No show de 40 anos, The Cult agrada dos góticos aos ouvintes de rádio rock

Eram 21h46 de um domingão (23) em São Paulo quando o The Cult abriu o show da sua turnê de celebração de 40 anos da banda.
O que aconteceu
Os 16 minutos de atraso causavam assobios de ansiedade na plateia. Menos porque "amanhã era dia de trampo", como gritou um figura, e mais porque a galera sabia do impacto que viria. Fossem os góticos influenciados pelos singles de "Love" nos telões do porão do Retrô, seja quem surtou com as guitarras de "Love Removal Machine" na guinada definitiva ao hard rock em "Electric" ou quem não cansa de ouvir os hits de "Sonic Temple" nas rádios rock da vida.
Ian Astbury e Billy Duffy são daquelas dobradinhas vocal/guitarra clássicas do rock, com química e uma história pra contar. Ian continua cantando com destreza, mesmo não possuindo o alcance de outros tempos. A maturidade faz com que ele se ache na música. Seu pandeiro e sua marra característicos estavam lá. Na cabeça, uma bandana.
Duffy continua impecável. E teve seus momentos guitar hero.

O Cult faz um apanhado de vários discos da carreira, nove mais precisamente, incluindo aí o primeiro, "Dreamtime" (1984), e o último, "Under de Midnight Sun" (2022) —que apareceu com "Mirror", um retorno bonito ao gótico. Para a "nova" música, Ian escalou a plateia no microfone antes de começar a tocar. Mas é com a trinca de discos vencedora que a banda orquestra sem esforço a massa que lota a pista do Vibra.
A primeira a aparecer foi "Wild Flower", de "Electric", logo depois da sequência de abertura, chacoalhando a plateia. A segunda sequência de hits começou com a monumental "Edie (Ciao Baby)" —uma homenagem da banda a Edie Sedgwick, atriz, modelo, socialite e musa de Andy Warhol que morreu aos 28 anos.
Depois veio "Revolution", o 3º single de "Love", o disco que consagrou a banda em 1985 com a mistura de pós-punk, hard rock e elementos da música gótica —melancolia e clima sombrio. "Revolution", aliás, é novidade na tour latino-americana. Ela andava fora do setlist nos últimos shows por EUA, Europa e Oceania no fim de 2024. Por fim, "Sweet Soul Sister" teve seu refrão cantado a plenos pulmões.

O clássico gótico "Rain", também de "Love" e, para muitos portadores de sobretudos pretos, a melhor música da banda, e "Spiritwalker", um hitzão do primeiro disco, encerraram o show antes do bis. A volta foi com a belíssima balada "Brother Wolf, Sister Moon" — mais uma de "Love".
Mas a dupla de hits mais esperada da noite era "She Sells Sanctuary" —o primeiro single de "Love", a mais vendida e mais tocada da banda— e "Love Removal Machine"—o hit de "Electric" e a marca definitiva da guinada do gótico para o hard rock. Se a primeira veio numa versão que causou estranheza e não colocou a pista abaixo como se esperava, a segunda fez seu papel, e, entre luzes vermelhas, a guitarra matadora de Duffy e o coro da plateia, Ian encerrou o espetáculo.
Antes de acabar, o vocalista apresentou cada um dos membros da banda (que tinha também Charlie Jones no baixo e John Tempesta na batera) e recebeu o carinho de ouvir seu nome berrado várias vezes. E, de volta pra casa, o paulistano vai acordar pra trabalhar com The Cult ressoando na mente.
Será uma segunda feliz para o roqueiro. Pode até chover de novo.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.