois se apresentaram no começo da tarde no palco Core, um dos mais emblemáticos do festival. Além deles, a DJ paulistana Anna e o italiano Dino Lenny também foram escalados para o espaço, cujo som foge um tanto do óbvio.

Neste ano, o Tomorrowland Brasil contou com dois novos palcos. O primeiro é o Morpho, palco de psytrance em que as performances energéticas dos DJs pareciam valer mais que sua técnica, desde que os drops e kicks continuassem fortes.

Palco coberto do Tomorrowland Brasil 2025 Imagem: Divulgação

O outro é o palco Crystal Garden que, no estilo Boiler Room, permite que parte do público suba num degrau na altura da cabine e assista o DJ por trás. A primeira grande atração do dia no espaço foi o tal Something Else, um novo alter-ego de Alok que, segundo ele disse à imprensa no começo do ano, seria focado numa sonoridade "mais pop".

Logo após o início do set do brasiliense, uma placa de LED na chegada do Crystal Garden avisava que o palco estava lotado. Pelo set, ficou difícil de entender o que Alok quis dizer com "mais pop" — não havia nada de diferente do som já bastante comercial de deep house e EDM que o DJ toca em grandes festivais pelo mundo. Mesmo assim, o som agradou o público, que não ficou para ver as apresentações seguintes, algumas das melhores do primeiro dia de evento: DJ Tennis e Velvet Green, que apostaram em misturas inspiradas de house.

Em busca de um som mais palatável, a maior parte do público se amontoou no palco principal no começo da noite. Os sets conseguintes do holandês Maddix, do britânico John Newman e da dupla de australianas Nervo foram tão insossos que poderiam até se confundir entre si. Uma maionese de techno melódico e house progressivo que pulava de faixa em faixa sem muito cuidado.

Deadmau5 no Tomorrowland Brasil 2025 Imagem: Divulgação

O som começou a ganhar um pouco mais de personalidade no Mainstage com a entrada de Deadmau5. Famoso por tocar usando uma máscara de Mickey gigante, o canadense animou o público com faixas que puxavam mais para o eletro house e dubstep que era grande quando ele começou a tocar mundo afora, no começo dos anos 2010.

Em seguida, o veterano Armin van Buuren fez jus ao seu título de rei do trance, gênero que vem ganhando uma onda de revival na mão de novos DJs europeus.

O palco principal foi encerrado pelo francês David Guetta. Autor de grandes hits dos anos 2010, como "Sexy Bitch" com Akon e "When Love Takes Over" com Kelly Rowland, o celebrado DJ parece um pouco parado no tempo. Tirando o momento em que tocou "Guess", parceria de Charli XCX e Billie Eilish do ano passado, tudo parecia saído de uma década atrás. A impressão é que ele podia ter tocado o exato mesmo set que apresentou em 2015, quando foi parte do line-up da primeira edição do Tomorrowland Brasil.

David Guetta no Tomorrowland Brasil 2025 Imagem: Divulgação

E pelo público tudo bem. Porque o que se espera do Tomorrowland é, exatamente, que seja consistente com aquilo que os frequentadores já querem e já sabem que gostam. Há pouco espaço para experimentação e os riscos que a curadoria toma no line-up são recompensados com palcos semi-vazios.

Essa questão passa longe de ser só do Tomorrowland. No Brasil, temos visto uma diminuição dos festivais midstream, enquanto megaeventos como o The Town atraem multidões usando a mesma lógica de repetir headliners e depender de medalhões da música comercial. O pensamento por trás da curadoria parece ser que, se não tocar na rádio, não vai ter público o bastante para valer a pena trazer.

Na música eletrônica, a situação é até um pouco mais animadora: festivais como Gop Tun têm apostado em nomes um pouco mais arriscados (Nicolas Jaar, Hudson Mohawke) e visto resultado, ainda que com um público menor. Mas eventos gringos mais experimentais, como os próprios Sónar e Dekmantel, que realizaram edições em São Paulo durante os anos 2010, não conquistaram o público esperado e não deram mais as caras no Brasil.

Primeiro dia Tomorrowland Brasil 2025 Imagem: Divulgação

Não é segredo pra ninguém que o mercado latino-americano de música eletrônica é um dos mais quentes no momento. Pela quantidade de bandeiras da Argentina, México, Peru, Uruguai — entre outros países — circulando pelo público nesse primeiro dia de Tomorrowland, o público latino é engajado e investido em seus artistas preferidos. Resta saber se, dentro desse mercado, também há espaço para experimentação e inovação — ou se o público e a curadoria vão seguir apostando em mais do mesmo.

Uma coisa é certa: o Tomorrowland Brasil, assim como seu evento-mãe na Bélgica, terá sucesso por muitos anos. A uniformidade de seu line-up e experiência são, ao mesmo tempo, a força e a limitação do megafestival.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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