Atração do Popload, St. Vincent volta ao Brasil com pop direto e devastador

Escrever letras como se fossem a representação de um diário pessoal, contando de maneira literal o que ocorre no dia a dia não faz a cabeça de St. Vincent.
O que esta cantora de 42 anos deseja é se expressar por meio de emoções diretas e devastadoras.
É o que ela promete na sua volta ao Brasil como uma das principais atrações do Popload Festival, que acontece no sábado (31) no parque Ibirapuera, em São Paulo.

Quem é ela?
Nascida Anne Clarke, nos Estados Unidos, ela tem mais de 20 anos de carreira e sete discos nas costas. O mais recente, "All Born Screaming" (2024), rendeu a ela dois Grammys: melhor disco alternativo e melhor canção de rock, por "Broken Man".
Em sua trajetória, St. Vincent cria um universo dentro do rock que tem referências múltiplas: David Bowie, Nick Cave, Siouxsie and the Banshees, Talking Heads, Patti Smith e Prince.
Ela canta desde baladas lindas e cortantes ("New York") a faixas art-pop ("Digital Witness"), que lembram Madonna em um convite para a pista de dança ("Fast Slow Disco") e esquisitices deliciosas ("Pay Your Way in Pain").

O que ela disse?
TOCA - Você já lançou vários discos. No show do Brasil vai tocar as músicas de todas as suas fases?
St. Vincent - Tenho uma ideia geral do setlist, até porque, ao montar o show do "All Born Screaming", revisitei meu catálogo para escolher as músicas que ajudam a contar a história que quero apresentar. Tenho um roteiro, mas as coisas mudam de noite para noite, e temos incluído algumas músicas novas. Está sendo muito divertido.
Seus álbuns sempre surpreendem e são musicalmente ricos. Antes de entrar em estúdio para o novo disco, você já tinha um conceito definido?
Acho que música é uma coisa esperta, e às vezes ela mesma te diz o que fazer. Você pode até ter grandes ideias sobre como tudo vai ser, mas, no processo, precisa ser flexível, experimentar, tentar coisas diferentes. No fim, a música te mostra como ela quer ser, e o seu trabalho é não atrapalhar esse caminho. Escrevo sobre o que estou vivendo, tentando entender emocionalmente o que está acontecendo, não de forma literal. Cada disco acaba sendo um retrato de dois ou três anos da minha vida.
Foi uma surpresa ganhar o Grammy com esse álbum?
Não diria que foi a maior surpresa do mundo, mas fiquei muito feliz, principalmente pela companhia em que estava. Na categoria de álbum alternativo, concorri com artistas que admiro muito, como Nick Cave (inclusive o meu nome artístico veio de uma letra dele), Kim Gordon, Brittany Howard e Clairo. São pessoas que admiro, amigos ou referências musicais. Fiquei muito satisfeita de estar entre eles.
Nesta era do streaming e do digital, em que a música está em todo lugar, ainda faz sentido falar em "alternativo" como gênero musical?
Não sei ao certo. Essas categorias existem, mas hoje tudo é muito fragmentado, cheio de microgêneros e nichos. Acho que os prêmios precisam de algum tipo de taxonomia para distribuir os troféus, mas "alternativo" foi uma invenção dos anos 80 ou 90 e, atualmente, não sei se tem o mesmo significado. O centro da cultura se diluiu.
Você lançou uma versão em espanhol do álbum. O que te motivou?
Quis fazer algo especial para os fãs de língua espanhola, porque tive experiências incríveis em shows na América do Sul, México e Espanha. Pensei que seria um gesto de carinho, já que muitos me acompanham mesmo não sendo o inglês sua primeira língua.

Foi difícil gravar em espanhol?
Ah, sim, foi bem difícil. Foi intelectualmente fascinante e emocionalmente interessante perceber como o som das palavras importa tanto. Como o inglês é minha língua nativa, às vezes fico presa demais aos detalhes das letras. Cantar em uma língua em que não sou fluente me conectou mais diretamente à emoção da música, sem me perder tanto nos detalhes.
O que te inspira como compositora? Músicas, experiências pessoais, coisas do cotidiano?
Tudo isso. Com o tempo, tenho me interessado mais por coisas inexplicavelmente evocativas. Não sei direito o que isso pode significar, mas é o que sinto. Gosto de abordagens quase dadaístas para escrever letras. Acho que a cultura, os compositores, ficaram muito? presos à hiper-especificidade, do tipo "eu estava ali, eu fiz isso, depois fui ali". Isso pode afastar o ouvinte. Existimos ao redor do profundo e do mundano. Me interessa mais o que é profundo.
Há pouco vi o Nick Cave tocar no Brooklyn, e cada letra é tão intensa e profunda, mesmo sendo tão simples... Como "todos nós já tivemos sofrimento demais/ agora é hora de alegria" (trecho da música "Joy", de Nick Cave). Há pouquíssimas pessoas que podem cantar isso e te fazer pensar "Eu acredito em você". É como entendo a música: letras que sejam essenciais, diretas e profundamente devastadoras.
Você gosta de como a tecnologia está influenciando o jeito com que os artistas fazem música?
A cada nova tecnologia, músicos criativos descobrem como usá-la a seu favor. Eu mesma uso ferramentas digitais. Quando vou discotecar, já usei inteligência artificial para separar os vocais dos demais instrumentos de uma música, por exemplo. Então há muitos recursos que podem ser usados de forma criativa. No fim das contas, artistas sempre vão fazer arte, independentemente das ferramentas.
Serviço:
Popload Festival
Quando: sábado, a partir das 11h
Onde: parque Ibirapuera, São Paulo
Quanto: a partir de R$ 414
Ingressos à venda pelo site https://sales.ticketsforfun.com.br/#/event/popload-185-114
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