'Precisa misturar': Violinista americana quer popularizar música clássica

Música clássica não é para todo mundo? Pesquisas mostram que sim, mas tem gente tentando mudar esse panorama. Uma dessas pessoas é a violinista norte-americana Jennifer Stumm, criadora do Festival Ilumina, iniciativa voltada para troca de experiências e fomento da música de concerto.

TOCA conversou com Stumm na Sala São Paulo, a tradicional sala de concertos da capital paulista, no ano em que o Festival completa 10 anos, sobre suas impressões da música clássica no Brasil.

Jennifer fala um pouquinho sobre por que o Brasil e a ideia de criar o Ilumina. Como tudo isso surgiu?

Há muitos anos eu estava tentando achar um novo lar musical para mim. Eu acho que o Brasil tem tudo, é um país com muita diversidade. E essa conexão com a natureza, floresta, biodiversidade, para um artista, tem muito material para ser inspiração.

Quando a gente fala de música clássica, a gente vive em uma realidade em que muitos alunos sonham em estudar na Europa e nos Estados Unidos. E aí você que tem acesso a esses lugares, professora na Áustria também, escolhe estar aqui. Você viu alguma coisa aqui na musicalidade do Brasil?

Eu vi principalmente quantos músicos jovens existem aqui sem oportunidade de se desenvolverem para um nível mais alto, embora eles tenham talento, com certeza.

Acho que essa troca humana, essa troca musical entre músicos do mundo inteiro, com músicos jovens, importa muito para os dois lados, para os dois hemisférios.

Na primeira vez que toquei aqui, no Festival Campos, foi um momento muito forte, porque eu vi muita vontade de se expressar. Então, para mim, música clássica não existe, só tem música boa. E acho que os músicos brasileiros têm essa flexibilidade.

Quer dizer, é possível descolonizar a música clássica, sendo que na verdade é uma música de tradição europeia? Como é que você enxerga essa questão?

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Eu acho que existem histórias boas e histórias ruins. É importante confrontar essas histórias e também misturar mais. O melhor jeito de descolonizar a música clássica é colocar outros tipos de música juntos.

No Festival Ilumina sempre tem MPB, sempre tem outros tipos de inspiração. Eu acho que essa mistura é um jeito muito forte para descolonizar a música clássica. Também [para mudar] a maneira como a gente toca música clássica, é muito antigo, é muito chato para mim.

O festival é uma coisa totalmente diferente porque não tem regras. Tem esses artistas digitais da periferia com muitas ideias incríveis e acho que essa troca é tudo. Troca é entender a realidade de outros. Vai mudar tudo.

Indica para gente alguns artistas, alguns nomes que você acha que estão repensando essa relação.

Tem uma violinista, a Rachell Ellen Wong. Ela é um gênio do violino. Ela representa realmente essa ideia de tocar sem regras, porque ela toca a música barroca, ela toca Michael Jackson, ela toca tudo. O Bruno Lima, aqui do Brasil, que mora atualmente na Finlândia. Ele é compositor e regente também. Ele tem muitas ideias fantásticas, então acho que é o futuro, tem muito brilho.

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