'Sou uma pessoa completamente avariada': Melly detalha produção de 1º disco
Indicada ao Grammy Latino 2024 e artista revelação em 2023 pelo Prêmio Multishow, Melly é uma das vozes mais potentes da atualidade. A cantora baiana de 23 anos se destacou com a faixa "Azul", lançada em 2022 e, logo depois, pôde produzir seu primeiro álbum completo, o "Amaríssima".
Em entrevista a Zé Luiz e Bebé Salvego, no programa No Tom, do UOL, Melly contou como foi produzir o seu disco de estreia. "Amaríssima, ela vai ao amargo, no conceito. Eu não tenho como deixar de ser doce. Minha voz, ela é muito terra, né? Eu sempre fui uma pessoa muito tranquila, apesar de cabeça dura e revoltas."
Por começar muito jovem na música, Melly disse que precisou encarar situações desconfortáveis, e isso a fez desenvolver o seu álbum. "Quando eu tinha uns 17 e 18 anos acabei passando por algumas situações que não eram tão confortáveis assim, que não eram tão legais, justamente porque o trabalho ele te leva para esses novos lugares, essas novas pessoas que nem sempre vão ser confiáveis."
E aí eu escolhi contar sobre esse meu processo de amadurecimento e eu encarei isso enquanto amargo. É muito amargo mesmo a gente sair da inocência de criança e se tornar uma pessoa adulta e entender que nada é platônico como a gente pensa. Melly
A baiana ainda explicou o conceito do disco 'Amaríssima', que possui influências de R&B, de MPB e pop. "Nada é tão bonito, não existe boniteza na boniteza, sempre tem uma parte feia por trás, né? Só que é isso que faz tudo ficar mais bonito também, é o defeituoso que torna uma obra superestimada."
E aí eu quis falar sobre isso no conceito do disco. Aí também ficou com essa dicotomia, porque eu já sou uma pessoa completamente avariada. Melly
'Essa úlcera tá aí pra sempre'
Melly também falou sobre os desafios no trabalho e expôs uma situação que viveu recentemente. "Me pediram para falar duas inspirações minhas. Aí eu queria falar uma mulher e outra mulher, só que uma dessas mulheres eu pude falar, porque era da minha família. A outra mulher, eu já não pude falar porque ia ser uma inspiração que ia levar para outros lugares de assunto e aquela proposta não era para aquele assunto."
Só que se chamou um artista, é para a gente poder passar a mensagem das nossas vozes que a gente carrega aqui, mas eu não pude. Fui cerceada. Melly
A cantora contou que sua vontade era de desistir, mas não podia por fazer parte do processo que almeja. "Eu podia muito bem ter feito assim: 'Então pronto, se lasque. Tchau, fui.' Mas não ia ser inteligente para o processo inteiro, para o que eu almejo, para a posição que eu quero chegar. Aí eu tive que engolir esse sapo, vestir a minha roupa e dar meus pulos."
Faz parte, mas isso vai machucando ali, vai virando uma ferida que você tem que levar para terapia. Não vai sarar, né? Vai ficar ali para sempre. Você vai ter que entender que essa úlcera tá aí para sempre. Melly
'Não cabe mais o silêncio'
Melly, assumidamente bissexual, disse ainda que as pessoas encaram a música dela como uma forma de se sentirem representadas. "Acho que tem surgido essa potência maior agora de fala. Acho que não cabe mais no silêncio esconder essas coisas. Acho que é por isso que também a minha música tem feito tanto barulho."
Nos meus shows eu vejo muita gente parecida comigo, similar a mim, também vejo muita gente diferente. Mas ali eu vejo quem quer ser representado também. Quem tá ali e adora cantar as músicas do feminino, do feminino para o feminino também. Melly
Melly contou como se sente representando a classe LGBTQIA+. "Eu acho que nossa população aqui é bem diversa, né? E a gente precisa de pessoas que representem cada uma delas. Eu acho que a gente já passou desse movimento de silêncio."
No Tom
No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com a cantora Melly:
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