'Carranca é como me vejo no palco': Urias renasce em álbum mais brasileiro

A imagem da carranca, esculpida na proa de embarcações para afastar maus espíritos, guia o disco de Urias. Simboliza religiosidade e proteção, mas não só. A julgar pela jornada dessa cantora de 31 anos pelo pop, também carrega outro significado. "É também como eu me vejo na minha trajetória musical: carrancuda. Em cima do palco sou assim."

Depois de cantar em inglês e espanhol no disco anterior "Her Mind", marcado por experimentações eletrônicos, Urais queria voltar a se expressar em português — e, mais do que isso, mirar o Brasil como território simbólico. "Carranca" chega às plataformas nesta terça-feira (7), às 21h, como um espelho: reflete o país, a ancestralidade e a própria artista. "Quis apresentar meu jeitinho de fazer música brasileira", diz.

O disco mistura referências da MPB e do pop, samples e colaborações, tudo pilotado pelos produtores Rodrigo Gorky (diretor musical de Pabllo Vittar) e Nave (que acabou de produzir 'Caro Vapor II', de Don L) — com adição de Zebu e Maffalda.

Urias lança novo disco, "Carranca"
Urias lança novo disco, "Carranca" Imagem: Mateus Aguiar/Divulgação

Nesse garimpo profundo pela música brasileira há belas surpresas, como uma música inédita de Hyldon, "Águas de um Mar Azul", deixada de fora do disco do compositor, "Deus, A Natureza e A Música" (1976).

Na já divulgada "Deus", dueto de Urias com Criolo, a voz poderosa de Inezita Barroso dá contornos épicos. "Essa cantiga foi escolhida por ser folclórica e de pessoas negras escravizadas. A gente quis pegar tudo o que roubaram da gente de volta", diz, se referindo a "Soca Pião", arranjada por José Prates em 1954.

Ainda há espaço para o sample do clássico "O Guarani", da ópera de Carlos Gomes, tema do programa de rádio "A Voz do Brasil", que dá nome à música que encerra o álbum. "Era a abertura de um programa de rádio imposto na ditadura. Então você tinha que ouvir. Então você tem que ouvir essa música, sabe? Nessa música, eu volto para um Brasil solucionado, um Brasil bonito, no final das contas."

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Imagem: Mateus Aguiar/Divulgação

Geração pop de Uberlândia

Na entrevista exclusiva para TOCA, a cantora reflete sobre o novo trabalho e relembra o início da carreira ao lado de Pabllo Vittar. Ambas ajudaram a dar uma guinada no pop brasileiro - e faziam parte de um grupo de amigos artistas, marcado por um pacto.

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"A gente falava: quem conseguir primeiro [ter sucesso], puxa os outros. E quem conseguiu primeiro foi a Pabllo. Ela começou a me apresentar às pessoas, me colocar pra dentro do meio artístico", diz. "Querendo ou não a gente meio que mudou o Brasil":

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Imagem: Mateus Aguiar/Divulgação

Urias começou cantando covers, sem plano de carreira, só por gosto. Entre as canções que reinterpretava, estavam Alcione e O Rappa — tentativas de apresentar à sua geração sons que ela achava, à época, um tanto esquecidos. De alguma forma, seu primeiro passo na música se conecta à nova fase.

"Eu sinto que não sou mais a cantora pop que queria ser quando tinha 13 anos, eu sinto que ultrapassei isso", diz. "Agora tenho outra visão de mundo. Esse álbum me consolida enquanto cantora pop brasileira. É transformador. Sinto que tô no caminho certo comigo mesma."

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