Compositora de Iza e Luísa Sonza, KING Saints critica e faz dançar no pop

Apenas oito meses depois de lançar seu disco de estreia, a rapper KING Saints colocou na rua, na última sexta-feira (30), a versão deluxe "Se Eu Fosse Uma Garota Branca (mas não sou)" com cinco faixas extras — sendo duas completamente inéditas.

O TOCA esteve na audição do álbum e conversou com a King. Compositora requisitada no pop — tendo trabalhado em álbuns de cantoras como Luísa Sonza e Iza —, ela contou sobre a vivência no mercado da música, que culminou em reflexões em seu primeiro disco como artista.

Isso parte de muita observação, de escuta, de entender o mundo de uma ótica específica, e de outras óticas também. Eu tinha um sentimento, mas eu adoraria que as outras pessoas também recebessem com outro sentimento. (...) É meu primeiro álbum, né? Então pra mim tá sendo algo muito gratificante de ver as pessoas virem trazer seus pontos de vista. KING Saints em entrevista ao TOCA

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Imagem: Divulgação

Por dentro do mercado da música

Disco já trazia feats com Karol Conká, MC Soffia, Monna Brutal, MC Danny e Dalua. Das novas faixas, colaboram: SHURY, Tonny Hyung e XAMY em "CADELA 2 — muito late, nunca morde", e Los Brasileros, em "Só uma música triste" — que ela considera seu trabalho mais autobiográfico.

Mesmo abordando temas mais sentimentais, sobretudo sobre vivências negras, KING Saints garante que seu álbum também é divertido: "É um álbum de academia, dá para malhar bastante, dá para malhar com a mão na consciência. Eu acho que é um pouco disso também, é para ser pop, é para ser rap, é para ser urbano, é para ser Duque de Caxias, é para ser baixada."

Ao escutar as faixas, é possível o ouvinte imaginar nomes de celebridades e artistas, do Brasil ou exterior, que se encaixariam nos contextos dados. A própria King pensou em nomes quando compôs: "Eu pensei em muitos nomes, muitos nomes vieram à minha cabeça, mas como eu disse, esse é um álbum também de muita escuta de outras pessoas".

Ele também é um álbum que fala das minhas experiências, mas fala de experiências que estão nas manchetes aí o tempo inteiro. Basta a gente abrir qualquer página direcionada para o público negro principalmente, a gente enxerga dia após dia os mesmos assuntos, as mesmas questões, os mesmos problemas, e os mesmos pedidos de desculpa [feitos por pessoas brancas que 'erraram']. KING Saints

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Com letras sinceras e ácidas que "desenham" o privilégio branco na sociedade, King continua compondo para pessoas brancas: "Fiz [trabalhos] e faço. E eu acho que pessoas brancas que se sentiram incomodadas (...) realmente, muito provavelmente, essa pessoa vai me chamar pra trabalhar com ela. Então, as pessoas com quem eu trabalho, principalmente no momento em que eu me encontro como compositora, pessoas brancas com quem eu colaboro, quem me contratam são eles, sabe?".

Ela lembra que geralmente é a única pessoa negra em espaços de trabalho no mundo da música: "Isso é o que mais me incomoda. Mais do que trabalhar com pessoas brancas, negras, asiáticas. Isso é zero incômodo".

"A ideia da construção da música foi desenhar o óbvio. Quando eu falei assim 'vamos desenhar o que que acontece aqui, ó, pra não dizer que não sabe que isso aqui existe'. A ideia primordial era isso: 'você ainda tem alguma dúvida, tá aqui'. Isso aqui é só mais uma contribuição de algo", explica.

A gente está aqui para realmente trabalhar junto. O que me incomoda é ser uma única pessoa, uma única figura [negra]. Isso é uma coisa que eu acho gritante, que me incomoda. Eu faço um trabalho mínimo de formiguinha, junto com muitas pessoas que também fazem muitos movimentos, para a gente sempre tentar mudar. King Saints

KING Saints une rap com pop em seu primeiro disco, que ganha agora versão deluxe
KING Saints une rap com pop em seu primeiro disco, que ganha agora versão deluxe Imagem: Divulgação

Trabalhos reconhecidos na gringa

Nomeada ao Grammy Latino por discos como 'Doce 22' de Luísa Sonza, e 'Afrodhit', de Iza, King avalia que os dois trabalhos são distintos: "São pessoas que estão aí, são mulheres que estão na batalha e ocupando espaços, cada uma no seu papel ali, e eu acho que é isso, eu acho que eu sou mais uma figura a contribuir nesse grande trabalho".

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Com a Sonza, King lembra que foi uma das primeiras sessões de composição que fez na carreira. "Eram muitas músicas, e ter acertado logo nas duas únicas músicas internacionais desse álbum foi algo que foi bem legítimo pra mim, eu celebrei bastante".

Já com Iza, entrosamento foi tanto que rolou até um feat no álbum com a música "Boombasstic": "Iza é uma deusa, é um amor de pessoas. Ela me deu um feat no álbum dela que foi um presente, assim, que eu não vou esquecer nunca. A troco de nada, ela só decidiu fazer isso. (...) A gente trabalha bastante também, mas [não era] nada em que ela precisasse fazer".

Com muitas sacadas nas composições, King conta que gosta de viver o mundo, como ir para a rua, ver gente e sentar na mesa do bar: "A música também é um caminho de comunicação. Um agente de comunicação muito forte. De tudo. Não é à toa que países investem muito dinheiro em entretenimento. Acho que eu só fiz parte do processo ali do entretenimento, mas é uma verdade que é muito mais profunda".

O trabalho continua para King após o lançamento do deluxe. Há composições no caminho e não apenas para outros artistas, mas para o audiovisual, em novelas e cinema — onde ela vai explorar a veia artística como atriz.

Tô desbravando outros nichos, gêneros musicais, samba da MPB, samba rock, blues, a gente tá fazendo muitas coisas. (...) Quando você é uma artista preta a galera tende a achar uma caixa pra gente, e eu tô tendo a oportunidade de também mostrar que faço outros nichos de música. (...) Eu tô muito feliz de poder explorar isso. King Saints

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