Rap de Kendrick Lamar rouba Grammy que parecia destinado ao pop

A edição que marcou os 67 anos do Grammy chancelou a opção de Beyoncé de invadir a música country, que venceu Álbum do Ano, Melhor Álbum Country, com "Cowboy Carter", e Melhor Performance Country de Dupla ou Grupo, ao lado de Miley Cyrus em "II Most Wanted". E assim Beyoncé chegou a 35 vitórias na história da premiação, tendo também o recorde indicações ao prêmio: 99! Mas ela dividiu a noite com outro dono.

O que aconteceu

Nos principais prêmios da noite, as eleições de Gravação do Ano e Canção do Ano trouxeram uma surpresa na consagração de Kendrick Lamar, que já tinha 17 prêmios Grammy e levou esses que são os mais cobiçados pelas gravadoras. Ele ganhou ao todo gramofones com "Not Like Us", faturando também Melhor Canção de Rap, Melhor Performance de Rap. E a música levou um quinto prêmio, Melhor Vídeo Musical. Suas conquistas mudaram a cara de uma noite que parecia destinada a louvar o pop feminino.

As meninas revelações do ano foram todas contempladas com algum prêmio, sem a fúria arrebatadora que Alicia Keys e Billie Eilish demonstraram nos anos em que chegaram ao estrelato. O pop de Sabrina Carpenter e o rap de Doechii levaram estatuetas, mas a incrível esquisitice musical de Chappell Roan vendeu a disputa acirrada de Revelação do Ano.

Com a cerimônia voltada de forma intensa a arrecadar fundos para ajudar no combate aos incêndios na Califórnia, o Grammy acertou ao abrir a festa com a banda Dawes, grupo que perdeu tudo, inclusive casa e estúdio. Eles se apresentaram ao lado de uma banda de estrelas, que incluía Sheryl Crow e John Legend, e tocaram "I Love LA", um verdadeiro hino à cidade de Los Angeles composto por Randy Newman e sucesso nas paradas nos anos 1980. E, no último bloco, a presença de bombeiros da Califórnia, aplaudidos de pé.

Depois, também na parte final, outro acerto: Lady Gaga e Bruno Mars, que iriam cantar a fraca "Die with a Smile," single que lançaram juntos na temporada passada, optaram por uma versão enxuta e muito boa de "California Dreamin'", hit eterno do The Mamas and The Papas. E, por incrível que pareça, Gaga e Bruninho levaram o prêmio de Melhor Performance Pop de Dupla ou Grupo com "Die with a Smile".

Pena que depois o Grammy tenha pisado na bola ao dar o espaço do aguardado show-surpresa a The Weeknd, uma escolha só justificada pelo aspecto comercial da coisa toda. The Weeknd lançou na última sexta-feira seu novo álbum, "Hurry Up Tomorrow", e nada como o trampolim do Grammy para elevar as vendas. A força do dinheiro, sempre.

Sobre a apresentação longa de Shakira, não deixa de parecer uma defesa, mesmo que tímida, dos imigrantes latinos caçados pelo novo governo americano.

Já a homenagem a Quincy Jones, morto no ano passado, cheia de feras, do quilate de Herbie Hancock e Stevie Wonder, além de uma Janelle Monáe enlouquecida cantando Michael Jackson. Música de verdade. Mas poderia ter sido feita sem um discurso longo e fora de lugar de Will Smith.

Falando em gigantes veteranos, os votantes demonstraram ser garotos que gostam dos Beatles e dos Rolling Stones. Os primeiros venceram por melhor performance de rock, com a canção "Now and Then", que uniu com IA os Beatles vivos e mortos. E os Stones levaram por Melhor Álbum de Rock, pelo realmente muito bom "Hackney Diamonds", melhor disco que Jagger, Richards e amigos fizeram em 40 anos.

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No rock, St. Vincent, que se apresenta no Brasil em maio, no Popload Festival, venceu três das quatro categorias em que concorria: Melhor Canção de Rock, Melhor Performance de Música Alternativa e Melhor Álbum de Música Alternativa, seja lá o que pode significar "música alternativa" em 2025.

Os quatro brasileiros na disputa saíram de mãos abanando: Anitta, em Melhor Álbum de Pop Latino, perdeu para Shakira; Milton Nascimento, concorrendo a Melhor Álbum Vocal de Jazz por sua parceria com Esperanza Spalding; e os dois representantes do país na briga por Melhor Álbum de Jazz Latino, Eliane Elias (que já venceu duas vezes o Grammy nessa categoria) e Hamilton de Holanda, indicado pela primeira vez. Quem sabe em 2026...

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