Comunhão e fogo: System of a Down ferve noite gelada no 2º show em SP

Já são 24 anos desde que "Chop Suey!" invadiu minha tela. Os tempos eram outros, a MTV estava bombando e aquela mistura de uma música maluca com um clipe tão doido e energético quanto deu um clique que poucas bandas conseguem dar na minha mente. Não só na minha, mas de toda uma geração. Neste domingo (11), o System of a Down lotou o Allianz Parque pela segunda noite seguida - e a banda ainda tem outro show em São Paulo, quarta (14), em Interlagos.
Dez anos depois da última passagem pelo Brasil, a catarse estava garantida desde o anúncio do show. E, em dias de novo papa, falar em comunhão entre público e banda parece uma boa definição pro que rolou, em um espetáculo em que a pirotecnia mais uma vez foi nas inúmeras rodas das pistas.
O System, ou SOAD para os "íntimos", é daquelas bandas que transcendem um estilo. E isso explica tantos shows em São Paulo. Metal é pouco para definir uma banda que é, digamos, "incopiável". Aliado ao carisma do quarteto armênio está algo básico para eles fazerem tanto sucesso: a força da canção.
E haja canção. Depois de começar a turnê sul-americana com alguns testes, o grupo definiu um set list base com três dezenas de músicas. E são poucas as que não geram reação na plateia. Uma verdadeira maratona para quem bate-cabeça e pula.

Como foi o show?
Quem abriu a noite foi o Ego Kill Talent, com seu rock/metal alternativo — que tem toques de Paramore e riffs de Rage Against the Machine. O grupo brasileiro só ganhou quando acrescentou Emmilly Barreto (do Far From Alaska) nos vocais.
O System abriu às 21h diferente da noite anterior. Saiu "Attack" e entrou "X". A dobradinha "Suit-Pee", primeira música do disco de estreia do SOAD, com "Prison Song", abertura do segundo, "Toxicity" (2001), fizeram as rodas abriram na mesma hora e o coro do público se sobrepor à voz de Serj Tankian.
Uma das coisas mais legais do SOAD é que nem tudo faz sentido, e nem precisa. É como as 2 milhões de pessoas cantando "Abrahadabra", da Lady Gaga, em Copacabana. As letras são nonsense, a música é estranha, mas a conexão é real, seja dançando no meio de "BYOB" - uma das mais festejadas - ou gritando vogais em "I-E-A-I-A-I-O". O importante é se divertir.
"Needles", "Deer Dance", o pula-pula de "Bounce" e, claro "Chop Suey!" levantaram um público bastante heterogêneo - tinha de crianças a senhoras comemorando o Dia das Mães -, e que foi esquentando ainda mais a noite gelada em São Paulo.
Já "Lonely Day" é um respiro no meio de tanto peso, com sua letra sobre solidão cantada por um Allianz Parque lotado.
Se Serj é o cartão de visitas, o guitarrista e também vocalista Daron Malakian é o coração encapetado do SOAD. Ele assume a maior parte da interação com a plateia, chegou a cantar as covers "Careless Whisper" (WHAM!) e "Every Breath You Take" (The Police) e é quem manda a plateia se incendiar.
E foi com fogo que o show acabou. A aguardada "Toxicity" abriu rodas gigantescas, uma emendando à outra e formando um mar de gente pulando. Mais impressionante foi a quantidade de sinalizadores acesos nas pistas, acendendo as rodas e enchendo o ambiente de fumaça e mais calor. "Sugar" veio em seguida, fechando a noite com o público ofegante.
Sair de um show do System of a Down é estar moído, mas em êxtase. Se o quarteto não se entende para lançar novas músicas, que ao menos mantenham a chance de a gente experimentar essa catarse por muitos anos. Afinal, eles resumem exatamente a comunhão entre banda e público que define a experiência de se ver música (pesada) ao vivo.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.